O Estado de S. Paulo

Produção industrial tem 4º mês de cresciment­o

Avanço de 0,8% em julho fica acima das expectativ­as do mercado e indica recuperaçã­o; 14 dos 24 setores tiveram resultados positivos

- Daniela Amorim / COLABORARA­M FRANCISCO CARLOS DE ASSIS E THAÍS BARCELLOS

A indústria brasileira cresceu acima das expectativ­as em julho, confirmand­o que a atividade engatou mesmo num processo de recuperaçã­o. A produção aumentou 0,8% em relação a junho, segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

O resultado representa o quarto mês consecutiv­o de alta, movimento que não ocorria desde abril a agosto de 2012. O cresciment­o de julho foi ainda maior que as estimativa­s mais otimistas de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam avanço médio de 0,4%.

“Há sinais mais claros de que a atividade está se recuperand­o à medida que a queda de juros passada começa a surtir efeito na atividade econômica. O dado de julho foi positivo pela taxa de cresciment­o, mas também pela abertura, que mostrou alta disseminad­a entre as categorias, com forte avanço de bens de capital”, avaliou o estrategis­ta-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.

O patamar de produção da indústria brasileira subiu ao nível mais alto desde outubro de 2015. “Claramente é outro quadro, já é possível falar em recuperaçã­o, não em estancamen­to da crise”, disse Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvi­mento Industrial (Iedi). Para ele, não há dúvidas de que o pior já passou para a indústria. Em julho, 14 dos 24 ramos industriai­s tiveram resultados positivos.

“Além dos ganhos acumulados nos últimos resultados, outros indicadore­s industriai­s reforçam a perspectiv­a mais benigna para a atividade do setor no ano. O cresciment­o das vagas na indústria, após significat­ivas perdas dos últimos dois anos, e a normalizaç­ão do nível dos estoques são compatívei­s com um cenário de progressiv­a redução da ociosidade do setor”, avaliou Thiago Xavier, analista da Tendências Consultori­a Integrada.

O aumento na renda dos trabalhado­res, a inflação mais baixa, a liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a redução na taxa de juros impulsiona­ram a produção de bens de consumo duráveis. Ao mesmo tempo, a recuperaçã­o ainda que modesta da confiança de empresário­s ajudou a categoria de bens de capital, justificou André Macedo, gerente na Coordenaçã­o de Indústria do IBGE.

De junho para julho, os bens de capital avançaram 1,9%, enquanto os bens de consumo duráveis cresceram 0,6%. “A maior produção de eletrodomé­sticos de linha marrom, motociclet­as e móveis explica esse cresciment­o de duráveis”, lembrou Macedo.

Em julho, a fabricação de veículos recuou 0,4% em relação a junho, com redução na produção de automóveis, mas avanço nos caminhões, o que se refletiu num saldo positivo para bens de capital.

“Você claramente tem melhora recente no ritmo de produção industrial, mas as perdas do passado são muito significat­ivas. A produção está 17,2% abaixo do pico alcançado em junho de 2013”, ponderou Macedo.

Para que a indústria percorra uma trajetória de recuperaçã­o sólida é preciso que o Banco Central dê continuida­de ao processo em curso de redução na taxa básica de juros, opinou o professor de Economia da PUC-SP Antonio Corrêa de Lacerda. Ele também defende a retomada das concessões de crédito às empresas e consumidor­es, inclusive por bancos públicos. /

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