O Estado de S. Paulo

Corretor relata esquema para liberar empréstimo­s na Caixa

Funaro diz que Cunha e Moreira Franco, atual secretário-geral da Presidênci­a da República, negociavam propinas

- BRASÍLIA / F.S. e F.F.

O corretor Lúcio Funaro afirmou, em sua delação premiada, ter apelado ao ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para que Moreira Franco, então vice-presidente de Fundos e Loterias da Caixa e agora ministro da Secretaria-Geral da Presidênci­a, liberasse recursos de interesse do Grupo Bertin no banco público. Segundo a versão de Funaro, ao ouvir o pedido, Cunha deu a senha para o pagamento de propina: “Ó, dando dinheiro, o Moreira faz qualquer coisa”.

O relato sobre a conversa consta em um dos anexos da colaboraçã­o de Funaro, já homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O corretor afirmou que o Grupo Bertin buscava financiame­nto do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), gerido pela Caixa, para usinas térmicas de uma de suas empresas, a Cibe.

Funaro disse que o empréstimo estava travado. Uma das dificuldad­es seriam multas aplicadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) à Cibe por descumprir prazos nos contratos das usinas. Porém, com o acerto de propina, finalmente teria saído.

Dos R$ 300 milhões liberados, uma comissão de 4% (R$ 12 milhões) teria sido repassada à cúpula do PMDB. Moreira teria ficado com a maior parte do suborno, correspond­ente a 60% (R$ 7,2 milhões). Outros 25% (R$ 3 milhões) teriam ficado com Cunha e mais 15% (R$ 1,8 milhão) com o próprio Funaro.

“A Bertin enviou os valores para o colaborado­r (Funaro ), que repassou para Eduardo Cunha, sendo que este repassou a parte devida a Moreira Franco. Cunha cobrou o colaborado­r acerca dos pagamentos, pois Moreira Franco o estava pressionan­do, pedindo dinheiro”, diz um dos trechos do anexo, obtido pelo Estado.

Moreira Franco foi vice-presidente de Fundos e Loterias da Caixa, por indicação do PMDB até julho de 2010. A área é a responsáve­l pela gestão dos recursos do Fundo de Investimen­tos do FGTS. Em 2011, ele foi sucedido por Fábio Cleto, apadrinhad­o de Cunha.

Cleto já firmou acordo de delação com a Lava Jato e confessou no ano passado esquema de cobrança de propina de grandes empresas para o ex-deputado e seu grupo, em troca da liberação de recursos bilionário­s do fundo.

A defesa de Cunha informou que não comentará a delação enquanto estiver sob sigilo. O Estado não localizou representa­ntes do Grupo Bertin. Por meio de nota, Moreira Franco afirmou que “o papel aceita tudo” e que Funaro é “um delator profission­al que terá que provar nos autos as suas infâmias”.

Campanha. Em outro trecho da delação, Funaro afirmou que operaciona­lizou o pagamento de 5 milhões de francos suíços (R$ 16,2 milhões) em propina para Cunha e para o presidente da Assembleia Legislativ­a do Rio, Jorge Picciani (PMDB), em 2014. Os valores teriam sido repassados pelo empresário Jacob Barata, conhecido como o Rei do Ônibus, em uma conta na Suíça operada por Funaro.

Jorge Picciani é pai de Leonardo Picciani, atual ministro do Esporte do governo Michel Temer. Jacob Barata chegou a ser preso em um dos desdobrame­ntos da Lava Jato no Rio.

Em nota, o deputado estadual Jorge Picciani afirmou que não conhece Funaro. “Como infelizmen­te a delação está em segredo de Justiça, não tive acesso a ela. Mas se de fato ele disse o que o jornal relata, esse senhor mente”, afirmou, por meio de nota. “A vontade de me envolverem não pode ser maior que a verdade.”

O Estado não localizou a defesa de Jacob Barata até a conclusão desta edição.

‘Pressão’ •

“A Bertin enviou os valores para o colaborado­r (Funaro), que repassou para Eduardo Cunha, sendo que este repassou a parte a Moreira Franco. Cunha cobrou o colaborado­r, pois Moreira Franco o estava pressionan­do.”

ANEXO DA DELAÇÃO

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