Com taxa de juros em 8,25%, renda fixa fica menos atrativa
Para especialistas, regra que muda a rentabilidade da poupança, na prática, aproxima os ganhos da renda fixa
Com o novo corte na taxa básica de juros, deixar o dinheiro na poupança pode ser mais ou tão vantajoso para o investidor do que aplicar em renda fixa. Especialistas em finanças pessoais indicam que, com a Selic em 8,25%, apenas os fundos de renda fixa com taxas de administração muito baixas, em torno de 0,5%, ganham da caderneta.
Na prática, o investidor não vai perceber a diferença no bolso migrando para concorrentes próximos, como o Tesouro Direto, os CDBs e similares.
Isso se explica porque, em menor e em maior escala, a Selic tem o seu peso dentro de todos os produtos na prateleira da renda fixa e, mesmo quando o impacto da taxa é menor, a taxa de administração cobrada pelas instituições financeiras trata de equilibrar os retornos.
“Uma coisa é falar de renda fixa quando a Selic está a 14,5%, como no ano passado. Daí é lógico que a poupança perde para o Tesouro Direto, que em alguns casos paga uma parte da Selic mais o IPCA (o indicador oficial da inflação). Já outra bem diferente é quando você tem uma Selic a 8,25%, como agora. Quando isso acontece, os produtos praticamente se igualam”, explica o consultor Renato Roizenblit, que atua pela Planejar.
Para o professor Joelson Sampaio, da Fecap, se mesmo assim o investidor quiser avaliar as diferenças de retorno entre as opções do mercado, é preciso comparar com atenção a rentabilidade no final da operação. “A taxa de administração é que vai determinar se o investimento vai ficar ruim ou não”, diz.
Sampaio explica que, com a incidência de Imposto de Renda e a taxa de administração, o investidor pode receber menos em produtos de renda fixa do que se deixasse na poupança, mesmo com ela rendendo agora 70% da Selic mais a TR.
Diante dessa realidade ruim para quem está nos fundos, o gatilho que agora entra em vigor para a poupança tende a baixar as taxas de administração desses investimentos, acredita Angela Nunes, planejadora financeira pela Planejar.
No caso do Certificado de Depósito Bancário (CDB), o professor de finanças da Saint Paul Escola de Negócios, Alan Ghani, aconselha olhar para os prazos para saber se a incidência de Imposto de Renda não irá comprometer muito da rentabilidade.
Ele explica que, para um prazo de seis meses, a poupança ganha do CDB que paga até 90% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), balizado pela Selic. Para quem vai investir durante um prazo entre um e dois anos, o ideal é recorrer ao CDB que pague mais de 85% do CDI. Já para o investidor que pretende deixar o dinheiro rendendo mais de dois anos, vale a pena um CDB com retorno acima de 83% do CDI. Caso contrário, melhor deixar na poupança.
Por mais que a caderneta possa ser mais atrativa em muitos casos, Angela Nunes alerta que não adianta sacar o dinheiro fora do aniversário da poupança, se não perde a rentabilidade. Ou seja, se fizer uma aplicação dia 5 de abril e outra dia 15 de abril, a primeira terá rendimento no próximo dia 5 enquanto a segunda no próximo dia 15. Aplicações menores que 30 dias, também não recebem nenhum retorno. Angela pondera que a poupança é um bom instrumento para aprender a poupar, principalmente pela facilidade. “Algum esforço é melhor do que esforço nenhum”, diz.
Joelson Sampaio, da Fecap, lembra que o dinheiro também não pode ser esquecido na poupança. Caso os juros voltem a subir, elas se torna um mal investimento se comparado aos fundos de renda fixa.
Isso ocorre porque se a Selic estiver alta, os retornos nesses investimentos serão maiores, enquanto que a poupança volta a pagar na modalidade anterior, ou seja, 0,5% por mês mais a TR.
Risco. Mas para Renato Roizenblit, da Planejar, o esforço em fazer tantas contas pode não compensar o resultado do investimento. “Quem quer ver a diferença, considerando uma taxa de juros Selic por algum tempo nesse patamar, pode investir uma parte do dinheiro em ações. Hoje as empresas estão saneadas e a Bolsa atingiu um patamar importante de 73 mil pontos. Os fundos multimercados são uma boa opção”, ele diz.
Juros em queda
“Quem quer ver a diferença, agora, pode investir no mercado de ações ou nos fundos multimercados”
Renato Roizenblit
PLANEJAR