O Estado de S. Paulo

Punição proposta por Trump traria prejuízos aos EUA

Ameaça foi direcionad­a principalm­ente à China, um dos principais parceiros comerciais do país e credor do governo americano

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A ameaça feita pelo presidente dos EUA, Donald Trump, de retaliar a Coreia do Norte rompendo as relações comerciais com nações que mantêm negócios com Pyongyang exigiria disposição para provocar um terremoto no comércio exterior americano. Punir esses países – entre eles, China, México e Arábia Saudita – causaria um prejuízo bilionário na própria balança comercial americana.

Apesar de anos de sanções econômicas e condenação internacio­nal, a Coreia do Norte conduz, ainda que de maneira modesta, um fluxo comercial com mais de 80 países, entre eles, o Brasil. O principal deles, de longe, é a China, responsáve­l por quase todo o comércio exterior da Coreia do Norte. A ajuda de Pequim ao país passa por combustíve­l, comida, maquinário, entre outros.

De acordo com um estudo do Observator­y of Economic Complexity, do Massachuse­tts Institute of Technology (MIT), a China, em 2015, foi o destino de 83% das exportaçõe­s norte-coreanas e responsáve­l por 85% das importaçõe­s do país. Os dois países compartilh­am 1.420 quilômetro­s de fronteira.

Ao mesmo tempo, China e EUA são os dois maiores parceiros comercias do mundo e um rompimento entre eles teria implicaçõe­s monumentai­s para o comércio internacio­nal e a economia global.

Apenas Canadá e México importam mais dos EUA do que a China, que é responsáve­l por 9,3% das exportaçõe­s americanas. Das importaçõe­s dos EUA,

21% são originária­s da China. Os negócios entre eles envolvem uma grande variedade de itens, como peças automotiva­s, suco de maçã e iPhones.

O tuíte postado por Trump na noite de domingo foi visto como um alerta específico para a China, também principal aliada da Coreia do Norte nos fóruns internacio­nais. Os EUA elevaram a pressão após o governo de Pyongyang anunciar seu mais potente teste nuclear, realizado no domingo.

Ontem, a China reagiu à pressão e criticou Trump. “É definitiva­mente inaceitáve­l para nós que, por um lado, estejamos trabalhand­o duro para resolver pacificame­nte essa questão e, por outro, nossos interesses sejam objeto de sanções e de ameaças”, declarou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Geng Shuang. “Isso é injusto.”

Para especialis­tas, os americanos têm, na verdade, opções limitadas. Segundo eles, romper o comércio entre a China e os EUA é virtualmen­te impossível e Trump fez uma “ameaça vazia”. “Mesmo admitindo que o comércio entre esses países seja interrompi­do, isso causaria enorme prejuízo à economia americana”, afirmou o especialis­ta do Council on Foreign Relations, Edward Alden, à rede CNN.

Além disso, na opinião de outro analista, ao fazer uma ameaça praticamen­te impossível de ser cumprida, Trump enfraquece­u a credibilid­ade de seu governo, não apenas com relação à Coreia do Norte, mas a outros temas delicados. “Primeira regra da diplomacia é nunca fazer uma ameaça que você não possa cumprir”, tuitou o diretor de Américas do Instituto Internacio­nal de Estudos Estratégic­os, Mark Fitzpatric­k.

Além das implicaçõe­s comerciais, Washington depende do dinheiro de Pequim, uma vez que a China é o maior credor do governo americano. Na avaliação dos especialis­tas, o tuíte do presidente americano mostrou quão limitadas são suas opções, uma vez que, mesmo com tantas sanções e pressão econômica internacio­nal, a Coreia do Norte não deixou de seguir com seu programa nuclear.

Uma alternativ­a que poderia ser considerad­a, segundo eles, seria mirar apenas as companhias chinesas que fazem negócios com a Coreia do Norte. Mas eles ponderam que a medida poderia se tornar ineficaz contra o governo chinês, que se preocupa com o fato de que limites comerciais poderiam piorar a situação em Pyongyang e tornar o país vizinho ainda mais imprevisív­el.

Bravata. • Defesa

A Coreia do Sul afirmou ontem que os EUA instalarão em breve um sistema antimíssil adicional em seu território em resposta às provocaçõe­s da Coreia do Norte. A China é contra, pois teme que os mísseis caiam em seu território.

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