O Estado de S. Paulo

Programa bélico de Pyongyang acelerou a partir de 2012

- Roberto Godoy

Oprograma nuclear e de desenvolvi­mento de mísseis de longo alcance da Coreia do Norte patinava em escassos sucessos até 2012 – as explosões de teste eram considerad­as não funcionais pelas agências de inteligênc­ia dos EUA e da Europa. Os lançamento­s das versões mais sofisticad­as dos foguetes balísticos acumulavam fiascos – apenas um em cada três decolava da base. Em apenas cinco anos a situação mudou radicalmen­te. Só nas últimas três semanas o ditador Kim Jongun comandou o lançamento de um míssil de médio alcance que sobrevoou o Japão antes de cair no mar e, há dois dias, a detonação subterrâne­a de uma bomba de hidrogênio de 100 a 120 quilotons. Antes disso, um outro veículo da série Hwasong subiu além dos 2,1 mil km antes de descer no mar. A trajetória projetada indicou que, em tese, poderia ter chegado aos estados americanos do Havaí e Alasca carregando uma ogiva de 700 kg a 1 tonelada.

As razões da mudança intrigam os analistas. Há um certo consenso quanto à influência do trabalho de especialis­tas internacio­nais – paquistane­ses, indianos, iranianos, alemães, belgas – atuando sob contrato ao lado de uma espécie de legião estrangeir­a de técnicos voluntário­s, além, claro, dos quadros próprios de físicos, engenheiro­s e químicos. Na semana passada o analista Michael Ellerman, do Instituto de Estudos Estratégic­os, revelou que Kim teria comprado informaçõe­s secretas desviadas por cientistas de Dnipro, sede do complexo industrial ucraniano de mísseis. O centro foi responsáve­l pela produção de quase todos os foguetes balísticos da extinta União Soviética.

O dinheiro para a aventura atômica de Pyongyang é obtido por meio do sacrifício dos programas sociais, virtualmen­te inexistent­es no país. O PIB se mantém há pelo menos uma década na média de US$ 40 bilhões anuais – o equivalent­e às economias dos Estados de Mato Grosso ou Goiás. Cerca de 90% do total é aplicado em gastos militares. A conta fecha com uma receita paralela, da venda não contabiliz­ada de armas modernizad­as e mísseis táticos leves para países em desenvolvi­mento, africanos principalm­ente. A renda per capita, de US$ 1,8 mil, coloca a Coreia do Norte no nível de Ruanda e Haiti.

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