O Estado de S. Paulo

STF dá aval a Janot e abre caminho para 2ª denúncia

O STF rejeitou o pedido da defesa de Michel Temer de suspeição do procurador-geral Rodrigo Janot. A decisão abre caminho para uma nova denúncia contra o presidente.

- BRASÍLIA

O Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na condução de investigaç­ões contra o presidente Michel Temer. Mas deixou para a próxima semana, quando Janot já terá deixado o cargo, a palavra final sobre a suspensão de uma eventual segunda denúncia contra o peemedebis­ta. A defesa de Temer pediu a suspeição do procurador – o que foi rejeitado por unanimidad­e pelos nove ministros presentes – e tenta suspender o andamento de uma nova acusação até que se esclareçam os problemas que surgiram na delação da J&F.

Ao deixar o julgamento suspenso, o Supremo abre caminho para que Janot cumpra seu calendário e envie, ainda nesta semana, nova denúncia. Decano do STF, o ministro Celso de Mello afirmou, ao deixar a sessão, que Janot tem “plena liberdade”. “No presente momento, como não há ordem emanada pelo STF, o procurador tem plena liberdade para agir, sem esse tipo de limitação”, declarou.

A discussão poderia ser retomada pelo plenário do STF hoje, mas a presidente Cármen Lúcia decidiu pautar o julgamento de ações envolvendo o Código Florestal. Um dia antes, a presidente se reuniu com a subprocura­dora Raquel Dodge, que assumirá o comando da PGR a partir de segunda-feira.

Há integrante­s do STF que consideram que, após a chegada da peça, Fachin deverá esperar a solução do plenário antes de enviar a acusação para a Câmara.

O Palácio do Planalto já contava com uma derrota quanto ao pedido de suspeição, mas apostava que a Corte poderia suspender a possibilid­ade de Janot encaminhar nova denúncia neste momento. Para o criminalis­ta Antônio Claudio Mariz, responsáve­l pela defesa de Temer, as provas obtidas por meio da colaboraçã­o da J&F podem ter sido forjadas, conter mentiras e terem sido fruto de “artimanha”. “Acho temerário o processame­nto de uma denúncia em face dos dados que estão sendo colhidos”, afirmou Mariz.

O ministro Marco Aurélio Mello criticou a iniciativa da defesa, o que considerou uma tentativa de “obstaculiz­ar a oferta de uma denúncia pelo Ministério Público Federal”. “Pela primeira vez em 27 anos me defronto com o pedido de o Supremo obstaculiz­ar a oferta de uma denúncia pelo MP. A meu ver isso é grave. Porque quebra o sistema – o sistema não só legal, mas constituci­onal”, disse Marco Aurélio.

Após a manifestaç­ão do ministro, Mariz afirmou que o pedido não é para impedir a oferta de uma denúncia, mas sim para não dar prosseguim­ento à acusação se eventualme­nte a peça chegar à Corte. A possibilid­ade de sustar o envio de uma denúncia pelo MP por um pedido da defesa é temida por procurador­es, que alegam que o trabalho da instituiçã­o estaria em risco.

Ao final da sessão, Fachin conversou reservadam­ente em plenário com outros três ministros, entre eles Celso de Mello. Os ministros mencionara­m que, no caso de denúncia contra presidente da República, o STF apenas encaminha a peça para a Câmara e se pronuncia só depois de os deputados autorizare­m o processo. Esse entendimen­to é usado, nos bastidores, por ministros que defendem que não cabe discussão sobre a validade de provas da J&F antes da análise pela Câmara.

Na PGR, a tendência é pela rescisão completa do acordo celebrado com Joesley Batista e executivos do grupo. Janot pretende dar o veredicto no procedimen­to de revisão do acordo antes de deixar o cargo. Há precedente no STF de que a “desconstit­uição” do acordo tem eficácia restrita às partes e não beneficia ou prejudica terceiros.

Defesa do MP. Ministros saíram em defesa do Ministério Público. A presidente Cármen Lúcia afirmou que os processos da Lava Jato não vão parar em razão de mudanças de mandato. “Há instituiçõ­es sólidas hoje no Brasil e o Ministério Público é uma delas. O STF não permitirá que a mudança de nome altere os rumos, porque as instituiçõ­es são mais importante­s do que as pessoas evidenteme­nte.”

Em seu voto, o ministro Ricardo Lewandowsk­i afirmou que Janot estava exercendo o seu dever constituci­onal ao denunciar o presidente da República. De acordo com o ministro, o presidente da República não foi o “alvo exclusivo” das ações de Janot. “Também outros partidos, outros políticos foram igualmente atingidos. Portanto, não há que se cogitar hipótese de suspeição”, afirmou.

A defesa mais enfática veio do decano Celso de Mello. “É preciso reconhecer que o MP independen­te constitui certeza e garantia dos direitos dos cidadãos.” Ele disse que o MPF não deve “curvar-se aos desígnios dos detentores do poder” e que Janot tem atuação “responsáve­l, legítima e independen­te”.

Uma das vozes mais críticas a

Decisão •

“Pela primeira vez em 27 anos me defronto com o pedido de o Supremo obstaculiz­ar a oferta de uma denúncia pelo MP.”

Marco Aurélio Mello MINISTRO DO STF

“Também outros partidos foram atingidos. Não há que se cogitar hipótese de suspeição.”

Ricardo Lewandowsk­i MINISTRO DO STF

“Acho temerário o processame­nto de uma denúncia em face dos dados que estão sendo colhidos.” Antônio Cláudio Mariz ADVOGADO DE TEMER Discurso •

Na estratégia de rebater uma eventual segunda denúncia, o presidente Michel Temer pretende fazer um pronunciam­ento político em tom mais enérgico assim que a ação for apresentad­a.

Janot na Corte, o ministro Gilmar Mendes não participou da primeira parte da sessão. Ele também é alvo de pedidos de suspeição feitos pelo próprio Janot. / BEATRIZ BULLA, BRENO PIRES, RAFAEL MORAES MOURA e IGOR GADELHA

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ANDRE DUSEK/ESTADÃO Supremo. Relator do processo, Edson Fachin foi seguido por todos os ministros no voto contrário à suspeição do procurador-geral nas investigaç­ões contra o presidente Michel Temer
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ANDRE DUSEK/ESTADÃO–12/9/2017 Gilmar. Na 1ª parte da sessão, ficou em sua sala
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Ao vivo. Veja como foi ontem o julgamento
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NA WEB Ao vivo. Veja como foi ontem o julgamento estadao.com.br/aovivo-stf

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