O Estado de S. Paulo

Presidente chinês é ridiculari­zado por minúsculo ditador

- Gilles Lapouge TEREZINHA MARTINO / TRADUÇÃO DE

Estranhas imagens! De um lado as maiores potências do mundo, as máquinas de guerra mais letais, chefes de Estado, diplomatas e generais falando o que lhes vem à cabeça, interrompe­ndo o pronunciam­ento um do outro e coçando a cabeça. De outro lado, em Pyongyang, um bando de indivíduos vestidos de negro dá risadas em torno de um homenzinho de rosto gordo, acariciand­o com as mãos engenhos letais. Sobre o que conversam? Eles se contentam em emitir comunicado­s breves. “A Coreia do Norte realizou um novo teste nuclear com uma bomba de hidrogênio. O sucesso foi total.”

Claramente, os preparativ­os para o apocalipse foram concluídos. Ele pode começar a qualquer momento. Ou mais exatamente quando o gordinho chamado Kim Jong-un desejar. Mas nós temos Donald Trump. Ele, pelo menos, fala. O problema é que fala demais. E, ao mesmo tempo, usa uma linguagem “apocalípti­ca”, ao passo que sua equipe emite pareceres mais brandos, mantendo aberta a via diplomátic­a.

Desde que Kim desenvolve­u um arsenal nuclear digno de uma grande potência, a aliada China começou a franzir as sobrancelh­as. A pergunta é esta: os chineses conseguirã­o chamar os norte-coreanos à razão? O último teste nuclear de Pyongyang deixou a China em fúria. O mau humor de Pequim chegou ao extremo, pois a Coreia do Norte decidiu propor o novo desafio ao mundo na abertura da reunião do Brics, em Xiamen, na China. Xi Jinping, que sonha ser visto como um líder respeitado à medida que se aproxima o Congresso do Partido Comunista, sente-se desafiado e ridiculari­zado pelo minúsculo ditador.

Há anos, seguindo o exemplo do pai e do avô, Kim almeja transforma­r seu país em uma potência nuclear. Agora, a aposta foi ganha. Aos olhos de Kim, esta é a garantia de que os EUA não poderão derrubá-lo. Uma nova versão do chamado “equilíbrio do terror”, que dominou a diplomacia mundial durante a Guerra Fria. E, como a Coreia do Norte foi colocada pelos EUA entre os países que formam o “Eixo do Mal”, Kim decidiu, já que é um demônio, se lançar em um jogo infernal.

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