Outra opção na Paulista
Instituto Moreira Salles está pronto para abrir as portas
O Instituto Moreira Salles (IMS) abre finalmente, no dia 20, sua sede em São Paulo, onde foram investidos R$ 150 milhões, segundo revelou o superintendente executivo Flávio Pinheiro durante entrevista coletiva, ontem, que antecedeu uma visita guiada pelos nove andares do prédio na Avenida Paulista, 2.424. Acompanhado na entrevista pelo curador de programação e eventos do IMS, o crítico Lorenzo Mammì, Pinheiro deixou claro na coletiva que a liberdade de expressão vai guiar – “com sempre guiou”, acrescentou – os passos do instituto, referindo-se ao recente episódio do encerramento, no domingo, dia 10, da exposição Queermuseu, no Santander Cultural de Porto Alegre, por pressão de grupos conservadores.
Citando o primeiro livro publicado pela escritora Clarice Lispector, Perto do Coração Selvagem (1944), em que a autora faz a apologia da liberdade, elegendo uma protagonista transgressora, Pinheiro reafirmou o compromisso do instituto de não ceder jamais à censura da expressão artística. Vale lembrar que o instituto já abre suas portas com uma exposição do fotógrafo suíço, radicado nos EUA, Robert Frank, outro libertário, amigo dos beats, que, aos 93 anos, talvez venha para a inauguração, se sua saúde permitir. De qualquer forma, ele mandou para São Paulo parte de seu arquivo pessoal e seus livros. Frank também está representado por 83 imagens de sua série mais conhecida, Os Americanos, registro iconográfico dos tipos humanos que circulavam pelos EUA nos anos 1950, incluindo especialmente os segregados – por raça, posição social ou opção sexual.
O prédio do IMS, que parece um tanto estreito visto de fora, é extremamente bem solucionado em termos arquitetônicos nos interiores. Cada exposição ocupa praticamente um andar inteiro. Além da mostra de Robert Frank, a programação inaugural traz a premiada videoinstalação The Clock, do norte-americano Christian Marclay. Durante o período de exibição, até 19 de novembro, The Clock terá nove apresentações de 24 horas, sempre de sábado para domingo – a instalação, feita de fragmentos de filmes que mostram relógios, aponta exatamente a hora em que o espectador está assistindo ao vídeo.
Quatro andares da nova sede do instituto, que ocupam 1.200 metros quadrados de área, são dedicados exclusivamente a exposições. Além das mostras de Robert Frank e Christian Marclay, o IMS programou para a abertura a exposição Corpo a Corpo, um recorte da produção contemporânea brasileira em fotografia, cinema e vídeo, que tem entre os artistas selecionados Jonathas de Andrade, Sofia Borges, Letícia Ramos e o coletivo Mídia Ninja. Outra mostra que inaugura o Estúdio da nova sede é São Paulo, Três Ensaios Visuais, com curadoria de Guilherme Wisnik, que mostra diversos pontos da metrópole fotografados no século 19 e a atual situação desses locais.
Além de exposições, o IMS, segundo Lorenzo Mammì, terá filmes e espetáculos de música, começando como uma homenagem a Pixinguinha (1897-1973), cujo acervo está sob a guarda do instituto. Na sede, funcionam ainda uma biblioteca que abriga livros raros de fotografia, um café e um restaurante. Entre os parceiros do IMS está o Instituto dos Arquitetos do Brasil, que cedeu em comodato ao instituto uma escultura do cinético americano Alexander Calder.