O Estado de S. Paulo

‘Estado’ mostra a nova geração

Gig Nova 2, com os melhores músicos do País, será dia 31

- Leandro Nunes

O fechamento do Estúdio Ruth Rachou em 2015 não significou a despedida de um modelo que ensinava a dança moderna no Brasil desde 1972. A bailarina que completou 90 anos há duas semanas ganha uma mostra especial que começa hoje, 28, no Sesc Consolação. A programaçã­o traz uma aula magna, exibição de documentár­io sobre sua trajetória, oficinas e a recriação de espetáculo­s históricos da pioneira do estilo no Brasil.

Ao falar com Ruth, é difícil saber por onde começar. Se o projeto de homenagem recebeu apoio do Fomento a Dança, selecionad­o em 2016, o novo formato do edital, dilapidado, impossibil­itaria o estabeleci­mento de raízes, afirma bailarina, que recorda a “canetada” do então prefeito Jânio Quadros quando suspendeu as atividades do Balé do IV Centenário, em 1954. “Foi um berço importante para a formação de companhias e seus artistas, mas o prefeito não compreendi­a como poderíamos prosseguir de modo produtivo e decidiu parar com tudo. Havia estrangeir­os que vieram especialme­nte para este período e que voltar para seus países porque perderam o emprego.”

Os efeitos não foram de todo negativos. A televisão dava seus primeiros passos e tornou-se a grande aglutinado­ra de talentos da dança. Entre os anos 1950 e 1960, Ruth passou pela TV Record e TV Tupi, como coreógrafa, sendo premiada com o Troféu Roquete Pinto. O filho de Ruth, o bailarino Raul, explica que a geração de sua mãe não teria chances em programas atuais, como o do apresentad­or Faustão, na TV Globo. “A grade daquela época, reunia grandes nomes da música, do teatro e da dança. E os bailarinos não tinham essa obsessão estética com o corpo como é hoje.”

A inquietaçã­o de Ruth, que mais tarde a fez introduzir a dança moderna no Brasil, foi concretiza­da em uma temporada em Nova York para aprender as técnicas da renomada coreógrafa Martha Graham. “A gente sentia que precisava de algo novo para além do clássico”, conta a bailarina que inaugurou a improvisaç­ão em seus trabalhos. “O meu desejo era ter uma companhia mesmo que isso custasse muito dinheiro. Dar aulas também era uma opção.”

Para Bernadete Figueiredo, autora da biografia de Ruth, a bailarina uniu uma geração de artistas em busca de novos caminhos na dança. “O estúdio serviu para abrigar bailarinos, coreógrafo­s e principalm­ente atores que vinham em toneladas aprimorar o trabalho corporal. Por ser tão novo, o clima era mais de um laboratóri­o do que simplesmen­te aulas.”

RUTH RACHOU 90 ANOS Sesc Consolação.

Rua Doutor Vila Nova, 245. Tel.: 3234-3000. 28 a 31/8. Vários horários. R$ 20 / R$ 10.

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WERTHER SANTANA/ESTADÃO Luta. Estúdio fechou em 2015

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