ONU quer fim de extermínio em Mianmar
Secretário-geral denuncia ‘limpeza étnica’ da minoria rohingya pelas forças de segurança
O secretário-geral da ONU, António Guterres, e o Conselho de Segurança pediram ontem a Mianmar que acabe com a violência contra a minoria muçulmana rohingya, que já provocou a fuga de cerca de 400 mil pessoas para Bangladesh.
Guterres disse que a situação no Estado de Rakhine seria mais bem descrita como “uma limpeza étnica”. Ele pediu o fim das operações militares e o reconhecimento de retorno de todos que tiveram de deixar Mianmar em razão da violência das forças de segurança.
Pressionada a se pronunciar sobre o assunto, mas tentando manter um frágil equilíbrio em suas relações com o poderoso Exército birmanês, a líder de Mianmar, Aung San Suu Kyi, se pronunciará sobre a crise na semana que vem. A ex-dissidente e ganhadora do prêmio Nobel da Paz está sendo duramente criticada pela comunidade internacional por sua posição ambígua sobre a situação da minoria muçulmana em Mianmar.
Em sua única declaração oficial a respeito da crise, durante uma conversa telefônica, na semana passada, com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, Suu Kyi denunciou a “desinformação” sobre os rohingyas e defendeu a ação do Exército.
Ela cancelou ontem a viagem que faria no fim do mês a Nova York para participar da Assembleia-Geral da ONU. Em 2016, Suu Kyi prometeu, na ONU, respaldar os direitos da minoria muçulmana e afirmou que era “firmemente contra o preconceito e a intolerância”.
Em uma carta aberta ao Conselho de Segurança, vários prêmios Nobel da Paz pediram à comunidade internacional que adote “ações corajosas e decisivas” para resolver a crise em Rakhine. O texto é assinado, entre outros, pelo bengalês Muhamad Yunus, pela paquistanesa Malala Yousafzai e pelo bispo sul-africano Desmond Tutu.
O grupo propôs uma discussão sobre os direitos dos rohingyas para resolver a violência sectária de Mianmar em Rakhine, com medidas para acelerar o processo de verificação do status de cidadania e considerar a concessão de nacionalidade aos muçulmanos.
Um milhão de rohingyas vive em Mianmar, alguns há várias gerações. São muçulmanos sunitas que falam um dialeto de origem bengali utilizado no sudeste de Bangladesh, de onde são originários. Considerados apátridas em Mianmar, os rohingyas são vítimas de múltiplas discriminações.
A crise começou em 25 de agosto, quando um ataque de um grupo insurgente rohingya contra policiais e militares no Estado de Rakhine, no noroeste de Mianmar, foi respondido com uma operação militar. A formação insurgente Exército de Salvação Rohingya de Arakan (Arsa) declarou, no sábado, um cessar-fogo de um mês para permitir a entrada de ajuda humanitária, o que foi rejeitado pelo governo birmanês.