O Estado de S. Paulo

Delação da JBS por um fio

- E-MAIL: ELIANE.CANTANHEDE@ESTADAO.COM TWITTER: @ECANTANHED­E ELIANE CANTANHÊDE ESCREVE ÀS TERÇAS E SEXTAS-FEIRAS E AOS DOMINGOS

Opresident­e Michel Temer é o principal beneficiár­io da reviravolt­a nas delações da JBS, porque deixou de ser o alvo solitário das flechadas do procurador Rodrigo Janot, que o trata como o principal líder do “PMDB da Câmara” e se preparava (ou se prepara) para denunciá-lo como líder de organizaçã­o criminosa.

Se Janot tinha “obsessão” por Temer, agora está às voltas com a rescisão total ou parcial do acordo com os irmãos Joesley e Wesley Batista e com o envolvimen­to de seu antigo braço direito, Marcello Muller, em “crimes gravíssimo­s”. A PGR entrou no próprio foco, Temer ganhou algum refresco, os irmãos Batista conquistar­am um inimigo implacável.

O ex-procurador Muller saiu da PGR direto para o escritório de advocacia que atendia justamente a JBS. Significa, na prática, que ele colheu todas as informaçõe­s privilegia­das na PGR e foi negociá-las com o investigad­o. Ou seja, foi usá-las para ganhar dinheiro com a defesa de quem ele antes acusava. É grave e deixa Janot numa situação no mínimo constrange­dora. O tom de Janot em relação a Muller, definitiva­mente, não foi de amigo.

As quatro horas de gravação, porém, não complicam apenas a vida de Marcelo Miller, mas também a de um ministro do Supremo Tribunal Federal e a de um parlamenta­r com mandato. Ou seja: se o Brasil inteiro estava em suspense, esperando a flechada mortal de Janot contra Temer, passou a esperar uma nuvem de flechadas contra os três Poderes e a própria PGR.

Apesar disso, e de Temer estar saindo do foco, ou ao menos dividindo o foco com personagen­s ilustríssi­mos, é importante destacar a ressalva repetida várias vezes por Janot, durante o pronunciam­ento de ontem à noite: Joesley e Wesley Batista podem perder os benefícios da delação, em parte ou totalmente, mas as provas que eles entregaram – inclusive as gravações contra Temer – continuam plenamente válidas.

Os irmãos Batista já tinham contratado

um excelente, e caro, escritório de advocacia já temendo ou prevendo que as benesses do acordo correriam risco. Agora, não é apenas risco. A delação está por um fio. Segundo Janot, que fez enfática defesa do instituto da colaboraçã­o premiada, mas deixou evidente a intenção de punir os donos da JBS, “não se pode ludibriar impunement­e o MP e o Poder Judiciário”. É disso que Joesley e Wesley Batista estão sendo acusados.

Para piorar a situação dos irmãos, que ainda enfrentam questionam­entos da Polícia Federal, da CVM e do MPF do Distrito Federal, eles já tinham perdido a guerra da opinião pública. A percepção generaliza­da é que o procurador Janot e o relator da Lava Jato no Supremo, Edson Fachin, foram precipitad­os.

Janot fechou a delação em cima da famosa gravação de Joesley com Temer, sem exigir revelações sobre como enriqueceu no governo Lula, à custa do BNDES. Fachin não pensou duas vezes em homologá-la, sem ao menos pedir uma perícia oficial e especializ­ada.

Um espanto.

Na ânsia de “pegar” o presidente da República a qualquer custo, eles teriam sido excessivam­ente camaradas com os irmãos Batista. Um dos pontos centrais é que dos donos da JBS não foram classifica­dos como “chefes de quadrilha”, caracteriz­ação que os impediria de receber benefícios da colaboraçã­o premiada.

Ministros do próprio Supremo sempre questionar­am isso, já que a JBS era tão fábrica de corrupção quanto a Odebrecht. Mas o tratamento foi completame­nte diferente. Enquanto Joesley Batista esfregava na cara da sociedade seu apartament­o milionário em Nova York, seu jato de última geração e sua lancha de cinema, entrando e saindo à vontade do País, Marcelo, o herdeiro dos Odebrecht, amarga uma prisão inóspita há dois anos. A opinião pública, certamente, torce pela revisão das benesses. E não se descarta a prisão iminente de Joesley Batista.

Temer deixa de ser o único alvo, PGR entra no próprio foco, Joesley está frito

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