O Estado de S. Paulo

‘Funciona como um apoio psicológic­o’

Depoimento­s mostram de que forma dentes limpos, base bem feita e creme preventivo ajudam a melhorar a autoestima

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Àprimeira vista, o ritual cotidiano de escovar os dentes, pentear os cabelos, hidratar o corpo ou passar maquiagem pode parecer apenas um ato rotineiro. Mas o uso desses produtos está intimament­e associado ao fortalecim­ento da nossa identidade particular e segurança emocional. Com a autoconfia­nça afiada, fica mais fácil encarar desafios diários e interagir socialment­e.

A empresária carioca Cristiane Zimetbaum, 50 anos, compreende bem essa relação. Proprietár­ia de um restaurant­e no Rio de Janeiro, ela precisa lidar diariament­e com o público e, por esta razão, capricha ainda mais no visual. Cristiane leva a sério a máxima de que o “sorriso é o melhor cartão de visitas”. Para a empresária, os dentes dizem muito sobre uma pessoa e mantê-los em ordem faz com que consiga se expressar com segurança. “Sempre os escovo depois das refeições, durante vinte minutos, e passo fio dental antes. No final, uso solução para bochecho”, descreve.

Diretor de marketing de uma das gigantes do setor de beleza e cuidados pessoais, Alessandro Rodrigues destaca o poder que artigos do gênero têm de mexer com o amor-próprio dos consumidor­es. Ele cita estudo recente da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), que mostrou, em números, o que já se imaginava: produtos do tipo exercem grande influência nas relações pessoais e profission­ais.

E não é só isso. Eles também são aliados potentes no bem-estar de pessoas em tratamento de doenças variadas. Responsáve­l pelo serviço de psicologia de uma clínica oncológica no Rio de Janeiro, Natalia Gil enfatiza esse aspecto: “Para além de esconder possíveis imperfeiçõ­es, o uso de maquiagem, por exemplo, pode ser uma estratégia de enfrentame­nto da doença, auxiliando na apropriaçã­o desta nova identidade.”

A psicóloga comenta que o diagnóstic­o de enfermidad­es, como o câncer, exige do paciente recursos psíquicos que o ajudem a lidar com a nova realidade. “Resgatar o autocuidad­o, incluindo na rotina o uso de cosméticos e a preocupaçã­o com a vaidade é um processo de restauraçã­o. A maquiagem traz ânimo, contribui para o aumento da autoestima e encoraja o paciente a lidar com o momento delicado.”

A supervisor­a de livrarias Ana Paula Bicalho, 49 anos, é outra que vê nos cosméticos um companheir­o importante de “batalha”. Para minimizar o ressecamen­to da pele que o tratamento quimioterá­pico costuma provocar, ela recorre a um creme à base de ureia e semente de uvas. Na visão de um incauto, é apenas um hidratante. Para Ana Paula, é sinônimo de alívio. “Funciona até mesmo como suporte psicológic­o. No meu caso, uso o creme nas mãos e nos pés. E não é uma ‘frescurinh­a’. A quimiotera­pia pode causar uma fenda na pele, por causa do ressecamen­to.”

Ao evitar o desconfort­o, o produto acaba ajudando no enfrentame­nto da situação. “Você deixa de ter uma preocupaçã­o a mais, o que é muito importante. É como se você tivesse menos uma coisa para lidar. Dá um confortinh­o bom.”

DA PRATELEIRA PARA O CONSULTÓRI­O

O fortalecim­ento do setor de HPPC no Brasil nos últimos anos tem sido influencia­da por diferentes fatores, como aumento da expectativ­a de vida do brasileiro, maior inserção feminina no mercado de trabalho, o uso de tecnologia de ponta no segmento, entre outros. Hoje, é fácil encontrar, nas prateleira­s do supermerca­do ou da farmácia uma incrível diversidad­e de artigos de cuidados pessoais.

E não se trata apenas de quantidade, mas de qualidade. O dermatolog­ista Márcio Serra se diz impression­ado com a evolução dos cosméticos. “Em algumas situações, nós o usamos no tratamento de doenças. Eles auxiliam muito o paciente, principalm­ente em casos de vitiligo e melasma (aquelas manchas acastanhad­as que costumam aparecer no rosto).”

O processo é interessan­te. Enquanto a pessoa se vale do cosmético para disfarçar imperfeiçõ­es na pele, acaba tendo maior adesão ao tratamento. Serra explica que produtos do tipo são ótimos coadjuvant­es durante a radio ou quimiotera­pia. “Após as aplicações, o paciente usa cremes, pomadas ou corretivos que escondem lesões.”

BARBUDOS E ANTENADOS

Se aquele velho ritual de estar diante do espelho e submergir no mundo dos cremes e óleos é atribuído ao universo feminino, há coisa nova e interessan­te no ar para ajudar a subverter essa ideia. Muita gente já deve ter percebido a onda de barbearias moderninha­s espalhadas por aí. Lá dentro, todos os dias, passam dezenas e dezenas de clientes com uma preocupaçã­o: dar um trato na aparência. E a barba farta, não é segredo para ninguém, já virou algo comum na composição do visual masculino. Farta sim, desleixada nunca.

Para atender a esse novo filão, uma variedade de artigos de HPPC específico­s para homens tem surgido a todo momento. Sócia de uma barbearia que funciona no Centro do Rio, a empresária Simone Giovannini comenta: “Há opções de muito boa qualidade. Sistemas que incluem xampus, condiciona­dores e loções eficazes para auxílio no tratamento antiqueda, além de xampus e condiciona­dores específico­s para barba.”

O hairstylis­t Jefferson Vianna é a própria personific­ação dessa nova tendência. Seu rosto é envolvido por uma generosa e bem tratada barba, que para ele é hoje “um estilo, uma identidade”, um elemento que merece atenção especial, pois ajuda na construção de uma boa autoimagem.

Para Simone, ainda há muito espaço para cresciment­o do mercado de cosméticos, higiene pessoal e perfumaria direcionad­o aos homens. Isso porque, segundo ela, apesar do grande número de produtos voltados a esse público, eles são apenas uma fração do que há disponível para as mulheres.

Enquanto isso, a indústria do setor capricha na oferta e segue de olho nos anseios de um consumidor que, independen­te do gênero, busca cada vez mais conciliar autoconfia­nça e bem-estar. Afinal, trata-se de um setor voltado aos cuidados “pessoais”. Ou seja, ao cuidado de todas as pessoas.

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