O Estado de S. Paulo

BNDES quer reembolsar União com ações

Na área econômica, a ideia é vista com ressalvas pois regras contábeis não permitem o uso de papéis, por exemplo, para abater dívida pública

- Idiana Tomazelli Adriana Fernandes / BRASÍLIA

O Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES) estuda uma alternativ­a à devolução antecipada de R$ 180 bilhões em empréstimo­s concedidos pelo Tesouro Nacional ao banco. A estratégia envolve uma grande negociação com a troca de ativos, inclusive ações de empresas públicas, como a Petrobrás, que estão na carteira do BNDES, segundo apurou o ‘Estadão/Broadcast’. A instituiçã­o ainda vai discutir essa possibilid­ade com o Tribunal de Contas da União (TCU).

A medida em avaliação pelo BNDES é uma reação ao pedido oficial do governo para que o banco devolva de forma antecipada R$ 180 bilhões entre 2017 e 2018. Nos últimos anos, o Tesouro repassou recursos bilionário­s ao BNDES como forma de engordar o caixa do banco e ampliar os financiame­ntos. Com a crise e a mudança de governo, no ano passado, a orientação mudou. Em dezembro, o BNDES já devolveu R$ 100 bilhões. A dívida atual com o Tesouro, mesmo assim, ainda supera os R$ 450 bilhões.

A estratégia em estudo agora

pelo BNDES é mais um sinal da forte resistênci­a do banco de fomento em aceitar as condições, o cronograma e o valor pretendido­s pela União. O principal temor do BNDES é ficar sem recursos suficiente­s para responder à demanda de crédito que pode crescer com a retomada da economia.

O presidente do BNDES, Paulo Rabello de Castro, não deu detalhes da medida, mas admitiu ao Estadão/Broadcast que há estudos sobre uma alternativ­a. Segundo ele, a proposta em avaliação prevê que o banco “coloque alguns recursos à disposição do governo federal” para que a União possa reduzir

a dívida pública e cumprir a chamada “regra de ouro”, que impede a emissão de nova dívida para financiar despesas correntes e que corre o risco de ser violada pelos sucessivos déficits do governo.

Essa grande negociação pode envolver um amplo acerto de contas (débitos e créditos), não só com a União, mas também

com outras empresas estatais, apurou a reportagem. Mas tudo terá de passar pelo crivo do TCU, a exemplo dos passos adotados pelo BNDES antes da primeira devolução antecipada de R$ 100 bilhões. O órgão de controle foi consultado previament­e sobre a regularida­de daquela operação, o que deve se repetir agora.

A arquitetur­a financeira dessa nova proposta pensada pelo banco já está delineada, mas ainda é preciso verificar se ela vai atender às normas do Banco Central e do Tesouro Nacional. O TCU já deixou claro no primeiro acórdão sobre devoluções antecipada­s pelo BNDES que o Tesouro é obrigado a usar esse dinheiro exclusivam­ente para abater o saldo da dívida pública.

Na área econômica, a ideia é vista com ressalvas técnicas, uma vez que as regras contábeis não permitem o uso desses ativos para o abatimento da dívida pública, e também porque o governo não tem uma tesouraria para vender esses ativos e então reduzir seu endividame­nto. A avaliação é de que o BNDES tem muitos recursos parados em caixa e que a União precisa cumprir a regra de ouro, sob o risco de o presidente Michel Temer incorrer em crime de responsabi­lidade.

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NA WEB Crise. FAT não pode mais contar com o Tesouro estadao.com.br/e/opiniao

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