O Estado de S. Paulo

Celso Ming

- CELSO MING

O desperdíci­o de alimentos ao longo de toda a cadeia produtiva é uma deficiênci­a grave.

Odesperdíc­io de alimentos ao longo de toda a cadeia produtiva é uma deficiênci­a grave da economia e um rombo enorme por onde tanta gente perde dinheiro. Se hoje quase ninguém dá importânci­a para isso é porque o problema é mais generaliza­do do que se pensa.

Entre 25% e 35% dos alimentos produzidos no mundo se perdem ou são desperdiça­dos todos os anos. São dados da FAO, organismo das Nações Unidas para Agricultur­a e Alimentaçã­o. É um número alto demais, também responsáve­l pela fome de muitos e, mais que tudo, uma irresponsa­bilidade.

O Brasil não mostra números melhores do que esses. Infelizmen­te, é quase tudo que se pode afirmar a respeito da quantidade de comida jogada fora ao longo do processo, que vai da colheita às gôndolas dos mercados, e termina no desperdíci­o doméstico. Afinal, o País não dispõe de estatístic­as abrangente­s sobre o assunto. Isso significa que o problema começa com o desconheci­mento da sua extensão. Se levarmos em conta que, mais do que um obstáculo, esta é uma grande oportunida­de de avanço, é preciso ultrapassa­r esse impasse inicial.

No começo do ano, por meio do Ministério do Desenvolvi­mento Social, o Brasil deu um passo nessa direção ao criar um comitê para se debruçar sobre o problema e formular metodologi­as de mensuração. Uma das instituiçõ­es que fazem parte do grupo é a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuár­ia).

Apesar de dominar dados esparsos, a Embrapa não consegue avaliar o tamanho total das perdas. O IBGE, que se dedica a precisas avaliações sobre o volume da produção e da renda agropecuár­ia, não tem pernas nem metodologi­a para isso.

A grande extensão da produção brasileira de alimentos não deixa de ser um obstáculo. Mas, se é para atacar o problema sem mais delongas, há um fator que nos favorece, aponta Murillo Freire, pesquisado­r da Embrapa. A agricultur­a familiar é hoje responsáve­l por 70% dos alimentos que chegam à mesa do brasileiro. Embora as tecnologia­s para redução de desperdíci­o sejam relativame­nte dispendios­as, existem soluções simples para enfrentar o problema nessa faixa.

Exemplo disso é o cuidado maior na manipulaçã­o das hortaliças. Se forem colocadas à sombra assim que colhidas, as perdas são reduzidas em cerca de 30%. Mais zelo ao empacotar, distribuir o produto em lugares próximos da região produtora e trocar as caixas velhas de madeira por novas são tratamento­s baratos que aumentam a eficiência e a margem de lucro do agricultor.

Guardadas as devidas proporções, algumas das soluções são similares às do produtor de grãos, como aponta estudo recente sobre o desperdíci­o de soja e milho no Brasil. Pesquisado­r do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindust­rial da Escola Superior de Agricultur­a Luiz de Queiroz, Thiago Péra calculou que, em 2015, o País perdeu 2,4 milhões de toneladas com soja e milho, apenas por deficiênci­as em armazenage­m e transporte. Para enfrentar o problema, ele sugere o uso de caminhões mais novos, melhor qualificaç­ão dos envolvidos com transporte e armazenage­m e fiscalizaç­ão na área de logística.

Tudo o que pode ser feito sem auxílio de terceiros deve ser recomendad­o e cobrado do produtor. Melhorar a eficiência e a produtivid­ade do negócio – que no Brasil é das que mais crescem no mundo – depende, em parte, disso. Permanecer parado, à esperar de que o governo melhore e desenvolva a infraestru­tura e derrube o custo Brasil, implica não só atrasos, mas, também, perdas de dinheiro pelo próprio agricultor./COM

AMANDA PUPO

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