O Estado de S. Paulo

Sob gestão de herdeiro, valor de mercado do Magazine Luiza cresce mais de 30 vezes

Recuperaçã­o. De janeiro de 2016, quando Frederico Trajano assumiu o comando, até agora, valor da rede varejista passou de R$ 392 milhões para R$ 13,2 bilhões; redução de dívida, corte de custos e melhora do consumo explicam desempenho da empresa

- Mônica Scaramuzzo EM BILHÕES DE REAIS

Quando assumiu a presidênci­a do Magazine Luiza no início do ano passado, Frederico Trajano sabia das dificuldad­es que viriam pela frente. Filho da empresária Luiza Trajano, sobrinha da fundadora da companhia, Frederico chegou ao comando do negócio em um momento delicado: o País passava por uma das maiores recessões de sua história e os resultados da varejista e de todo o setor não eram dos melhores.

Com altas dívidas, o valor de mercado da companhia tinha chegado ao fundo do poço, abaixo de R$ 200 milhões, em novembro de 2015. A consultori­a Galeazzi, especializ­ada em reestrutur­ação de empresas, estava em meio a um processo de enxugament­o de custos para tornar a empresa mais eficiente e prepará-la para enfrentar a turbulenta crise econômica e política.

Hoje, embora a economia brasileira ainda ensaie uma retomada, os resultados do Magazine Luiza são completame­nte diferentes. O valor de mercado da companhia fechou cotado ontem a R$ 13,2 bilhões, contra R$ 392 milhões no início de janeiro de 2016, quando Frederico assumiu. O valor é ainda 61% maior que o da sua principal rival, a Via Varejo, avaliada em R$ 8,2 bilhões. O endividame­nto da companhia caiu de R$ 854 milhões em junho do ano passado para R$ 268 milhões no segundo trimestre deste ano e as perspectiv­as do mercado sobre o futuro da rede são otimistas, com bancos recomendan­do a compra de ações da varejista. Luiza Trajano Marcos Gouvêa de Souza

“O mercado via o nome de Frederico Trajano com um certo receio. Essa percepção mudou totalmente”, disse Guilherme Assis, analista de varejo da Brasil Plural. Assis disse que o herdeiro conseguiu fazer a integração das lojas físicas com a plataforma de vendas digital em um momento que outras varejistas faziam o movimento oposto.

“Além da disciplina financeira, a recuperaçã­o das vendas em todas as plataforma­s e a comerciali­zação de produtos de terceiros em seu canal digital (‘marketplac­e’) ajudou nessa retomada”, disse o analista.

“Nunca criei filho para ver a banda passar, mas para tocar junto na banda.”

Fred, como o filho de Luiza Trajano é conhecido no setor, começou a ser preparado em 2014 para assumir o lugar de sua mãe, que preside o conselho da companhia. Marcelo Silva (ex-Bompreço e Casas Pernambuca­nas), presidente executivo do grupo Magazine Luiza à época, começou a moldá-lo para a sucessão. “Criou-se um mito no mercado de que eu preparei o Frederico para assumir a presidênci­a. Quem fez isso, na verdade, foi o Marcelo”, diz Luiza, que é “o lado institucio­nal do Magazine Luiza”.

Segundo a empresária, foi Frederico quem cavou seu espaço na empresa. “Nunca criei filho para ver a banda passar, mas para tocar junto na banda”, disse. Mãe de Ana Luiza Trajano, que é renomada chef gastronômi­ca (ela comanda o restaurant­e Brasil a Gosto) e de Frederico, a empresária disse ao Estado que deu autonomia para que seus filhos seguissem suas carreiras, sem interferir na decisão.

“Quando Frederico decidiu entrar no Magazine Luiza, em 2001 (ele tinha 24 anos), ele se dedicou a criar uma plataforma digital para o negócio e foi para Franca (cidade do interior de São Paulo, onde a companhia foi fundada). Ele apostou na integração das lojas físicas e digital quando todo mundo fazia exatamente o contrário”, disse.

Pequenos detalhes dão o tom do novo gestor. Em abril deste ano, a varejista firmou parceria com a 99 Táxis para que o consumidor leve o produto comprado na loja para casa.

Formado em administra­ção pela Fundação Getulio Vargas

Sucessão.

6,4 7,1 8,1 9,8 9,1 9,5 (FGV), Fred morou fora e foi trabalhar no mercado financeiro antes de chegar ao grupo.

Para Marcos Gouvêa de Souza, especialis­ta de varejo e sócio da consultori­a GS&MD, o lado mais pragmático do herdeiro é uma das principais caracterís­ticas que o difere de Luiza Trajano. “Frederico teve sorte dupla. É competente e foi preparado por Marcelo Silva (vice-presidente do conselho de administra­ção da companhia), que passou por importante­s redes de varejo, como Bom Preço e Casas Pernambuca­nas). Ele pegou a empresa em um momento em que a casa estava sendo arrumada”, disse.

Em outubro de 2015, a empresa tinha feito grupamento de ações (na equivalênc­ia de 8 para uma) para reduzir as oscilações dos papéis da empresa, que estavam cotados a R$ 2 à época. Ontem, a companhia aprovou, em assembleia, o desmembram­ento (de uma para oito), por conta da alta valorizaçã­o dos papéis. A cotação de ontem fechou a R$ 621,79 e passará a valer R$ 77,72. Com menos dívida e a casa arrumada, a companhia não descarta fazer emissão de novas ações no mercado (operação conhecida como “follow on”). A empresa não comenta o assunto.

Para analistas de mercado, o momento é bom para a expansão da varejista e ficará ainda melhor, se a retomada da economia vier para ficar. No entanto, Frederico deve seguir com cautela. Todo o movimento bemsucedid­o feito neste passado recente, diz uma fonte próxima ao grupo, não é garantia de sucesso futuro. Cautela é o nome do jogo em um setor que ainda não ser recuperou totalmente e que depende dos novos rumos político e econômico do País.

EMPRESÁRIA

“Frederico teve a sorte dupla. Primeiro porque é competente. Também por ter sido preparado por Marcelo Silva (hoje vice-presidente do conselho)”

ESPECIALIS­TA DE VAREJO E SÓCIO DA

CONSULTORI­A GS&MD

 ?? BROADCAST E EMPRESA WERTHER SANTANA/ESTADÃO - 19/7/2010 ?? Sucessão. Frederico está na empresa desde os 24 anos
BROADCAST E EMPRESA WERTHER SANTANA/ESTADÃO - 19/7/2010 Sucessão. Frederico está na empresa desde os 24 anos

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