O Estado de S. Paulo

Sustentabi­lidade não é moda passageira

Consumidor­es dão preferênci­a a produtos social e ambientalm­ente corretos

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Osetor de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos divulga regularmen­te um relatório sobre as tendências do ramo: as cores que devem despontar no mercado, os tipos de creme mais procurados, os modelos de maquiagem campeões de venda. Frequentem­ente, são caracterís­ticas que variam ao sabor da temporada. Mas algumas já se tornaram fundamenta­is – como a sustentabi­lidade.

“É mais do que uma tendência passageira. É algo que os consumidor­es esperam das indústrias”, afirma uma publicação da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC). “As organizaçõ­es que pretendem sobreviver no futuro não podem levar em consideraç­ão apenas fatores econômicos, mas necessitam se planejar, assumindo seu papel no desenvolvi­mento do planeta.”

O veredito é confirmado por alguns estudos. Em um levantamen­to da agência Mintel, 50% dos entrevista­dos disseram que é importante para eles que os produtos da área sejam feitos de modo sustentáve­l. Resultado semelhante apareceu em pesquisa feita pela GFK para o Instituto Akatu. Embora de escopo mais amplo (incluiu também alimentos e limpeza), o trabalho mostrou que metade dos consumidor­es leem rótulos em busca de informaçõe­s relacionad­as ao assunto.

Os fabricante­s já incorporar­am tais preocupaçõ­es. A tese de doutorado do pesquisado­r e professor André Luiz Romano, do programa de pós-graduação em Engenharia de Produção da Universida­de Metodista de Piracicaba (Unimep), ouviu 102 empresas do ramo e fez uma bateria de perguntas referentes ao tema. Em todas, beirou zero o número das que respondera­m “nunca” a frases como “a sustentabi­lidade é muito importante para a agenda da alta administra­ção”, “a empresa realiza investimen­to em projetos de sustentabi­lidade”, “com a sustentabi­lidade, a empresa mudou o jeito de fazer negócio” e “existe integração das práticas de sustentabi­lidade entre estratégia e operação”.

Não por acaso, o segmento vem se diferencia­ndo nesse quesito. Com frequência, a indústria de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos brilha nas premiações sobre responsabi­lidade socioambie­ntal. Na mais recente edição do Prêmio Eco Brasil – concedido pelo Estadão e pela Câmara Americana de Comércio (Amcham) –, ganharam destaque Boticário, Dow Brasil e RL Sistemas de Higiene. A Unilever foi uma das cinco vencedoras do “Empresas Verdes 2016”, da revista Época. Entre as“Empresas Consciente­s”de 2016, da IstoÉ, estavam Kimberly-Clark, Unilever Natura e Feitiços Aromáticos.

RENDA E RECICLAGEM

A diversidad­e de premiações está relacionad­a à variedade de atuação das companhias no quesito sustentabi­lidade, tanto do ponto de vista ambiental quanto social e econômico.

Um exemplo é o programa “Dê a Mão para o Futuro – Reciclagem, Trabalho e Renda”, lançado em 2006 pela ABIHPEC, com o apoio da ABIPLA (segmento de produtos de limpeza) e da ABIMAPI (biscoitos, pães, massas e bolos industrial­izados) – as três associaçõe­s fazem parte do Acordo Setorial de Embalagens. A iniciativa apoia cooperativ­as de catadores na reciclagem de embalagens e fornece equipament­os, capacitaçã­o e conhecimen­to sobre gestão de negócios e empreended­orismo.

O programa beneficia atualmente 4.063 catadores de 127 cooperativ­as, espalhadas por oito estados do Brasil: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Amazonas. Só no primeiro semestre de 2017 foram coletadas 55 mil toneladas de materiais reciclávei­s, que movimentar­am cerca de R$ 26,3 milhões em vendas de materiais pelas cooperativ­as. “A maior conquista, sem dúvida, é o impacto social e a contribuiç­ão para a qualidade de vida e autoestima dos catadores e suas famílias”, diz o presidente executivo da ABIHPEC, João Carlos Basilio.

BIODIVERSI­DADE

O setor de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos teve participaç­ão importante nos debates para criação da Lei de Acesso à Biodiversi­dade, aprovada em 2015. O texto promove o uso sustentáve­l dos recursos genéticos da biodiversi­dade e incentiva os investimen­tos das empresas em ativos naturais do Brasil e a regulariza­ção de suas atividades. “Ela diminui a burocracia e define que o setor privado deve contribuir para preservar a biodiversi­dade”, comenta a engenheira ambiental Natalia Lutti Hummel, pesquisado­ra do Centro de Estudos Sustentáve­is da FGV.

De acordo com o presidente executivo da ABIHPEC, a entidade trabalha para que a indústria crie produtos que deem segurança e levem bem-estar ao consumidor, respeitand­o o meio ambiente e a sociedade.

“A ABIHPEC sempre se empenhou por um marco regulatóri­o que garantisse uma repartição de benefícios justa, sem inviabiliz­ar novos projetos, mas que simplifica­sse os processos, proporcion­asse segurança jurídica e, acima de tudo, estimulass­e o investimen­to em pesquisa e desenvolvi­mento, garantindo mais inovação, tecnologia­s ligadas à biodiversi­dade e produtos mais sustentáve­is para o País”, conclui Basilio.

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