‘Ex-presidente manteve esquema após pré-sal’
Palocci relata conversa com Lula sobre corrupção na Petrobrás, mas afirma que descoberta de reservas petrolíferas impediu ‘providências’
Interrogado ontem pelo juiz Sérgio Moro, o ex-ministro Antonio Palocci afirmou que, em 2007, o então presidente Luiz Inácio Lula o questionou sobre corrupção na Petrobrás, mas que, por causa do pré-sal, “as coisas continuaram do jeito que eram”.
Palocci disse que, quando o petista foi reeleito, ele foi chamado para uma reunião no Palácio da Alvorada. “Ele (Lula) falou: ‘Eu soube que na área de Abastecimento e de Serviços está havendo muita corrupção. É verdade?’ Eu falei: ‘É verdade. É aquilo que foi destinado para os diretores operarem, para o PT num cargo, para o PP no outro’. Ele perguntou: Você acha que isso tá adequado?’ Eu disse: ‘Não, está muito exagerado’”, relatou o ex-ministro.
De acordo com Palocci, o então presidente, na ocasião, estava pensando em “tomar providências” sobre o esquema na Petrobrás. “(Lula) não estava gostando, porque a coisa estava repercutindo de forma muito negativa”, disse. “Mas logo depois veio o pré-sal, que pôs o governo numa atitude frenética em relação à Petrobrás. E esses assuntos de ilícitos e diretores ficaram pra terceiro plano. E as coisas continuaram correndo do jeito que eram”, declarou.
O loteamento de diretorias da Petrobrás apontado nas investigações também foi confirmado pelo ex-ministro. “Essas diretorias, elas foram nomeadas e, ao longo do tempo, se desenvolveu, na Diretoria de Serviços, o PT, na Diretoria Internacional, o PMDB, e, na Diretoria de Abastecimento, o PP, uma relação de intenso financiamento partidário, de políticos, pessoas, empresas, né? Foi um ilícito crescente na Petrobrás.”
Palocci mencionou ainda reunião com Lula na qual o então presidente pediu “contribuição” oriunda de contratos do pré-sal para a campanha de Dilma Rousseff, em 2010, à Presidência. Segundo ele, Lula “encomendou” ao então presidente da Petrobrás, José Sergio Gabrielli, que, “através das sondas, pagasse a campanha da presidente Dilma em 2010 pedindo, obviamente, às empresas os valores que seriam destinados à campanha”. Palocci disse, porém, que Gabrielli “deixou claro que não ia viabilizar contribuição de campanha nesse projeto”.
‘Repercussão negativa’
“(Lula) não estava gostando, porque a coisa
(corrupção na Petrobrás) estava repercutindo de forma muito negativa. Mas logo depois veio o pré-sal (...) e esses assuntos ficaram pra terceiro plano.”
Antonio Palocci
EX-MINISTRO