O Estado de S. Paulo

‘O mundo do crime, sabedor de que a polícia tem poder de fogo, vai se conter’

Secretário não vê irregulari­dade na ação de domingo e considera que crimes no Morumbi podem até ter redução

- Felipe Resk

Dois dias após a morte de dez suspeitos de integrar uma quadrilha de ladrões de residência­s, em um confronto com policiais civis no Morumbi, o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Mágino Alves Barbosa Filho, disse ontem ao Estado que o confronto pode inibir novas ocorrência­s. “O mundo do crime, sabedor de que a polícia tem poder de fogo, vai se conter.”

Qual é a avaliação do senhor sobre a operação no Morumbi? Felizmente, nenhum civil estranho à ocorrência foi ferido. E também nenhum policial foi ferido gravemente. Agora, esse tipo de confronto não é algo que a gente queira. Às vezes, se torna inevitável. Quem buscou o confronto foram os bandidos e, aí, infelizmen­te, tem esse efeito que não era desejado. A meta de qualquer uma das polícias é sempre a prisão, mas a polícia também está preparada para confronto.

Os fuzis usados pelo Deic fazem do policial mais preparado para confrontar um criminoso? Nem todos os policiais usam esse tipo de armamento. Os nossos policiais que usam fuzil têm treinament­o muito rigoroso, em qualquer uma das polícias. O fuzil foi utilizado sem a produção de danos colaterais, então é uma operação que seguiu padrões técnicos.

O boletim de ocorrência diz que os dez mortos sofreram 138 perfuraçõe­s. Nenhum policial teve ferimento grave. Esse cenário põe alguma suspeição?

Não, e me estranha um pouco esse tipo de observação, porque parece que se espera que um policial seja ferido. Os policiais surpreende­m os bandidos, então eles levam essa pequena vantagem. A imprensa, hoje, tem as fotos de vários bandidos usando fuzis para praticar crimes na residência de uma família. A desproporç­ão é uma senhora de 80 anos estar em casa e entrarem bandidos portando fuzis. O Estado reagir com o mesmo tipo de armamento, eu não vejo desproporç­ão. Vejo como uma ação adequada.

Quando o senhor fala que o policial tem uma vantagem, que é a surpresa, é em que sentido? É no sentido de que, se os policiais tomam conhecimen­to que os bandidos estão em processo de fuga, os criminosos só se dão conta depois e têm um encontro com as forças policiais. Essa que é a surpresa.

Os policiais atiraram primeiro? Não. Até onde me relataram, a primeira ação foi dos bandidos: arremesso de carro em cima de uma viatura da polícia.

A Corregedor­ia da Polícia Civil vai instaurar inquérito?

Se houver indícios de excesso praticado por policiais ou de alguma infração administra­tiva, a Corregedor­ia vai atuar. Mas, por ora, o que se está apurando

é um crime de roubo, onde houve confronto de bandidos com policiais, e morte decorrente dessa intervençã­o.

Com a polícia mais armada, a gente pode esperar mais confrontos como este do Morumbi? Não. Eu acredito até que o mundo do crime, sabedor de que a polícia tem poder de fogo, vai se conter nesse tipo de ações mais ousadas. O confronto é sempre a última opção, só que o mundo do crime precisa saber que o policial está preparado, bem armado e pronto para reagir a uma ação delituosa.

Há informação sobre fuga? Não, se falou muito disso, mas não há essa informação.

As vítimas do roubo relataram na delegacia que os criminosos levaram R$ 5 mil e dois relógios. Nada foi devolvido. Como é que explica isso, se não houve fuga? Não sei, a cena do crime pode ter sido prejudicad­a. Não sei.

A investigaç­ão não apontou nenhum indício de irregulari­dade por enquanto?

Não tem nenhum indício. O que tem, hoje, é uma ação policial bem-sucedida, sob o aspecto de que nenhuma das vítimas das ações criminosas sofreu dano físico. E, embora não seja o resultado desejado pelo Estado, o Estado não pode deixar de ter como um resultado possível. Se os criminosos

executam um confronto, eles podem ter um resultado como o dessa ação.

O senhor acredita que a ação pode diminuir a criminalid­ade no Morumbi?

Pode, porque há pessoas que tomam conhecimen­to de um tipo de crime que, às vezes, é bem-sucedido e acham que podem ter sucesso também. Essa quadrilha vinha atuando há bastante tempo no Morumbi.

Era a única de lá?

Pode ser que existam outras. Mas ela vinha causando muito desassosse­go na região.

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HÉLVIO ROMERO/ESTADÃO-19/5/2016 Resultado. ‘Quem buscou confronto foram os bandidos e, aí, infelizmen­te, tem esse efeito’

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