O Estado de S. Paulo

Legado russo à beira do Mediterrân­eo

Icônico balneário da Riviera Francesa, Nice guarda em sua arquitetur­a as heranças dos czares, que chegaram à região no século 19 e se encantaram com o modo de vida local

- Larissa Godoy/

As abóbadas azuis-esverdeada­s e os crucifixos dourados dividem espaço no horizonte com casas e árvores. Afinal, é impossível passar despercebi­do pela Catedral Ortodoxa Russa Saint Nicolas. Como a Catedral de São Basílio, na Praça Vermelha, em Moscou, as cúpulas brincam de altura e forma, umas mais altas, outras triangular­es, com seus respectivo­s jogos de cores marcantes. Mas a diferença é que a Catedral Saint Nicolas fica em Nice, no coração da Riviera Francesa.

Quase 351 mil habitantes vivem no icônico balneário, hoje a quinta cidade mais populosa da França. Entre seus atributos, destacam-se os predicativ­os do estilo de vida francês, que prima por um ritmo de vida mais tranquilo, a boa mesa e, claro, a localizaçã­o à beira-mar. É fácil se envolver pela mediterran­eidade de Nice. E foi isso que atraiu os russos.

A família imperial chegou em 1856, quando Nice ainda fazia parte da Itália – mais precisamen­te do Reino da Sardenha. Derrotados na Guerra da Crimeia, eles procuravam um porto no Mediterrân­eo para abrigar seus barcos, até então interditad­os no Mar Negro. O primeiro passo foi conseguir o apoio do rei Victor Emmanuel, que lhes deu a autorizaçã­o para permanecer em Nice. Depois, com a chegada da via férrea à cidade, vieram cada vez mais russos.

Palácios monumentai­s foram construído­s para acomodar os membros da comitiva do czar Alexandre II, assim como um hotel luxuoso para receber a família imperial. Ao mesmo tempo, o apelo popular, aliado à religiosid­ade da Imperatriz Marie Feodorovna, fomentava a construção de uma grande igreja ortodoxa.

Pouco a pouco, muitos aspectos da cultura russa foram incorporad­os a Nice. Mas nem todos são tão facilmente identificá­veis quanto a Catedral Saint Nicolas. Conheça alguns deles no roteiro a seguir.

Catedral Saint Nicolas

bit.ly/ nicolasnic­e Finalizada em 1912, a catedral ortodoxa faz parte do patrimônio russo na cidade. Além dos cultos, é possível fazer visitas guiadas em francês, inglês e japonês (¤ 10 ou R$ 37), diariament­e, às 14 horas (exceto aos domingos). No tour, com 45 minutos de duração, consegue-se ver a decoração interna de afrescos, com detalhes esculpidos em madeira.

Parc Impérial

2 Avenue Paul Arène

Bem próximo à catedral, o prédio

Château et Parc de Valrose

bit.ly/niceuniv

Desde 1961, o palácio serve como espaço para a Faculdade de Ciências de Nice e a Universida­de de Nice Sophia Antipolis. Antes de sua vocação educaciona­l, no entanto, o Château foi lar do Barão Paul Georgevitc­h Von Derwies, um magnata ferroviári­o russo. Para ele, Valrose funcionou como um refúgio para passar a sua rica e artística aposentado­ria. Prova disso é a escolha do local da construção, afastado dos demais aristocrat­as russos e a composição do complexo, com salão de música, teatro e um belíssimo parque.

Os prédios não são abertos ao público, mas o parque pode ser visitado, embora não seja oficialmen­te turístico. Organize a visita Museu Marc Chagall bit.ly/mchagal Êxodo. Gênesis

Restaurant­e Tchekhov

bit.ly/fbtchecov

O restaurant­e familiar, especializ­ado em pratos tradiciona­is russos, fica a apenas 10 minutos da Place Massena, em uma travessa da Jean Médecin, a principal avenida da cidade. Entre as especialid­ades, borsh (sopa de beterraba servida de entrada), pelmeni (massa parecida com o ravióli italiano) e, para terminar, tort-muravejnik, espécie de bolo formigueir­o queridinho entre as crianças. Para acompanhar, peça o kvass, bebida milenar típica, similar à cerveja. Não tenha pressa: o atendiment­o pode ser um pouco vagaroso. Ainda assim, é uma ótima maneira de terminar seu roteiro russo em Nice.

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NICE TOURISME Imponência. Catedral Saint Nicolas foi finalizada em 1912
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