Na Venezuela, governo e oposição tentam diálogo
Expectativa. Governo venezuelano e aliança opositora enviam delegados a Santo Domingo, mas MUD apresenta lista de exigências e ressalta que este não é o início de um diálogo formal com Caracas; outras tentativas de aproximação fracassaram, como em 2014
Delegados do governo e da oposição da Venezuela chegaram ontem à República Dominicana em mais uma tentativa de retomar o diálogo para solucionar a grave crise política venezuelana. O encontro foi negociado pelo presidente Danilo Medina, pelo ex-premiê espanhol José Luis Rodríguez Zapatero e ocorre semanas depois da instalação da Assembleia Constituinte denunciada como golpe pelos antichavistas.
O presidente Nicolás Maduro confirmou, na madrugada de ontem, o envio ao encontro do prefeito do distrito caraquenho de Libertador, Jorge Rodríguez, e elogiou a decisão da coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) de aceitar o convite de Zapatero.
Delegados da MUD já se encontram na República Dominicana. Fazem parte do grupo o presidente da Assembleia Nacional, Julio Borges, os deputados Eudoro González e Luis Florido e os dirigentes Gustavo Velásquez e Timoteo Zambrano, que se reunirão com Medina.
Rodríguez, por sua vez, coordenou a equipe que participou de um diálogo fracassado no final de 2016. Desde a posse de Maduro, que chegou ao poder em 2013, outras tentativas de diálogo fracassaram, como as negociações que se seguiram aos protestos de rua de 2014, intermediadas pelo Vaticano.
Mais de uma vez a MUD acusou o chavismo de tentar ganhar tempo com as propostas de diálogo, sem ter a real intenção de fazer concessões. A oposição venezuelana liderou protestos de rua que deixaram ao menos 125 mortos no país, de abril até a instalação da Constituinte. Com a promessa do governo de realizar eleições regionais este ano e os líderes opositores dedicados à campanha, os atos perderam força. Parte dos manifestantes mostrou insatisfação com os políticos antichavistas e sua disposição à interlocução com o governo.
Borges advertiu que um diálogo formal só será possível se Maduro cumprir com as exigências da MUD e se houver um acompanhamento internacional. Entre essas exigências estão a criação de um cronograma eleitoral que inclua eleições presidenciais até o final de 2018, a libertação de 590 presos políticos e o respeito ao Legislativo, assim como o fim do veto a alguns candidatos da oposição
Além disso, o ex-presidente da Assembleia Nacional, Henry Ramos Allup, defendeu a criação de uma comissão composta por dois países escolhidos pelo chavismo, dois pela oposição, e o secretário-geral da ONU, António Guterres, como mediador do diálogo.
“Posso dizer que muitos dos pontos que estão na agenda certamente serão discutidos hoje, por isso estamos muito perto de conseguir” disse Rodríguez, que estava acompanhado de sua irmã, Delcy Rodríguez, presidente da Assembleia Constituinte. Em nota, a MUD ressaltou que o envio da delegação não representa o início de um diálogo formal com o governo. “Para um diálogo de verdade, devem estar envolvidos o Vaticano, a ONU, os governos democráticos com peso no mundo e haver uma agenda clara e com garantias. Se isso é possível? Maduro tem a resposta”, disse o líder opositor Henrique Capriles.
Guterres, por sua vez, manifestou seu pleno apoio à iniciativa de um diálogo na Venezuela, destacando que a crise no país exige uma solução política com base no diálogo. O secretáriogeral da ONU exortou o governo e a oposição a “aproveitarem a oportunidade para demonstrar seu compromisso em abordar os desafios do país através da mediação e de meios pacíficos”.
Acordo •
“Para um diálogo de verdade, devem estar envolvidos o Vaticano, a ONU, os governos democráticos com peso no mundo e haver uma agenda clara e com garantias. Se isso é possível? Maduro tem a resposta”
Henrique Capriles
LÍDER OPOSITOR E
GOVERNADOR DO ESTADO
DE MIRANDA