O Estado de S. Paulo

Acordo para ressarcir perdas por planos econômicos pode chegar a R$ 16 bilhões

Poupança. Bancos e poupadores se reúnem hoje para tratar do acordo que encerra processos que tramitam na Justiça por quase três décadas; expectativ­a é que os dois lados cheguem a um consenso até o fim do mês e que pagamentos sejam feitos antes do Natal

- Fabrício de Castro /

O ressarcime­nto das perdas na poupança durante os planos econômicos das décadas de 1980 e 1990 deve ficar entre R$ 8 bilhões e R$ 16 bilhões, apurou o ‘Estadão/Broadcast’ com fontes a par das negociaçõe­s. Hoje, representa­ntes de poupadores e bancos voltam a se reunir para discutir o acordo que encerrará ações que tramitam há quase três décadas na Justiça. A expectativ­a é que o acordo seja fechado até o fim deste mês. Assim, os pagamentos poderiam ser iniciados antes mesmo do Natal.

As ações judiciais buscam que os bancos compensem os poupadores pelas perdas provocadas por mudanças nas regras de correção da caderneta de poupança. Essas alterações ocorreram nos planos Bresser, Verão, Collor 1 e Collor 2. O maior montante diz respeito ao plano Verão, enquanto o Collor 2 concentra menos ações. O STF chegou a iniciar um julgamento conjunto sobre os planos em 2013, mas ele foi interrompi­do.

O montante exato ainda será definido a partir da negociação entre a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que fala em nome das instituiçõ­es financeira­s, e o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e a Frente Brasileira pelos Poupadores (Febrapo), que defendem os interesses dos poupadores. As entidades preferiram não comentar, já que a negociação está em andamento.

Fonte próxima às negociaçõe­s afirma que o valor exato dependerá de pontos do acordo que ainda estão em aberto. Entre eles, o porcentual de desconto aplicado sobre os valores a serem recebidos pelos poupadores e a quantidade de parcelas para a quitação dos débitos.

A ideia é que, para valores menores, o pagamento ocorra de uma só vez. No caso de montantes maiores, haveria parcelamen­to. Também é certo que haja Veja os planos que fazem parte da negociação sobre perdas

Bresser •

Lançado no primeiro semestre de 1987, o plano previa congelamen­to geral por 90 dias e, posteriorm­ente, flexibiliz­ação e liberação de preços e salários. Foi estabeleci­do o reajuste da poupança com base na Obrigação do Tesouro Nacional (OTN), cujo valor estava ligado à inflação oficial. Neste

desconto sobre o valor corrigido – condição fundamenta­l para que o acordo seja, de fato, fechado. Nesta dinâmica, os bancos também conseguiri­am fazer frente aos pagamentos, sem prejuízo para as instituiçõ­es.

Outro ponto a ser definido é se incidirá sobre os valores uma caso, tem direito à correção das perdas os brasileiro­s com poupança com aniversári­o de 1º a 15 de junho de 1987

Plano Verão •

Anunciado em janeiro de 1989, estabelece­u congelamen­to de preços, extinção da OTN e da Unidade de Referência de Preços e criação do cruzado novo. Já a atualizaçã­o do saldo da poupança passou a ser feita em fevereiro

multa moratória. Além disso, as partes ainda não chegaram a um consenso a respeito do pagamento aos herdeiros, no caso de o titular da poupança já ter morrido. A questão é especialme­nte delicada consideran­do a idade dos poupadores ainda vivos, boa parte deles hoje com pela Letra Financeira do Tesouro. As perdas são reclamadas por quem tinha poupança com aniversári­o entre 1º e 15 de janeiro. É o plano com mais valores envolvidos

Collor 1 •

Lançado no primeiro dia do governo Collor, em 15 de março de 1990, reintroduz­iu o cruzeiro como moeda e confiscou por 18 meses valores da poupança e da

mais de 80 anos.

Já a discussão sobre a abrangênci­a está avançada. Existem 97 ações coletivas ativas nas mãos do Idec e da Febrapo. Nas várias instâncias da Justiça brasileira, há ainda cerca de 1,1 milhão de ações individuai­s.

O acordo costurado pela conta corrente que superassem Cr$ 50 mil. As ações por correção levam em conta meses de abril e maio de 1990.

Collor 2 •

Iniciado em 1º de fevereiro de 1991, estabelece­u o fim do mecanismo de indexação da economia e do Bônus do Tesouro Nacional – Fiscal. Em seu lugar, foi criada a Taxa Referencia­l. É o plano com menos valores envolvidos

AGU vai encerrar as ações coletivas, que têm como procurador­es as duas instituiçõ­es. Fechado o acordo, os beneficiár­ios nas ações coletivas terão um prazo para apresentar documentos, como extratos bancários, demonstran­do que realmente eram poupadores. Ao mesmo

tempo, será aberto um prazo para qualquer poupador de ação individual aderir e se beneficiar do acordo nos mesmos termos. Como a disputa se arrasta há décadas na Justiça, a expectativ­a é de que a adesão seja maciça, encerrando também a maior parte das ações individuai­s.

 ?? SERGIO CASTRO/ESTADÃO-31/5/2007 ?? Plano Bresser. Em São Paulo, fila de interessad­os em ingressar com ação, em 2007, para recuperar perdas na poupança
SERGIO CASTRO/ESTADÃO-31/5/2007 Plano Bresser. Em São Paulo, fila de interessad­os em ingressar com ação, em 2007, para recuperar perdas na poupança

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