O Estado de S. Paulo

Inflação cai e pode ficar perto de 3% no ano

IPCA acumulado em 12 meses recuou para 2,46% em agosto, o mais baixo desde 1999

- Daniela Amorim /

A inflação oficial voltou a surpreende­r positivame­nte em agosto. A alta de preços alcançou 0,19%, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatístic­a (IBGE).

Em agosto, a safra agrícola recorde derrubou os preços dos alimentos pelo quarto mês consecutiv­o, anulando toda a pressão causada pelo encarecime­nto do litro da gasolina. As passagens aéreas mais baratas também contribuír­am para conter o IPCA, enquanto a energia elétrica mais cara pesou mais no bolso das famílias.

As estimativa­s dos analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast eram de que a taxa ficaria entre 0,22% a 0,47%. Mas o índice ficou mais baixo do que as projeções mais otimistas. Isso levou alguns economista­s a cogitarem que o IPCA pode terminar o ano abaixo do piso de 3% estipulado pelo governo.

A meta de inflação perseguida pelo Banco Central é de 4,5% ao ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto porcentual para cima ou para baixo. Quando essa meta é descumprid­a, o presidente do banco precisa enviar uma carta ao Ministério da Fazenda explicando porque isso ocorreu. “O IPCA tem muita chance de ficar abaixo do piso da meta”, avaliou o economista Luiz Roberto Cunha, decano do Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio.

A taxa de inflação acumulada em 12 meses caiu a 2,46% em agosto, o patamar mais baixo desde fevereiro de 1999. O decano da PUC-Rio calcula que, para ficar em 3,00% ao fim de 2017, o IPCA teria que aumentar 0,15% em setembro e registrar outros avanços médios de 0,40% de outubro a dezembro. Até agora, porém, a inflação não subiu ao patamar de 0,40% em nenhum mês de 2017.

“É alto o risco de fechar perto de 3% ou até menor, mas ainda não é nossa projeção. A desinflaçã­o está vindo de maneira difundida, apontando para o IPCA ficar perto de 3%”, disse o analista Tiago Souza, do departamen­to econômico do Banco BBM.

Carta. Na avaliação de Cunha, se a carta do Banco Central ao Ministério da Fazenda for necessária, ela terá um tom positivo, o que tiraria um pouco a pressão sobre a autoridade monetária de ter atrasado o início da trajetória de queda na taxa básica de juros. Ainda assim deve haver críticas de alguns setores da sociedade.

“Quando você faz a carta para cima, porque estourou a meta, é porque houve algum choque. É pior quando você faz a carta porque ficou abaixo. Num momento em que a recessão é forte e o desemprego é alto, isso vai causar um ruído entre setores da indústria e da política, porque o BC demorou a flexibiliz­ar a política monetária”, disse Cunha.

Em meio a um cenário de retomada do consumo das famílias, o impacto positivo da demanda fraca sobre a inflação ficou menos evidente, apontou Fernando Gonçalves, gerente da Coordenaçã­o de Índices de Preços do IBGE.

“O que acontece é que durante o correr do ano, a gente teve redução na taxa de juros, inflação mais baixa, injeção de alguns bilhões de FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) na economia. Tudo isso gerou espaço para que as famílias pudessem consumir.”

Segundo ele, a influência da demanda sobre a inflação costuma ser difusa, espalhada entre diversos itens, por isso mais difícil de mensurar. “O impacto da demanda sobre o IPCA já foi mais claro, já foi mais forte”, afirmou Gonçalves.

Embora o indicador mantenha a tendência de redução na taxa acumulada em 12 meses, o pesquisado­r do IBGE lembrou que o resultado do IPCA em setembro do ano passado foi bastante baixo, uma alta de 0,08%, o que pode interrompe­r essa trajetória declinante.

Ritmo

“A desinflaçã­o está vindo de maneira difundida, apontando para o IPCA ficar perto de 3%”

Tiago Souza

ANALISTA DO DEPARTAMEN­TO ECONÔMICO DO BANCO BBM

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FELIPE RAU/ESTADÃO-16/3/2017 Campo. Safra recorde agrícola derrubou os preços dos alimentos pelo 4º mês consecutiv­o

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