Por que as sanções não funcionam?
Ou elas não têm o rigor suficiente para pressionar o regime norte-coreano ou seus líderes não respondem da forma esperada
ACoreia do Norte está sob sanções da ONU desde 2006. Com o tempo, elas se tornaram mais fortes e outros países e entidades, incluindo EUA e União Europeia, também impuseram medidas unilaterais contra Pyongyang. Mas o programa de armas nucleares da Coreia do Norte não apenas persistiu, mas avançou e parece que as sanções falharam – ao menos até agora. Vale perguntar o motivo. Há duas teorias explicando por que as sanções não estão funcionando.
Teoria 1: As sanções não puniram suficientemente a Coreia do Norte. A ideia por trás desse raciocínio é que a Coreia do Norte não foi atingida com o rigor necessário para desviá-la de sua beligerância. Observadores assinalaram que a vida no país, em termos econômicos, parece ter melhorado desde 2006. “As sanções afetam apenas a superfície”, disse ao Washington Post o ex-funcionário e desertor norte-coreano Ri Jong-ho.
Isso não quer dizer que as sanções não sejam rígidas. Na verdade, o problema maior com as sanções pode ser sua implementação. China e Rússia, dois dos mais importantes parceiros comerciais da Coreia do Norte, hesitam em aplicá-las totalmente. Mesmo quando a China concordou em limitar importações de carvão da Coreia do Norte, deixou suspeitas de que não esteja fazendo isso com empenho.
Outros países também podem estar fazendo vista grossa. Um relatório sobre a economia norte-coreana sugeriu que há furos nas sanções. O regime é suspeito de lucrar ao ajudar a montar o sistema de mísseis da Síria e ao enviar assessores militares a países africanos. “À medida que o regime de sanções se expande, cresce também a capacidade de driblá-lo”, assinalou um observador. De qualquer modo, se o problema puder ser redirecionado, ainda terá meios de forçar a Coreia do Norte a mudar de comportamento.
Teoria 2: A liderança da Coreia do Norte não dá a mínima para sanções. Essa teoria, mais pessimista, é que a Coreia do Norte é imune a sanções porque... é a Coreia do Norte! Vejamos deste modo: sanções são aplicadas para mudar o comportamento político de uma nação por meio de pressões econômicas. A ideia é que os líderes percebam que o custo econômico de seu modo de agir é alto demais e mudem de rumo. Ocorre que a Coreia do Norte não é como outros países. Seus líderes não costumam responder do modo que se espera. A Coreia do Norte é uma das ditaduras mais fechadas. Mesmo observadores especializados em Estados autocráticos ficam abismados com a fervorosa adulação em torno da dinastia Kim. Em tal sistema, a opinião pública parece ter pouco efeito sobre Kim Jong-un.
As duas teorias discrepantes apontam para uma ambiguidade preocupante. Se a Coreia do Norte for realmente impermeável a sanções, impor novas punições ao país pode ser perda de tempo. Ao mesmo tempo, se sanções puderem de fato mudar o comportamento de Pyongyang, o ceticismo de críticos poderosos como a Rússia enfraquece a tentativa e corrói sua eficácia.