Funaro diz que Geddel e Temer levaram R$ 1 mi
O corretor Lúcio Bolonha Funaro disse em delação que o presidente Michel Temer dividiu com Geddel Vieira Lima propina de R$ 1 milhão da Odebrecht.
O corretor Lúcio Funaro disse, em delação premiada, que o presidente Michel Temer tinha diferentes operadores em órgãos públicos, como a Caixa Econômica Federal, o Ministério da Agricultura e a Câmara dos Deputados. Cabia a eles atender aos interesses de grandes empresas que, supostamente, aceitavam dar dinheiro ao chamado “quadrilhão do PMDB”. Funaro teria atuado para o partido entre 2004 e 2014.
Segundo o delator, Temer dividiu com o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) – exhomem forte de seu governo, atualmente preso – propina da Odebrecht na campanha de 2014. Ele narra ter buscado R$ 1 milhão em espécie, pago pela empreiteira, no escritório do advogado e ex-deputado José Yunes, amigo do presidente.
Essas declarações de Funaro estão em 29 anexos, aos quais o Estado teve acesso. A delação do corretor, já homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), deve ser usada na próxima denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Temer.
Preso há mais de um ano na Penitenciária da Papuda, em Brasília, Funaro afirmou que, após um telefonema de Geddel, foi ao escritório de Yunes no Itaim Bibi, em São Paulo, para buscar R$ 1 milhão. O ex-ministro, segundo ele, “informou que o dinheiro que iria retirar com José Yunes era referente a uma doação via caixa 2 da Odebrecht, acertada juntamente (com)
Eliseu Padilha e Michel Temer”. “Estes valores eram de Michel Temer, o qual estava enviando uma parte do dinheiro arrecadado para Geddel”, diz o anexo.
Em nota, a Secretaria da Comunicação da Presidência afirmou que as declarações de Funaro não merecem crédito (mais informações na pág. A7).
O corretor afirmou também que o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Temer tinham papéis distintos no comando da organização. Enquanto o primeiro trabalhava na captação de recursos ilícitos, o segundo atuava no “núcleo político”, viabilizando, por meio de seus indicados na administração, interesses das empresas que pagavam subornos.
Empresas. O delator detalhou ainda que Temer recebeu propina da JBS para que seus aliados no Ministério da Agricultura aprovassem regras de interesse da empresa. O frigorífico teria pago R$ 7 milhões para que o então ministro da pasta e atual vice-governador de Minas, Antônio Andrade (PMDB-MG), liberasse a exportação de despojo, partes do boi que não são consumidas no Brasil, mas têm mercado na Ásia; e a proibição do uso de uma substância que, quando aplicada ao gado, impede a exportação da carne.
Desse valor, o então ministro da Agricultura e atual vice-governador de Minas Gerais, Antônio Andrade (PMDB), teria recebido R$ 3 milhões da propina paga pela empresa de Joesley Batista e outro R$ 1,5 milhão teria sido dividido entre Temer e Cunha.
Impeachment. Funaro também disse em sua delação que, na época do processo de impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, o então vicepresidente Michel Temer tramava “diariamente” a deposição da petista com Cunha. Funaro afirmou que a relação de Cunha e Temer oscilava dependendo do “momento político”. “Na época do impeachment de Dilma, eles confabulavam diariamente, tramando a aprovação do impedimento e, consequentemente, a assunção de Temer como presidente”, exemplificou o corretor num dos trechos do anexo.
Outro episódio envolvendo Temer citado por Funaro é a entrega de R$ 500 mil para o marqueteiro Duda Mendonça. O repasse estaria relacionado à campanha do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) Paulo Skaf ao governo de São Paulo e teria sido realizado em um escritório na Avenida 9 de Julho, na capital paulista. Segundo Funaro, a entrega foi solicitada por Cunha e era para “atender o presidente Temer”.
Defesas. As defesas do ex-ministro Geddel Vieira Lima e de Cunha disseram que não comentam a delação até que o sigilo seja retirado. Eliseu Padilha afirmou que não conhece Funaro e que nunca esteve com ele.
O advogado de José Yunes, José Luis Oliveira Lima, disse que ele jamais recebeu qualquer valor e que Funaro esteve no seu escritório, entregou um envelope e deixou o local. Antônio Andrade afirmou que as acusações são falsas e inconsistentes. Skaf disse que todas as doações recebidas pela campanha estão registradas na Justiça Eleitoral.