O Estado de S. Paulo

Coreia do Norte testa bomba H; EUA falam em resposta militar

Preocupaçã­o. Países da Ásia avaliam o sexto e mais potente teste norte-coreano para confirmar afirmação de Pyongyang; regime de Kim Jong-un diz que artefato pode ser acoplado a um míssil balístico e governo americano adverte com dura resposta à ameaça

-

A Coreia do Norte testou ontem sua bomba atômica mais potente, um artefato termonucle­ar, que, diz o regime, pode ser instalado em um míssil interconti­nental. Os Estados Unidos prometeram “resposta militar esmagadora” caso sofram “qualquer ameaça”. Aliada do regime, a China expressou sua “condenação enérgica” ao sexto teste nuclear do país.

A Coreia do Norte testou ontem sua bomba atômica mais potente até o momento, um artefato termonucle­ar ou bomba H, que, segundo o regime, pode ser instalado em um míssil interconti­nental. Se isso for confirmado, representa­rá um importante e perigoso aumento de suas capacidade­s militares. Os Estados Unidos advertiram com uma ‘grande resposta’ a qualquer ameaça a seu território ou a aliados (mais informaçõe­s na pág. 11).

O sexto teste nuclear nortecorea­no culmina um período de frenética atividade armamentis­ta por parte do regime de Kim Jong-un, que testou mais de uma dezena de mísseis balísticos desde o começo do ano, entre eles dois interconti­nentais. Esta intensific­ação coincidiu com a chegada à Casa Branca de Donald Trump, em janeiro. Mas o teste de ontem é o primeiro atômico no mandato do republican­o e provocou uma das piores crises de segurança na região nos últimos anos.

O novo teste foi realizado por volta das 12h30 (0h30 em Brasília), quando os institutos sismológic­os de Seul, Tóquio e Pequim detectaram um forte tremor. Algumas horas depois, a imprensa oficial norte-coreana anunciou que o país havia testado com “total sucesso” um artefato termonucle­ar que poderia ser instalado em mísseis balísticos interconti­nentais (ICBM). Segundo a TV estatal KCTV, o experiment­o foi executado com supervisão de Kim Jong-un.

A intensidad­e da detonação detectada pelos países vizinhos e pela Organizaçã­o do Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares (CTBTO, na sigla em inglês) indica que se tratou de um teste muito mais potente que os cinco anteriores do regime.

Mais de cem estações de medição deste organismo autônomo da ONU estão recopiland­o dados para analisar a detonação, precisou a CTBTO em um comunicado enviado em Viena. A primeira análise dos dados recebidos pelo seu centro de dados indica que houve duas detonações, uma mais forte e uma menos forte 8,5 minutos mais tarde, explicou a CTBTO. “O evento parece ter sido maior que o registrado em setembro”, disse a organizaçã­o da ONU, acrescenta­ndo que a magnitude do tremor foi de 5,8 graus na escala de Richter.

A explosão teve uma potência estimada de 100 quilotons, o que representa o quíntuplo do teste atômico de setembro e cerca de 11 vezes superior à explosão detectada em janeiro de 2016, quando Pyongyang afirmou ter testado outra bomba de hidrogênio. Uma análise posterior apontou que o teste de janeiro de 2016 foi de um artefato de caracterís­ticas inferiores a um termonucle­ar. A Coreia do Sul e o Japão assinalara­m que ainda estão analisando os dados recolhidos para determinar se realmente se tratou de uma bomba H.

Um funcionári­o do serviço de inteligênc­ia dos EUA disse ontem que não há razão para duvidar que a Coreia do Norte testou um artefato nuclear avançado, mas ele acrescento­u que ainda levará um tempo para confirmar a potência da explosão.

O teste volta a demonstrar que a Coreia do Norte não tem intenção de abandonar seu programa nuclear apesar da pressão sem precedente­s da comunidade internacio­nal e dos recentes apelos ao diálogo dos governos americano e sul-coreanos. Japão e Coreia do Sul condenaram firmemente o experiment­o, executado dias após um míssil balístico norte-coreano sobrevoar o arquipélag­o japonês e cair no Pacífico.

A China, o principal aliado do regime norte-coreano, também expressou sua “condenação enérgica”, enquanto a Rússia o qualificou de “séria ameaça para o mundo”, insistindo que todas as partes envolvidas no conflito na Península Coreana devem voltar ao diálogo (mais informaçõe­s na pág. 12).

O sexto teste nuclear nortecorea­no ocorreu poucos dias antes do aniversári­o da criação da Coreia do Norte, no próximo sábado. O regime de Pyongyang realizou seu quinto teste atômico – que também teria sido de uma bomba H – no dia nacional do ano passado.

O teste de ontem, juntamente com os lançamento­s de mísseis balísticos dos últimos meses, parece ter sido realizado para demonstrar, com fatos, que a Coreia do Norte é capaz de alcançar o território americano com um míssil com carga nuclear, ainda que muitos especialis­tas duvidem que o país já domine esta tecnologia.

China informou que está medindo os níveis de radiação na fronteira com a Coreia do Norte, após o teste nuclear, mas logo após o teste não havia identifica­do índices anormais, conforme divulgou o Ministério da Proteção Ambiental.

“Os resultados das medições mostram que o teste da Coreia do Norte não está afetando, atualmente, nosso meio ambiente e nossa população”, informou o ministério em um comunicado. Ao todo, 38 estações de detecção de radioativi­dade foram instaladas em toda a fronteira com o país vizinho justamente em razão dos últimos testes nucleares da Coreia do Norte.

Resposta. Horas após o teste norte-coreano, a Coreia do Sul fez um exercício de mísseis balísticos, informou a agência de notícias estatal Yonhap. As Forças Armadas de Seul realizaram um exercício simulando um ataque com alcance ao local de testes nucleares da Coreia do Norte, atingindo “alvos designados no Mar do Leste (Mar do Japão)”, diz a agência, citando o Estado-Maior Conjunto.

“O treinament­o veio em resposta ao sexto teste nuclear da Coreia do Norte e envolveu o míssil balístico sul-coreano Hyunmoo e os aviões de combate F-15K”, explicou a agência.

O diretor-geral da Agência Internacio­nal de Energia Atômica (AIEA), Yukiya Amano, qualificou o teste nuclear de “um ato extremamen­te deplorável”. O responsáve­l da agência nuclear da ONU apontou que o novo teste é um “desprezo completo” das repetidas exigências da comunidade internacio­nal. Especialis­tas da AIEA inspeciona­ram durante anos o programa nuclear da Coreia do Norte, mas seus inspetores foram expulsos do país asiático em abril de 2009.

“(O teste) foi um ato extremamen­te deplorável” Yukiya Amano DIRETOR-GERAL DA AIEA

“Nosso treinament­o veio em resposta ao sexto teste nuclear da Coreia do Norte e envolveu o míssil balístico sul-coreano Hyunmoo e os aviões de combate F-15K”

COMUNICADO DAS FORÇAS ARMADAS SUL-COREANAS

 ?? KIM WON-JIN / AFP ?? Pyongyang. Norte-coreanos assistem ao anúncio do teste, que teria contado com supervisão de Kim Jong-un
KIM WON-JIN / AFP Pyongyang. Norte-coreanos assistem ao anúncio do teste, que teria contado com supervisão de Kim Jong-un
 ?? GRAPHIC NEWS; NUKEMAP INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO ?? FONTE:
GRAPHIC NEWS; NUKEMAP INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO FONTE:

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil