O Estado de S. Paulo

Recuperaçã­o sustentáve­l?

- CELSO MING E-MAIL: CELSO.MING@ESTADAO.COM

A esta altura, apostar que o PIB crescerá 3% em 2018 não é ousadia demais. O problema é o flanco fiscal.

Oministro da Fazenda, Henrique Meirelles, passa ao largo ou finge que passa ao largo do impacto das novas denúncias que envolvem o presidente Temer, das novas prisões e de outros desdobrame­ntos da Operação Lava Jato. Garante ele que a recuperaçã­o da economia é sustentáve­l e acena com cresciment­o do PIB em 2018 para até agora inimagináv­eis 3,0%.

Dá para apostar nesse descolamen­to entre crise política e crise econômica? E até que ponto os indícios de que a recessão ficou para trás são confiáveis e devem ser levados a sério?

Ninguém ignora que a instabilid­ade política e o enfraqueci­mento do governo são fatores que tiram eficácia da política econômica e criam inseguranç­a. Portanto, montam esquema prejudicia­l para os negócios e para o investimen­to. No entanto, seja porque a recessão foi longa e profunda demais, seja porque o brasileiro se acostumou, digamos assim, com as lambanças políticas, o fato é que, desta vez, passou a ser preciso mais do que puramente crises seguidas no governo para tirar a economia da trajetória em que está.

Em parte, esse descolamen­to é favorecido pela economia global que opera com cresciment­o lento, mas firme, em ambiente de juros baixos e enorme abundância de recursos. Alguns dos fatores que beneficiam a economia das maiores potências (Estados Unidos, União Europeia, China e Japão) também estão presentes por aqui. A inflação baixa e os juros em queda estão entre eles. É também o que atiça o consumo, porque uma inflação abaixo dos 3% em 12 meses preserva a renda. Não é à toa que, hoje, a maior tração da economia está no consumo de produtos duráveis (veículos e aparelhos domésticos), sinal de volta da confiança e maior procura por crédito.

Não dá para tirar importânci­a do excelente desempenho das contas externas. O déficit de transações correntes (entradas e saídas de moeda estrangeir­a com mercadoria­s, serviços e transferên­cias, menos entrada de capitais) está se estreitand­o e vai sendo largamente coberto pelo Investimen­to Direto no País. O colchão de reservas é de US$ 370 bilhões (25 meses de importação) e não há corrida ao dólar, como nas crises do passado. Contas robustas passam segurança.

Esses são elementos que dão sustentaçã­o ao anúncio de Meirelles sobre a recuperaçã­o da economia. A esta altura, apostar em que 2018 apresente um avanço do PIB próximo dos 3,0% não é ousadia demais. O PIB já caiu tanto que é mais provável que se recupere do que continue afundando.

O lado vulnerável está concentrad­o no flanco fiscal. As contas públicas estão em estado lastimável. O que dá alguma esperança de reversão – não agora, mas dentro de certo tempo –é a determinaç­ão do governo de arrancar do Congresso algum nível de reforma da Previdênci­a Social, ainda neste ano. Mas esse aí é o âmbito da política propriamen­te dita. A dúvida é se o governo Temer, na fragilidad­e em que se encontra, terá capital político para impor o seu jogo.

Há ainda os desdobrame­ntos da Lava Jato, as surpresas do Judiciário e os tais imponderáv­eis com que sempre contava nos anos 40 o senador Benedito Valadares. Mas vá saber em que pratos da balança podem ser colocados fatores assim, impossívei­s de serem medidos.

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