O Estado de S. Paulo

Venda de ativos da JBS depende de acordo de leniência

Acordo. Pedido de revisão feito pelo procurador-geral da República Rodrigo Janot não envolve a empresa, cujo acordo corre em outra instância; no entanto, pessoas próximas às negociaçõe­s temem que novos fatos políticos prejudique­m a conclusão das operações

- Renata Agostini Mônica Scaramuzzo

O sucesso do programa de venda de ativos da J&F, dos irmãos Batista, está diretament­e relacionad­o à conclusão do acordo de leniência do grupo, cujas tratativas ainda devem se arrastar pelas próximas semanas. Isso porque os contratos de venda das empresas do conglomera­do, selados de julho para cá, incluem cláusulas que condiciona­m as transações à assinatura dos acordos com as autoridade­s, segundo duas fontes com acesso às negociaçõe­s.

Apesar de o Ministério Público já ter homologado a leniência da holding J&F no mês passado, cada uma das companhias que compõem o grupo tem de aderir formalment­e às tratativas. Vigor, Itambé e Alpargatas já aderiram “sem qualquer pendência”, segundo a J&F. Mas Eldorado e JBS ainda têm de cumprir esse trâmite. A expectativ­a é que ambas finalizem o processo em breve, diz a J&F.

O pedido de revisão de algumas das delações feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não interfere nas vendas, já que a leniência e as colaboraçõ­es são negociadas de maneira independen­te. A leniência, que trata apenas da J&F (e não das pessoas físicas que cometeram crimes), corre em primeira instância e prevê o pagamento de R$ 10,3 bilhões aos cofres públicos.

Executivos próximos aos irmãos Joesley e Wesley Batista afirmam que, por essa razão, não deveria haver risco de prejuízo ao programa de venda de ativos. Mas mostram-se cautelosos. Um deles, que participa da reestrutur­ação do grupo, diz que é preciso acompanhar os desdobrame­ntos do pedido de Janot e os novos fatos políticos nos próximos dias para entender se as transações de venda estão de fato blindadas. As vendas de Eldorado, Vigor e Alpargatas somaram R$ 24,2 bilhões.

Fontes ligadas à canadense Brookfield, que negocia a compra de linhas de transmissã­o da Âmbar, dizem que não há recuo na intenção de fechar o negócio. Salvo surpresas na diligência, a compra deve ser concluída em breve. A expectativ­a é que a transação fique em cerca de R$ 900 milhões.

No sábado, a holding J&F anunciou a venda de seu maior ativo, a Eldorado, para o grupo Paper Excellence, da família indonésia Widjaja, que também é dona da Asia Pulp & Paper (APP), por R$ 15 bilhões. Fontes próximas às negociaçõe­s afirmaram ao Estado que se, em última hipótese, o acordo de leniência não for homologado, há estruturas jurídicas que podem proteger o comprador de eventuais riscos. Essa fonte já dá como certo o atraso da homologaçã­o.

Bancos. Os credores acompanham com atenção os novos capítulos da crise nos negócios dos Batistas. O acordo de alongament­o de dívidas, que deu prazo maior à JBS para o pagamento de R$ 20,5 bilhões, está sacramenta­do, nas palavras de um banqueiro que participou do acerto e não será alterado diante da turbulênci­a gerada pelos novos áudios. O executivo diz, porém, que o episódio dificulta as chances da empresa de conseguir crédito novo na praça. O acordo envolve um grupo de 14 bancos, entre eles Bradesco, Santander e Banco do Brasil – o Itaú fez um acerto à parte para renegociar R$ 1,2 bilhão.

Wesley em xeque. Outro ponto levantado por fontes do mercado financeiro é a permanênci­a de Wesley Batista à frente da companhia. O grupo de alimentos e o Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) travam uma disputa societária.

O banco tornou pública a intenção de votar em assembleia geral extraordin­ária pela saída do empresário da presidênci­a da JBS por entender que as delações da família implicam em danos à companhia. As duas partes entraram na Justiça, a assembleia foi adiada e o caso foi para arbitragem. O pedido de Janot deve dar mais munição ao banco e a minoritári­os. As ações ordinárias da JBS fecharam em queda de 8,28%, a R$ 7,87, a maior baixa do Ibovespa.

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CHELLO/FRAMEPHOTO - 5/9/2016 Em queda. As ações da companhia caíram 8,3% na Bolsa

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