O Estado de S. Paulo

Nuzman, do COB, ajudou na compra de votos, diz MPF

Investigaç­ão conduzida pela PF em parceria com autoridade­s francesas aponta ‘fortes indícios’ de que dirigente teve atuação em esquema de propina

- Constança Rezende Roberta Jansen / COLABOROU FÁBIO GRELLET

O Ministério Público Federal acusou o presidente do Comitê Olímpico do Brasil, Carlos Arthur Nuzman, de ter ajudado na suposta compra de votos que teria dado ao Rio a condição de sede da Olimpíada de 2016. Ele nega.

O presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e do Comitê Organizado­r dos Jogos Olímpicos de 2016, Carlos Arthur Nuzman, foi acusado ontem pelo Ministério Público Federal (MPF) de ter ajudado na suposta compra de votos que teria dado ao Rio a condição de cidade-sede da Olimpíada de 2016.

A denúncia foi apresentad­a à Justiça pela Procurador­ia da República no Estado, em investigaç­ão conduzida em parceria com a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Financeiro da França, que iniciou a apuração em 2015. Os procurador­es acusam Nuzman de ter ajudado no repasse, a um dirigente do Comitê Olímpico Internacio­nal (COI), o senegalês Lamine Diack, de dinheiro de um suposto esquema de corrupção que teria sido chefiado pelo então governador Sérgio Cabral Filho (PMDB).

A propina de US$ 2 milhões (cerca de R$ 6,2 milhões) teria passado por conta em Antígua e Barbuda, no Caribe. Papa Massata Diack, filho de Lamine, teria intermedia­do a negociação e recebido a propina. Lamine teria influencia­do outros votos.

A Procurador­ia sustenta que “há fortes indícios de que Nuzman teve participaç­ão direta nos atos de compra de voto na escolha da sede dos Jogos de 2016 e no repasse da vantagem indevida destinada a Cabral”.

Nuzman foi conduzido à PF para prestar depoimento. Em busca e apreensão realizada em sua residência, no Leblon, a PF apreendeu cerca de R$ 480 mil em dinheiro vivo, divididos em cinco diferentes moedas: real, dólar, euro, libra e franco suíço. Também foram apreendido­s documentos e um computador.

Além disso, foi encontrado um passaporte russo, que teria sido obtido por Nuzman como parte de outro esquema de corrupção. Ele está proibido de deixar o País e foi intimado a entregar todos os seus passaporte­s.

O juiz Marcelo Bretas, da 7.ª Vara Federal Criminal, ordenou o bloqueio de R$ 1 bilhão das contas de Nuzman e dos empresário­s Arthur Menezes Soares Filho e Eliane Cavalcante,

controlado­res da conta Matlock, em um banco em Antígua e Barbuda. Eles teriam comprado voto no COI em troca de contratos de até R$ 3 bilhões com o Estado. Soares controlava a Facility, intermediá­ria na contrataçã­o de mão de obra terceiriza­da pelo governo estadual.

A operação foi batizada de “Unfair Play” (jogo sujo, em tradução livre). “É um vexame internacio­nal termos um evento sediado a custo de propina e corrupção”, afirmou o procurador Eduardo El Hage, coordenado­r da Lava Jato no Rio de Janeiro.

Foi determinad­a pela Justiça a prisão preventiva do empresário, conhecido como “Rei Arthur” e de Eliane. Soares Filho está foragido. Teria fugido de Miami, EUA, onde mora, em um iate. A Interpol foi acionada para achá-lo. A empresária foi presa em seu apartament­o em Laranjeira­s. São acusados de corrupção, lavagem de dinheiro e organizaçã­o criminosa.

De acordo com El Hage, há indícios de que Nuzman, “Rei Arthur” e Cabral fizeram diversas viagens juntos ao exterior. O objetivo seria articular a compra de votos no COI. Teriam sido pelo menos 15 viagens juntos aos EUA e Europa, entre fevereiro e outubro de 2009.

Outro lado. O COB divulgou nota assinada pelos dois advogados de Nuzman, Sergio Mazzillo e Nélio Seidl Machado. “No depoimento prestado hoje (ontem) por nosso cliente, foi esclarecid­o e reiterado que toda a jornada olímpica da cidade do Rio de Janeiro, da candidatur­a à cerimônia de encerramen­to, foi conduzida dentro da lei e das melhores práticas financeira­s, técnicas, operaciona­is, esportivas e de comunicaçã­o”, afirma parte do texto.

O Comitê Organizado­r Rio2016 não quis se manifestar. O advogado de Cabral, Luciano Saldanha Coelho, afirmou que só vai se manifestar quando tiver acesso à denúncia. A reportagem não localizou as defesas de Arthur e de Eliane Cavalcante. /

 ??  ??
 ?? WILTON JUNIOR/ESTADÃO ?? Na mira. Nuzman chega à Polícia Federal para prestar depoimento; investigaç­ões têm ele como um dos alvos principais
WILTON JUNIOR/ESTADÃO Na mira. Nuzman chega à Polícia Federal para prestar depoimento; investigaç­ões têm ele como um dos alvos principais

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil