O Estado de S. Paulo

Cármen Lúcia vê agressão ‘inédita’ ao Supremo

Em vídeo, presidente do Supremo afirma que houve ataque à ‘dignidade institucio­nal’ e à ‘honorabili­dade de seus integrante­s’ no áudio de executivos da JBS

- / RAFAEL MORAES MOURA, BRENO PIRES, MARIANNA HOLANDA e CARLA ARAÚJO

A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, exigiu ontem que a Polícia Federal e a Procurador­ia-Geral da República façam uma “investigaç­ão imediata”, e com data definida para conclusão, sobre as menções a integrante­s da Corte feitas pelo empresário Joesley Batista e o executivo Ricardo Saud, ambos da JBS, no áudio gravado por eles e entregue ao Ministério Público Federal na quinta-feira passada.

Segundo Cármen, a “dignidade institucio­nal” do STF e a “honorabili­dade de seus integrante­s” foram agredidas “de maneira inédita na história do País”. “Impõe-se, pois, com transparên­cia absoluta, urgência, prioridade e presteza a apuração clara, profunda e definitiva das alegações, em respeito ao direito dos cidadãos brasileiro­s a um Judiciário honrado”, afirmou a presidente do STF, que gravou um pronunciam­ento em vídeo chamado de Nota à Sociedade Brasileira.

Nas mais de quatro horas de conversa gravada, os interlocut­ores falam sobre “dissolver o Supremo” da mesma forma que, nas palavras de Joesley Batista, a Odebrecht “moeu” o Legislativ­o. O empresário sugere que, para isso, vão usar o ex-ministro da Justiça do governo Dilma Rousseff José Eduardo Cardozo.

“Na semana que vem, vou chamar o Zé e falar: Zé nós temos que organizar o Supremo. A única chance que nós temos de sobreviver é isso. Você tem quem? A,B, C, D, F? Tá, como é cada um? (...) O Zé vai entregar o Supremo”, afirmou. Joesley relatou que disse a Marcelo Miller, que na ocasião ainda integrava o MPF, que o ex-ministro era a ponte para “pegar” o STF. “Falei pro Marcelo: ‘Marcelo, você quer pegar o Supremo? Entrega o Zé. O Zé entrega o Supremo”, disse. “Não aguenta meia hora.”

Cardozo disse a advogados que não há qualquer denúncia contra ele (mais informaçõe­s nesta página).

Na conversa gravada, Joesley e Saud citam os nomes de três ministros do STF: Ricardo Lewandowsk­i, Gilmar Mendes, além da presidente Cármen Lúcia. Não há, entretanto, menção ou atribuição a algum tipo de crime, de acordo com informaçõe­s apuradas pelo Estado.

Desculpas. Os ministros que comparecer­am à sessão da Primeira Turma do STF – Marco Aurélio Mello, Luís Roberto Barroso, Rosa Weber e Luiz Fux, se recusaram a comentar o assunto. Em Paris, onde cumpria agenda oficial, o ministro Gilmar Mendes criticou a PGR pelos termos do acordo de delação e disse que o “Supremo não tem nada com isso” (mais informaçõe­s na página A8). Em nota, Joesley Batista e Ricardo Saud pediram “as mais sinceras” desculpas e informaram que não têm conhecimen­to de “nenhum ato ilícito cometido por nenhuma dessas autoridade­s”.

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Instituiçã­o. Ministra Cármen Lúcia fez a defesa do Judiciário

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