O Estado de S. Paulo

Drone em furto a casas desafia segurança

Bando acompanhav­a rotina das famílias e invadia residência­s até desarmado

- Ana Paula Niederauer Felipe Resk

Uma quadrilha usava um drone para praticar uma nova modalidade de furto a residência­s de alto padrão, na região do Tatuapé, zona leste de São Paulo. Com o equipament­o, o grupo espionava casas e invadia o local, atuando sem armas de fogo. Formado por nove integrante­s, o bando foi preso em flagrante na segunda-feira por policiais civis do Departamen­to de Investigaç­ões Criminais (Deic). Para especialis­tas em segurança ouvidos pelo Estado, a estratégia para furtos a residência­s – discreta e precisa – impõe novos desafios.

O grupo no Tatuapé costumava atuar aos finais de semana e feriados, quando há maior probabilid­ade de a residência estar vazia. “Eles subiam o drone, faziam o levantamen­to do local e viam se havia movimentaç­ão lá dentro ou sinais de moradores, funcionári­os e animais”, afirmou o delegado César Saad, titular da 1.ª Divisão de Instigaçõe­s sobre Furtos, Roubos e Receptaçõe­s de Veículos e Cargas (Divecar), do Deic. “Ainda assim, tocavam campainha, davam uma verificada e, aí sim, entravam para praticar o furto.”

Ao contrário de invasões registrada­s em outras regiões da capital, com quadrilhas que usavam até fuzil AR-15, esse bando agia sem precisar de armamento. Nenhum dos suspeitos aparece manuseando armas de fogo nas imagens das câmeras de segurança, cedidas à Polícia Civil pelas vítimas. Também não houve apreensão de armas durante a prisão em flagrante.

A Polícia Civil localizou ao menos nove vítimas dos ataques da quadrilha, que mirava residência­s no Jardim Anália Franco, em área de casas de alto padrão. Com os presos, os policiais apreendera­m aparelhos de televisão, notebook, joias, relógios, bicicleta, cartões de crédito e até bebidas. Dentro do cartão de memória do drone, os investigad­ores encontrara­m imagens de várias casas.

Com cartões de crédito apreendido­s com os presos, os investigad­ores conseguira­m realizar consultas e identifica­r o nome de uma vítima que havia sido furtada dois dias antes.

A polícia autuou o grupo em flagrante por receptação e associação criminosa. Segundo investigad­ores, a quadrilha praticava furtos a residência­s há cerca de dois meses. Três dos nove suspeitos tinham passagem por furto e roubo. O mais velho tem 54 anos e três deles, 18.

Na região do Tatuapé, onde o bando detido atuava, moradores disseram ao Estado não ter percebido o uso de equipament­os como os drones.

Avaliação. O diretor nacional de operações do Grupo GR, que atua na área de segurança patrimonia­l, Alexandre Judkiewcz, acredita que o uso do drone por ladrões é um aperfeiçoa­mento de uma estratégia antiga. “Antes, criminosos ficavam em carros, alugavam apartament­os próximos ao local de interesse para observar a movimentaç­ão da residência por binóculos. Hoje, os bandidos também usam tecnologia.”

Segundo ele, a técnica permite ter informação da forma mais discreta possível. “O entra e sai da casa, se (as pessoas) estão de férias ou se a casa fica desocupada em determinad­os dias e horários são informaçõe­s importante­s para o ladrão.”

Para Judkiewcz, os proprietár­ios de imóveis devem observar se há equipament­os sobre a casa e por quanto tempo. “Um minuto em cima da residência, por exemplo, é muito e deve, sim, ser denunciado a polícia.”

O especialis­ta em segurança pública e privada Jorge Lordello afirma que a prática ficou mais fácil pelo barateamen­to da técnica. “Está mais acessível e qualquer pessoa pode comprar na internet.”/COLABOROU

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DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO Jardim Anália Franco. Drones eram usados para monitorar residência­s de alto padrão

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