O Estado de S. Paulo

Justiça tem 79,7 milhões de processos sem decisão

Com 1/3 das ações finalizada­s e gastos de R$ 85 bi, juízes custam R$ 47 mil em 2016

- Rafael Moraes Moura Breno Pires

O número de processos à espera de uma decisão da Justiça cresceu 3,6% no ano passado e foi de 76,9 milhões para 79,7 milhões, conforme balanço divulgado ontem pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). No mesmo período, o Poder Judiciário custou R$ 84,8 bilhões, dos quais R$ 75,9 bilhões foram gastos com despesas como remuneraçõ­es, pensões, benefícios e indenizaçõ­es. O aumento em relação ao ano anterior foi de 0,4%.

O custo médio mensal de um magistrado foi de R$ 47,7 mil. No levantamen­to anterior, a média mensal de um magistrado brasileiro – juízes, desembarga­dores e ministros – havia sido de aproximada­mente R$ 46,2 mil. O valor inclui também encargos sociais, benefícios e despesas com passagens aéreas e diárias.

Segundo o levantamen­to Justiça em Números, 27% de todos os processos em tramitação foram solucionad­os no período. Em média, cada juiz brasileiro sentenciou 1.749 mil casos. O balanço compilou dados de 90 tribunais: quatro cortes superiores, cinco tribunais regionais federais, 24 tribunais regionais do trabalho, 27 tribunais regionais eleitorais, 27 tribunais de Justiça e três tribunais de Justiça Militar estaduais.

O custo mensal por magistrado variou entre R$ 8.782, nos tribunais regionais eleitorais, e R$ 53.784 mil, na Justiça Militar. Nos tribunais superiores, a média mensal dos vencimento­s foi de R$ 41.502.

A maior oscilação foi registrada nos tribunais de Justiça estaduais, onde a despesa média por mês com cada magistrado foi de R$ 49.093. Enquanto o Tribunal de Justiça do Piauí apresentou uma média de R$ 23.387, em Mato Grosso do Sul as despesas por magistrado chegaram a R$ 95.895.

Procurado pela reportagem, o TJ-MS informou que os vencimento­s dos magistrado­s “estão dentro do teto constituci­onal”. “Os valores acima do teto referem-se a verbas previstas em lei e são de caráter indenizató­rio, devidas aos magistrado­s há muito tempo”, disse o tribunal.

Para o presidente Associação dos Magistrado­s Brasileiro­s (AMB), Jayme de Oliveira, se houver irregulari­dades, o próprio CNJ vai corrigi-las. “Mas, do que tem saído e a gente tem visto, não tem qualquer ilegalidad­e ou inconstitu­cionalidad­e”, afirmou Oliveira.

O relatório do CNJ destacou que, “apesar da expressiva despesa do Poder Judiciário”, os cofres públicos receberam durante o ano de 2016, em decorrênci­a da atividade jurisdicio­nal, cerca de R$ 39,04 bilhões referentes a cobranças judiciais.

Durante a abertura do 21.º Encontro Nacional do Poder Judiciário ontem, em Brasília, a presidente do CNJ e do STF, ministra Cármen

Transparên­cia.

Lúcia, defendeu a divulgação de dados dos tribunais com transparên­cia. “O Poder Judiciário quer se mostrar para se aperfeiçoa­r e com isso contamos com a colaboraçã­o da sociedade, das academias, dos órgãos. Sabemos que há números que podem ser questionad­os e Cármen Lúcia

“Sabemos que há números que podem ser questionad­os e serão.”

PRESIDENTE DO CNJ E DO STF

LuizFux

“Que nós estejamos atentos para movimentos recentes que procuram enfraquece­r a figura do juiz.”

MINISTRO DO STF

serão”, afirmou Cármen Lúcia.

Juízes. No discurso mais contundent­e da solenidade, o ministro Luiz Fux disse que há movimentos que procuram enfraquece­r a figura do juiz. “Que nós estejamos atentos para movimentos recentes que procuram minimizar, enfraquece­r a figura do juiz e a instituiçã­o do Poder Judiciário”, disse Fux.

“De sorte, que a primeira reação é através de atos de grandeza, sem dúvida alguma. E a segunda é termos a consciênci­a de que a situação que está aí leva o Brasil ao naufrágio e só o Poder Judiciário pode levar a nossa nação a um porto seguro”, afirmou o ministro.

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CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ) NELSON JR./SCO/STF Solenidade. Cármen Lúcia com Dias Toffoli em evento sobre o Judiciário em Brasília

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