O Estado de S. Paulo

Decisão enfraquece estratégia da defesa

- Thomaz Pereira PROFESSOR DA FGV DIREITO RIO

Rodrigo Janot acusa Michel Temer de corrupção. Michel Temer acusa Rodrigo Janot de parcialida­de. Já denunciado uma vez, e na expectativ­a de uma eventual segunda denúncia, para se defender, o presidente se diz vítima de perseguiçã­o política.

As acusações de Janot contra Temer, enquanto ele estiver na Presidênci­a, dependem de autorizaçã­o da Câmara dos Deputados para serem julgadas. A acusação de Temer contra Janot acabou de ser decidida pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Em decisão unânime, segundo os nove ministros que participar­am do julgamento, não há indicação de que Janot acuse Temer por motivos pessoais, o faz por dever de ofício. Não há a suspeição do procurador-geral.

Tão importante quanto a decisão em si é o seu tempo. Faltando alguns dias para o fim do mandato de Janot, não faria sentido decidir sobre a suspeição depois que ele saísse do cargo. A acusação de Temer permanecer­ia sem resposta.

No curto prazo, decidindo agora, o STF abriu caminho para que, caso queira, Janot encerre seu mandato apresentan­do nova denúncia contra Temer – sem a arguição de suspeição sobre sua cabeça.

No médio prazo, com Raquel Dodge assumindo a Procurador­ia-Geral da República nos próximos dias, e com o pronunciam­ento do STF, será mais difícil imputar eventuais diferenças entre eles à parcialida­de de Janot.

De qualquer forma, no longo prazo, com a chegada de Raquel e com o afastament­o da alegação de suspeição de Janot, fica enfraqueci­da essa estratégia da defesa. Quando o Judiciário finalmente analisar as denúncias contra Temer, ele terá de se defender no mérito.

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