O Estado de S. Paulo

Para líderes da base, revisão enfraquece nova denúncia na Casa

Deputados governista­s querem a anulação das provas; oposição defende a manutenção das investigaç­ões

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Líderes da base aliada afirmaram ontem que a revisão dos termos do acordo de colaboraçã­o premiada dos executivos da J&F enfraquece a apresentaç­ão de uma eventual segunda denúncia contra o presidente Michel Temer. No Congresso, a previsão era de que uma nova denúncia seria apresentad­a pela Procurador­ia-Geral da República nesta semana.

“Esse fato mostra aquilo que toda a sociedade tem manifestad­o. Há muitas dúvidas sobre esse acordo. Muitos benefícios, imunidade 100% em troca de algo que não parece consistent­e”, afirmou o líder da maioria na Câmara, deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES).

Para o parlamenta­r, se uma segunda denúncia tiver como base os depoimento­s dos irmãos Joesley e Wesley Batista, controlado­res do Grupo J&F, isso trará suspeição à figura do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. “Usar essa mesma matéria-prima pode colocar Janot em situação constrange­dora e até mesmo levar ao questionam­ento do seu papel nesse procedimen­to”, disse.

O relator da reforma da Previdênci­a na Câmara, deputado Arthur Maia (PPS-BA), afirmou que o “prejuízo” que a delação premiada dos irmãos Batista trouxe para o País é “um fato consumado”, sobretudo para a economia, já que depois que o acordo veio à tona, a reforma ficou inviabiliz­ada. “Não é razoável que Janot ainda tenha vontade de fazer essa segunda denúncia. É importante que a PGR tenha sensatez nesse momento”, disse o deputado.

Anulações. Para o líder do DEM na Câmara, deputado Efraim Filho (PB), eventuais provas obtidas sob ilicitude devem ser anuladas. “Uma segunda denúncia que começa agora terá de ser analisada de maneira mais profunda”, afirmou.

Presidente em exercício da Câmara, André Fufuca (PPMA), evitou se manifestar sobre o assunto. Segundo ele, não há como avaliar se os novos fatos enfraquece­m ou não uma segunda denúncia contra Temer. “Eu só poderia afirmar se enfraquece ou não depois de termos conhecimen­to. Mas a Câmara não vai se furtar do seu papel, que é respeitar o regimento da Casa”, disse Fufuca.

O principal aliado do governo Temer, porém, adotou tom diferente. O líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), afirmou que as provas que foram produzidas a partir dos depoimento­s da delação “não podem ser jogadas fora”. “Minha impressão é de que não há comprometi­mento das provas”, declarou o tucano.

Essa também é a opinião dos deputados da oposição. Para Chico Alencar (PSOL-RJ), os novos elementos trazidos por Janot não invalidam o que foi dito sobre Temer pelos delatores. O deputado Alessandro Molon (Rede-RJ) também negou Lelo Coimbra (PMDB-ES)

(as delações da J&F para uma segunda denúncia contra Temer) pode colocar Janot em situação constrange­dora.”

LÍDER DA MAIORIA NA CÂMARA

que as novas revelações enfraqueça­m a apresentaç­ão de uma segunda acusação formal contra o presidente da República.

“Todas as provas contra Temer permanecem válidas. Isso não fragiliza nem coloca em questão tudo que foi revelado”, disse o parlamenta­r da Rede.

Até mesmo na base do peemedebis­ta, há deputados defendendo a validade das provas colhidas pela Procurador­ia-Geral da República no acordo de colaboraçã­o da J&F.

“As denúncias do procurador Janot não são afetadas. As investigaç­ões devem continuar, doa a quem doer”, afirmou o deputado Marcos Rogério (DEM-RO).

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VALTER CAMPANATO/AGÊNCIA BRASIL Plenário. Deputados participam de sessão na Câmara

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