Nuzman, do COB, ajudou na compra de votos, diz MPF
Investigação conduzida pela PF em parceria com autoridades francesas aponta ‘fortes indícios’ de que dirigente teve atuação em esquema de propina
O Ministério Público Federal acusou o presidente do Comitê Olímpico do Brasil, Carlos Arthur Nuzman, de ter ajudado na suposta compra de votos que teria dado ao Rio a condição de sede da Olimpíada de 2016. Ele nega.
O presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos de 2016, Carlos Arthur Nuzman, foi acusado ontem pelo Ministério Público Federal (MPF) de ter ajudado na suposta compra de votos que teria dado ao Rio a condição de cidade-sede da Olimpíada de 2016.
A denúncia foi apresentada à Justiça pela Procuradoria da República no Estado, em investigação conduzida em parceria com a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Financeiro da França, que iniciou a apuração em 2015. Os procuradores acusam Nuzman de ter ajudado no repasse, a um dirigente do Comitê Olímpico Internacional (COI), o senegalês Lamine Diack, de dinheiro de um suposto esquema de corrupção que teria sido chefiado pelo então governador Sérgio Cabral Filho (PMDB).
A propina de US$ 2 milhões (cerca de R$ 6,2 milhões) teria passado por conta em Antígua e Barbuda, no Caribe. Papa Massata Diack, filho de Lamine, teria intermediado a negociação e recebido a propina. Lamine teria influenciado outros votos.
A Procuradoria sustenta que “há fortes indícios de que Nuzman teve participação direta nos atos de compra de voto na escolha da sede dos Jogos de 2016 e no repasse da vantagem indevida destinada a Cabral”.
Nuzman foi conduzido à PF para prestar depoimento. Em busca e apreensão realizada em sua residência, no Leblon, a PF apreendeu cerca de R$ 480 mil em dinheiro vivo, divididos em cinco diferentes moedas: real, dólar, euro, libra e franco suíço. Também foram apreendidos documentos e um computador.
Além disso, foi encontrado um passaporte russo, que teria sido obtido por Nuzman como parte de outro esquema de corrupção. Ele está proibido de deixar o País e foi intimado a entregar todos os seus passaportes.
O juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal Criminal, ordenou o bloqueio de R$ 1 bilhão das contas de Nuzman e dos empresários Arthur Menezes Soares Filho e Eliane Cavalcante,
controladores da conta Matlock, em um banco em Antígua e Barbuda. Eles teriam comprado voto no COI em troca de contratos de até R$ 3 bilhões com o Estado. Soares controlava a Facility, intermediária na contratação de mão de obra terceirizada pelo governo estadual.
A operação foi batizada de “Unfair Play” (jogo sujo, em tradução livre). “É um vexame internacional termos um evento sediado a custo de propina e corrupção”, afirmou o procurador Eduardo El Hage, coordenador da Lava Jato no Rio de Janeiro.
Foi determinada pela Justiça a prisão preventiva do empresário, conhecido como “Rei Arthur” e de Eliane. Soares Filho está foragido. Teria fugido de Miami, EUA, onde mora, em um iate. A Interpol foi acionada para achá-lo. A empresária foi presa em seu apartamento em Laranjeiras. São acusados de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
De acordo com El Hage, há indícios de que Nuzman, “Rei Arthur” e Cabral fizeram diversas viagens juntos ao exterior. O objetivo seria articular a compra de votos no COI. Teriam sido pelo menos 15 viagens juntos aos EUA e Europa, entre fevereiro e outubro de 2009.
Outro lado. O COB divulgou nota assinada pelos dois advogados de Nuzman, Sergio Mazzillo e Nélio Seidl Machado. “No depoimento prestado hoje (ontem) por nosso cliente, foi esclarecido e reiterado que toda a jornada olímpica da cidade do Rio de Janeiro, da candidatura à cerimônia de encerramento, foi conduzida dentro da lei e das melhores práticas financeiras, técnicas, operacionais, esportivas e de comunicação”, afirma parte do texto.
O Comitê Organizador Rio2016 não quis se manifestar. O advogado de Cabral, Luciano Saldanha Coelho, afirmou que só vai se manifestar quando tiver acesso à denúncia. A reportagem não localizou as defesas de Arthur e de Eliane Cavalcante. /