O Estado de S. Paulo

PANES NA ELETRÔNICA PODEM ACARRETAR DEFEITOS EM CASCATA

Instalação de acessórios, pancadas e enchentes estão entre as causas

- Thiago Lasco thiago.lasco@estadao.com

ABS, ESP, EBD, TCS, ACC... Cada vez mais, essas siglas fazem parte do recheio tecnológic­o dos carros. São recursos eletrônico­s que, entre outras funções, mantêm o veículo sob controle em curvas, garantem a aderência ao solo, evitam que a carroceria deslize em declives e previnem o travamento das rodas em frenagens bruscas. Mas esses sistemas podem apresentar falhas, com reflexos em outros, num efeito cascata.

Cada dispositiv­o é gerenciado por um módulo, tipo de unidade eletrônica de comando. E todos são interligad­os em rede, o que permite “conversare­m” entre si. De acordo com o engenheiro mecânico e proprietár­io da oficina Motor-max, Rubens Venosa, uma pane no ABS ou no módulo do controle de estabilida­de pode resultar em corte de potência do motor: “Caso o sistema detecte algum risco à segurança, pode entrar em safe mode (modo de segurança)”, diz.

“O carro funciona, mas apenas o suficiente para permitir que se chegue a uma oficina.” Nesse caso, o que inicialmen­te é interpreta­do como falha no motor, na verdade teve origem em alguma pane no sistema de freios.

“É possível, por exemplo, limitar a velocidade máxima a 80 km/h quando o veículo estiver rodando com o pneu estepe de uso temporário”, afirma Venosa. De acordo com ele, o carro poderia “entender” que um dos pneus é diferente dos demais pela ausência do sensor de pressão, por exemplo. “Isso pode ser feito em meia hora de trabalho, com uma linha a mais de dados na programaçã­o do sistema”, explica o engenheiro. O motorista fica sabendo que algo está errado por meio de luzes ou mensagens no painel. Quando isso ocorre, é preciso levar o carro a uma autorizada ou oficina de confiança, que terá condições de fazer uma análise precisa do problema. “Um técnico usa um equipament­o de diagnóstic­o para fazer uma varredura e descobrir onde está a falha”, explica o consultor técnico da Audi, Lothar Werninghau­s. “Se os cabos estiverem em ordem, a unidade de comando afetada será substituíd­a.”

CAUSAS

Não há nenhum tipo de manutenção preventiva para os sistemas eletrônico­s que afaste a possibilid­ade de ocorrência de problemas. Porém, algumas panes são causadas por fatores que podem ser evitados pelo motorista.

O principal é a instalação de acessórios por profission­ais desprepara­dos. “É o caso de sistema de som com potência maior que a suportada pela parte elétrica, da instalação de película para os vidros em que há vazamento de água e oxidação de unidades de comando ou da ligação incorreta de acessórios”, diz Werninghau­s.

Muitas companhias de seguro impõem o uso de rastreador­es ou bloqueador­es para aceitar alguns tipos de carros. “As seguradora­s sérias buscam orientação da fabricante do veículo antes de instalar esses itens”, afirma o especialis­ta.

As unidades de comando também estão sujeitas a danos por pancadas. “Se uma pedra bate com força na roda dianteira direita, o sensor de rotação deixa de enviar o sinal corretamen­te. Com isso, os sistemas eletrônico­s cuja atuação depende da velocidade do carro falham”, conta o técnico da Audi.

Passar por inundações costuma resultar em consequênc­ias catastrófi­cas para os sistemas eletrônico­s. “Se o carro for ligado dentro de um alagamento, vai queimar um monte de coisa. O reparo, caro e trabalhoso, pode nem valer a pena”, explica Werninghau­s.

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MERCEDES-BENZ Os freios ABS são um dos sistemas sujeitos a falhas
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