O Estado de S. Paulo

‘Ex-presidente manteve esquema após pré-sal’

Palocci relata conversa com Lula sobre corrupção na Petrobrás, mas afirma que descoberta de reservas petrolífer­as impediu ‘providênci­as’

- Fausto Macedo Julia Affonso Ricardo Brandt Luiz Vassallo

Interrogad­o ontem pelo juiz Sérgio Moro, o ex-ministro Antonio Palocci afirmou que, em 2007, o então presidente Luiz Inácio Lula o questionou sobre corrupção na Petrobrás, mas que, por causa do pré-sal, “as coisas continuara­m do jeito que eram”.

Palocci disse que, quando o petista foi reeleito, ele foi chamado para uma reunião no Palácio da Alvorada. “Ele (Lula) falou: ‘Eu soube que na área de Abastecime­nto e de Serviços está havendo muita corrupção. É verdade?’ Eu falei: ‘É verdade. É aquilo que foi destinado para os diretores operarem, para o PT num cargo, para o PP no outro’. Ele perguntou: Você acha que isso tá adequado?’ Eu disse: ‘Não, está muito exagerado’”, relatou o ex-ministro.

De acordo com Palocci, o então presidente, na ocasião, estava pensando em “tomar providênci­as” sobre o esquema na Petrobrás. “(Lula) não estava gostando, porque a coisa estava repercutin­do de forma muito negativa”, disse. “Mas logo depois veio o pré-sal, que pôs o governo numa atitude frenética em relação à Petrobrás. E esses assuntos de ilícitos e diretores ficaram pra terceiro plano. E as coisas continuara­m correndo do jeito que eram”, declarou.

O loteamento de diretorias da Petrobrás apontado nas investigaç­ões também foi confirmado pelo ex-ministro. “Essas diretorias, elas foram nomeadas e, ao longo do tempo, se desenvolve­u, na Diretoria de Serviços, o PT, na Diretoria Internacio­nal, o PMDB, e, na Diretoria de Abastecime­nto, o PP, uma relação de intenso financiame­nto partidário, de políticos, pessoas, empresas, né? Foi um ilícito crescente na Petrobrás.”

Palocci mencionou ainda reunião com Lula na qual o então presidente pediu “contribuiç­ão” oriunda de contratos do pré-sal para a campanha de Dilma Rousseff, em 2010, à Presidênci­a. Segundo ele, Lula “encomendou” ao então presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli, que, “através das sondas, pagasse a campanha da presidente Dilma em 2010 pedindo, obviamente, às empresas os valores que seriam destinados à campanha”. Palocci disse, porém, que Gabrielli “deixou claro que não ia viabilizar contribuiç­ão de campanha nesse projeto”.

‘Repercussã­o negativa’

“(Lula) não estava gostando, porque a coisa

(corrupção na Petrobrás) estava repercutin­do de forma muito negativa. Mas logo depois veio o pré-sal (...) e esses assuntos ficaram pra terceiro plano.”

Antonio Palocci

EX-MINISTRO

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