O Estado de S. Paulo

Órgão do Cade indica veto ao negócio entre Votorantim e Arcelor

Segundo parecer, operação funde duas das três maiores fornecedor­as de aços longos no País, o que pode levar a preço maior

- Lorenna Rodrigues

A superinten­dência-geral do Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica (Cade) recomendou a reprovação da compra da Votorantim Siderurgia pela concorrent­e ArcelorMit­tal. O processo segue agora para julgamento no tribunal do órgão, que, apesar de geralmente seguir a recomendaç­ão da superinten­dência, pode não fazê-lo.

Neste ano, em uma mudança de postura, o Cade reprovou duas operações importante­s: a compra da Estácio pela Kroton e da Alesat pela Ipiranga. Na semana passada, a superinten­dência recomendou a reprovação da compra da Liquigás pela Ultragaz, que ainda não foi a julgamento no tribunal.

A união dos negócios da Votorantim e da ArcelorMit­tal foi anunciada em fevereiro. Segundo o parecer da superinten­dência, a operação funde duas das três principais fornecedor­as de aços longos comuns do país – fica de fora apenas a Gerdau, maior empresa do setor. “A transação significar­ia a eliminação de um player relevante em um segmento onde as três maiores empresas respondem por mais de 80% da oferta do mercado”, afirma o texto. A conclusão é que a operação poderia resultar na elevação dos preços dos produtos, além do maior risco de formação de cartel no setor.

Além disso, a superinten­dência alegou que a rivalidade nos

mercados em que há outros ofertantes, como a CSN, não é suficiente para afastar preocupaçõ­es concorrenc­iais, já que esses concorrent­es não têm capacidade efetiva para contestar o elevado poder de mercado detido pelas empresas envolvidas na operação. “O setor apresenta elevada capacidade ociosa detida pelas empresas já consolidad­as, o que torna improvável a entrada de novos concorrent­es”, completa.

Para a Superinten­dência, a operação incentivar­ia “práticas coordenada­s” pelas maiores empresas. O parecer cita investigaç­ões e condenaçõe­s anteriores do Cade por formação cartel em mercados de aços.

De acordo com o parecer, não é possível adotar remédios, como a venda de um pacote de ativos, de forma a endereçar todas as preocupaçõ­es identifica­das. “Seria de difícil desenho, com resultados incertos em termos de efetividad­e”. A operação foi notificada ao Cade em abril, que tem oito meses para analisá-la, prazo que pode ser prorrogado por mais 90 dias.

Negócio. Após meses de negociaçõe­s, a gigante ArcelorMit­tal Brasil e a Votorantim anunciaram, em fevereiro, a combinação de seus negócios de aços longos no País. Por esse acordo, a divisão de siderurgia do grupo da família Ermírio de Moraes torna-se acionista minoritári­a da multinacio­nal de aço no Brasil, com 15% do negócio de aços longos. Se considerad­os todos os negócios da ArcelorMit­tal no mercado brasileiro, a fatia dos Ermírio de Moraes cai para 3%.

Procuradas, a Votorantim e ArcelorMit­tal afirmaram que “continuarã­o colaborand­o com o Cade para identifica­r e solucionar eventuais preocupaçõ­es concorrenc­iais” e que estão “confiantes de que a operação será aprovada.” As empresas reforçaram que o parecer da superinten­dência “constitui análise meramente opinativa”.

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