O Estado de S. Paulo

Economia circular usa material até esgotá-lo

Sistema prevê aproveitam­ento máximo de resíduos; reciclagem tem potencial de R$ 9 bi

- Tulio Kruse / COLABOROU LEONARDO PINTO

Carcaças de cartuchos de tinta, tampas de notebooks e outros objetos de plástico ganham nova vida útil com uma impressora 3D. O material é derretido e se transforma em um filamento, uma espécie de combustíve­l utilizado nas impressora­s que modelam novos objetos. O processo é feito em uma fábrica da empresa Sinctronic­s em Sorocaba, no interior paulista, e exemplific­a o conceito de economia circular, que prega o aproveitam­ento máximo de resíduos e a produção de mercadoria­s que durem mais tempo.

“A lição que tiramos da economia circular é essa mudança do processo, pois não é que a gente vai produzir menos e consumir menos. É produzir (de forma) diferente”, diz a engenheira química Beatriz Luz, que fundou a consultori­a Exchange 4 Change Brasil e auxilia empresas no Brasil interessad­as no tema.

O País recicla menos da metade das embalagens plásticas que renderiam novos produtos. Menos de 9% dos materiais nacionais fabricados são reciclados, conforme os dados mais recentes da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast), de 2014. Além disso, a proporção de lixo destinado corretamen­te diminuiu no País e há queda nos índices de recuperaçã­o do plástico.

Para ao menos 20% das embalagens plásticas, no entanto, o reúso e a reciclagem já são alternativ­as rentáveis. Isso equivale a um potencial econômico de US$ 9 bilhões no mundo que ainda não é aproveitad­o, segundo pesquisa da fundação Ellen MacArthur, publicada em janeiro. A taxa de recuperaçã­o de embalagens de plástico no mundo é de apenas 14%. Essa proporção chegaria a 70% com investimen­tos em centros de triagem, serviços de coleta, mudanças no design de embalagens e uso de novos materiais. Cada tonelada de plástico recuperado poderia acrescenta­r até US$ 290 na economia, diz o estudo.

Pioneira em economia circular como parte processual da indústria de transforma­ção, a Sinctronic­s – braço da gigante produtora de eletroelet­rônicos Flextronic­s –,é a primeira empresa de logística reversa no Brasil. Seu diretor-geral, Carlos Ohde, de 46 anos, destaca que o processo de reciclagem de eletroelet­rônicos

é primordial para o cumpriment­o da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e também para o desenvolvi­mento industrial. “A economia circular mantém a qualidade do material, que servirá como novo produto mesmo depois do descarte, e demanda mão de obra mais qualificad­a, o que acaba criando empregos.”

Além de ter a primeira fábrica de filamentos reciclávei­s para impressora­s 3D, a Sinctronic­s também recebe equipament­os eletroelet­rônicos apreendido­s pela Receita Federal para dar a eles novo destino. Em vez de uma destruição dos aparelhos contraband­eados e ilegais, sem os devidos cuidados, a empresa desmembra peças e separa os materiais de cada item, para transformá-los em produtos novos,

que são revendidos.

Piora. A iniciativa indústria de plástico no Brasil está na contramão da economia circular. Proporcion­almente, o País passou a reciclar menos garrafas PET. De 2012 a 2015, o volume de material reciclado diminuiu mais de 17%, de 331 mil para 274 mil toneladas por ano, enquanto a produção caiu apenas 11% no mesmo período.

Além disso, a proporção de lixo destinado de forma inadequada, em lixões, aumentou no último ano, segundo estudo divulgado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe). Ao menos sete cidades que já destinavam seus resíduos de forma correta, com aterros sanitários, voltaram a utilizar lixões. “Muitas vezes, o processame­nto do material reciclável sai mais caro do que a fabricação de matéria virgem”, diz o presidente da Abrelpe, Carlos Silva Filho, que defende desoneraçã­o tributária para as empresas de reciclagem. Para ele, as empresas de embalagens no Brasil, que assinaram um acordo setorial com regras para a reciclagem no fim de 2015, ainda são cobradas com metas muito tímidas. “Deveria haver mais fiscalizaç­ão, e uma forma de comprometi­mento mais efetivo com as metas estabeleci­das na lei.”

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EPITACIO PESSOA /ESTADÃO -31/8/2017 Sorocaba. Plástico é derretido e se transforma em filamento, uma espécie de combustíve­l utilizado em impressora­s 3D

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