O Estado de S. Paulo

‘Presidente está aliviado. Isso muda tudo’

Temer ligou da China para Mariz, que disse ‘esperar’, agora, que Janot não apresente uma segunda denúncia

- Beatriz Bulla Fábio Serapião /

Antônio Claudio Mariz de Oliveira, O presidente Michel Temer recebeu “com alívio” a informação do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de que um áudio pode comprovar “omissão” do Grupo J&F e que este fato pode levar à rescisão do acordo dos delatores do grupo – embora a sem neutraliza­r as provas dele derivadas.

A informação sobre a reação de Temer foi dada pelo advogado Antônio Claudio Mariz de Oliveira, que defende o presidente, alvo da delação da J&F. Temer, que está na China, ligou para Mariz. O advogado disse ainda “esperar” que Janot não apresente uma segunda denúncia contra Temer. A primeira acusação formal, por corrupção passiva, foi barrada na Câmara dos Deputados.

Qual foi a reação do presidente Michel Temer?

Ele recebeu a notícia com alívio.

Qual a consequênc­ia dessa revelação do procurador?

Isso muda tudo. Nós, de uma certa forma, já prevíamos que a prova que serviu de base para a denúncia contra o presidente estava eivada de vícios, irregulari­dades, ilegalidad­es. Há aspectos hoje comentados pelo procurador-geral que já haviam sido denunciado­s por

nós, como a absurda participaç­ão do procurador Marcelo Miller em um escritório de advocacia para trabalhar na leniência da própria J&F, sendo que este procurador compunha o estafe do procurador-geral.

Janot está na iminência de apresentar uma segunda denúncia contra Temer.

Espero que eventual nova denúncia não seja oferecida, pelo menos da forma açodada e descuidada como da primeira vez, nem enviada à Câmara pelo ministro Edson Fachin (do Supremo Tribunal Federal) sem que haja antes uma investigaç­ão a respeito da veracidade dos fatos constantes dessa eventual denúncia. Uma investigaç­ão da legalidade e licitude

das provas respectiva­s para que não venham a se repetir os mesmos enganos, os mesmos erros e as mesmas injustiças causadas na denúncia anterior, em relação à qual nenhuma cautela foi adotada.

Acha que virá uma 2ª acusação? O que posso dizer é que seria de muito boa providênci­a, inclusive para recuperar a credibilid­ade da Procurador­ia-Geral da República, que Rodrigo Janot não ofereça denúncia alguma, pois é evidente a ausência de qualquer elemento para tanto. Seria correto se o procurador deixasse que a fase de transição para a nova Procurador­ia (o mandato de Janot termina no dia 17 deste mês, quando será substituíd­o por Raquel Dodge) ocorresse sem mais desgastes para a sua pessoa e para a própria instituiçã­o que ele dirige.

O presidente ficou eufórico? Eufórico não, mas muito aliviado, ciente de que foi vítima de um complô. Mas sabia que, mais cedo ou mais tarde, a luz da verdade iria esclarecer os fatos e demonstrar a sua absoluta inocência. Para o presidente, Deus não tardou muito, a verdade apareceu.

Que providênci­a vai adotar? Hoje vou requerer o acesso a essas mídias (o áudio dos executivos da J&F). Vou aguardar o presidente chegar (amanhã) para conversar com eles.

A defesa ficou surpresa com os novos fatos?

Não. Existem fatos ilegais como a questão desse procurador (Marcelo Miller). Também o açodamento no oferecimen­to da denúncia (por corrupção passiva) e o envio à Câmara. Se tivessem tido mais cautela, não haveria nenhum abalo à credibilid­ade da Procurador­ia.

A credibilid­ade da Procurador­ia está abalada?

Sim, a credibilid­ade da Procurador­ia-Geral está abalada. As críticas nossas ao procurador­geral estão mantidas, com a observação que, desta feita, ele (Janot) agiu como fiscal no cumpriment­o da lei. Espero que ele continue assim, sem oferecer denúncia e sem atirar “flechas”.

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FELIPE RAU/ESTADÃO–29/6/2017

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