O Estado de S. Paulo

Wesley Batista é preso e JBS procura presidente

Empresário, irmão de Joesley Batista, é acusado de valer-se de informação privilegia­da para lucrar no mercado. Empresa se vê forçada a pensar em sucessão.

- Renata Agostini Fernando Scheller

Uma das maiores companhias de alimentos do mundo, a JBS amanheceu ontem sem dirigente e viu-se forçada a pensar a sucessão de Wesley Batista, medida que a cúpula da empresa vinha tentando postergar. Acusado de valer-se de informação privilegia­da para lucrar no mercado acionário e de câmbio, Wesley teve a prisão decretada. Seu irmão, Joesley, já estava preso desde domingo, acusado de omitir informaçõe­s em sua delação.

Com Joesley e Wesley presos, o irmão mais velho, José Batista Júnior, conhecido como Júnior Friboi, compareceu à empresa para ajudar seu pai, José Batista Sobrinho, fundador da JBS, em deliberaçõ­es emergencia­is. Júnior já foi presidente da JBS. Wesley Batista Filho, filho de Wesley e presidente de uma divisão da JBS nos EUA, também participou das conversas.

Segundo fontes que acompanhar­am as discussões ontem, a família ainda trabalha com a possibilid­ade de Wesley retornar ao cargo nos próximos dias. Conforme apurou o Estado, há preocupaçã­o de que uma substituiç­ão imediata do empresário sinalize que a JBS não acredita que ele será libertado em breve.

Apesar disso, a discussão sobre novos nomes já começou. Em reunião do conselho de administra­ção ontem, a representa­nte do BNDES, a advogada Claudia Azeredo Santos, sugeriu que Gilberto Tomazoni, hoje à frente das marcas internacio­nais da JBS, assumisse interiname­nte. Como a reunião foi apenas informativ­a, a proposta não foi votada.

Tomazoni já era um dos nomes aventados pela cúpula para a eventual necessidad­e de uma rápida sucessão como a de agora, mas há dúvidas se ele aceitaria o cargo. Próximo da família, Gilberto Xandó, que assumiu o lugar de Joesley Batista no conselho de administra­ção da JBS, também é visto como possível sucessor. Existe ainda a alternativ­a de se buscar um nome de mercado.

Apesar da dificuldad­e da família em aceitar a sucessão imediata, a permanênci­a de Wesley na presidênci­a da JBS ficou insustentá­vel, segundo fontes. Além da pressão do BNDES, a acusação que pesa agora sobre ele é de ludibriar o mercado financeiro. Por isso, é considerad­o improvável que o mercado vá aceitar que ele permaneça à frente de uma grande companhia de capital aberto.

Uma definição sobre a sucessão, seja ela qual for, deve sair nos próximos dias, segundo pessoas próximas à empresa. A avaliação é que a JBS precisa de um interlocut­or com o mercado. Com dívida bruta de R$ 60 bilhões, a JBS renegociou cerca de R$ 20 bilhões com bancos, ampliando prazos. O contrato foi assinado, mas ainda não foi finalizado. Por isso, a situação desperta atenção dos assessores financeiro­s da empresa.

Segundo um banqueiro, depois de vender vários ativos, incluindo Vigor e Alpargatas (veja quadro), a empresa vem cumprindo os pagamentos. Não há motivos, por ora, para desfazer o acordo, afirma. Os bancos também esperavam uma substituiç­ão no comando da JBS em até um ano a partir de uma sinalizaçã­o do próprio Wesley.

Sucessão. A JBS não tinha um processo formal de sucessão, algo que Wesley Batista considerav­a um erro. Em sua avaliação, a JBS tinha executivos de talento, mas com domínio restrito a suas áreas.

A terceira geração da família ainda estava sendo preparada e é vista como “verde”. Wesley Filho está no grupo desde 2010. Murilo, filho de Joesley, trabalhava em funções laterais na J&F. Já o pai de Wesley e Joesley e o irmão mais velho estão fora do comando há anos. As irmãs nunca atuaram no negócio.

Por isso, agora que há pressão imediata para trocar o comando da empresa, a JBS se vê obrigada a conduzir à presidênci­a a alguém de fora da família.

Procurados, a JBS e o BNDES não se pronunciar­am.

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