Bunker dos milhões
Montante, dividido em cédulas de real e dólar, estava armazenado em 6 malas e 8 caixas em apartamento em Salvador ligado a ex-ministro
A Polícia Federal encontrou R$ 51,03 milhões, em cédulas de real e dólar, em apartamento que seria usado pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) em Salvador. A operação, um desdobramento da Lava Jato, investiga suposta organização criminosa que atuava na Caixa Econômica Federal quando o peemedebista ocupava a vice-presidência de Pessoa Jurídica.
A Polícia Federal encontrou ontem o equivalente a R$ 51.030.866,40 em dinheiro em um apartamento em Salvador apontado pelos investigadores como sendo um “bunker” usado pelo ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB). O montante localizado estava armazenado em seis malas e oito caixas de papelão e estava dividido em cédulas de real (R$ 42.643.500) e dólar (US$ 2.688.000). A contagem foi finalizada no início da madrugada.
O cumprimento de mandado de busca e apreensão foi desdobramento da Operação Cui Bono?, deflagrada em janeiro, que investiga a ocorrência de fraudes em liberação de empréstimos da Caixa Econômica Federal. Batizada de Tesouro Perdido, a ação foi autorizada pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10.ª Vara Federal de Brasília.
A operação teve como objetivo avançar na investigação sobre a suposta organização criminosa que atuava na Vice-Presidência de Pessoa Jurídica da Caixa entre 2011 e 2013, período em que Geddel ocupava o cargo. A suspeita dos investigadores é de que o dinheiro encontrado esteja relacionado à propina recebida pelo peemedebista para liberar financiamentos e empréstimos da Caixa a grandes empresas.
Ao autorizar a operação, o juiz Vallisney afirmou que Geddel “estava fazendo uso velado do aludido apartamento, que não lhe pertence, mas a terceiros, para guardar objetos/documentos”. Na decisão, o juiz destacou que a Polícia Federal foi informada por telefone sobre a existência do local.
Em nota, a PF afirmou que o imóvel, que fica na Graça, bairro nobre de Salvador, “seria, supostamente, usado por Geddel Vieira Lima como bunker para armazenagem de dinheiro em espécie”. O proprietário foi identificado pelos investigadores como sendo o engenheiro Silvio Silveira, que teria emprestado o imóvel ao amigo.
Geddel foi ministro de Integração Nacional no governo Luiz Inácio Lula da Silva e titular da Secretaria de Governo na gestão Michel Temer. No ano passado, o peemedebista deixou o governo em meio à acusação de atuar em prol da construção de um edifício em área tombada na capital baiana.
Acusação. O ex-ministro foi preso em 3 de julho em uma das fases da Cui Bono?. Ele chegou ficar detido por 15 dias no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, mas, após decisão do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região (TRF-1) foi autorizado a cumprir prisão domiciliar, em Salvador. Na decisão, o juiz determinou que o ex-ministro deveria usar tornozeleira eletrônica, mas o aparelho está em falta no Estado.
A detenção do exministro foi motivada por suposto embaraço à Justiça relatado pelo doleiro Lúcio Funaro, preso desde julho de 2016. No pedido de prisão, os procuradores da República Anselmo Lopes e Sara Moreira Leite afirmaram que “era possível concluir que Geddel Vieira Lima e a organização criminosa da qual faz parte têm interesse explícito e evidente no silêncio de Lúcio Bolonha Funaro, silêncio esse que, caso mantido, dificultaria a responsabilização criminal de Geddel e seu grupo”. Por causa dessas acusações, Geddel virou réu, em agosto, e responde pelo crime de obstrução da Justiça.
Em depoimento à Polícia Federal, Funaro contou ainda ter entregue “malas ou sacolas de dinheiro” a Geddel. “Em duas viagens que fez, uma para Trancoso e outra para Barra de São Miguel, o declarante fez paradas rápidas em Salvador, para entregar malas ou sacolas de dinheiro para Geddel Vieira Lima”, afirmou Funaro sobre as entregas.
Susto. O edifício onde fica o apartamento que teria sido usado como “bunker” por Geddel foi entregue em janeiro pela construtora Azizune Construções e Incorporações e ainda tem apartamentos à venda. O imóvel com três quartos e uma suíte está sendo comercializado por R$ 600 mil.
O vizinho do apartamento alvo da ação da PF, Eudaldo Barreto, um técnico em segurança ambiental aposentado pela Petrobrás de 71 anos, disse que o susto foi grande quando os policiais chegaram. “Nunca vimos ninguém entrando nesse apartamento, para minha família estava vazio. Fomos surpreendidos pela chegada da Polícia Federal.”
O aposentado lamenta o motivo pelo qual o edifício tenha ficado famoso. “Muitos moradores estão querendo desfazer a compra. Quem estava negociando também resolveu não levar adiante o negócio. Ninguém mais quer morar aqui.”
O Estado entrou em contato com o advogado Gamil Föppel, que representa o ex-ministro Geddel, mas ele não respondeu às ligações até a conclusão desta edição.