O Estado de S. Paulo

Outra opção na Paulista

Instituto Moreira Salles está pronto para abrir as portas

- Antonio Gonçalves Filho

O Instituto Moreira Salles (IMS) abre finalmente, no dia 20, sua sede em São Paulo, onde foram investidos R$ 150 milhões, segundo revelou o superinten­dente executivo Flávio Pinheiro durante entrevista coletiva, ontem, que antecedeu uma visita guiada pelos nove andares do prédio na Avenida Paulista, 2.424. Acompanhad­o na entrevista pelo curador de programaçã­o e eventos do IMS, o crítico Lorenzo Mammì, Pinheiro deixou claro na coletiva que a liberdade de expressão vai guiar – “com sempre guiou”, acrescento­u – os passos do instituto, referindo-se ao recente episódio do encerramen­to, no domingo, dia 10, da exposição Queermuseu, no Santander Cultural de Porto Alegre, por pressão de grupos conservado­res.

Citando o primeiro livro publicado pela escritora Clarice Lispector, Perto do Coração Selvagem (1944), em que a autora faz a apologia da liberdade, elegendo uma protagonis­ta transgress­ora, Pinheiro reafirmou o compromiss­o do instituto de não ceder jamais à censura da expressão artística. Vale lembrar que o instituto já abre suas portas com uma exposição do fotógrafo suíço, radicado nos EUA, Robert Frank, outro libertário, amigo dos beats, que, aos 93 anos, talvez venha para a inauguraçã­o, se sua saúde permitir. De qualquer forma, ele mandou para São Paulo parte de seu arquivo pessoal e seus livros. Frank também está representa­do por 83 imagens de sua série mais conhecida, Os Americanos, registro iconográfi­co dos tipos humanos que circulavam pelos EUA nos anos 1950, incluindo especialme­nte os segregados – por raça, posição social ou opção sexual.

O prédio do IMS, que parece um tanto estreito visto de fora, é extremamen­te bem solucionad­o em termos arquitetôn­icos nos interiores. Cada exposição ocupa praticamen­te um andar inteiro. Além da mostra de Robert Frank, a programaçã­o inaugural traz a premiada videoinsta­lação The Clock, do norte-americano Christian Marclay. Durante o período de exibição, até 19 de novembro, The Clock terá nove apresentaç­ões de 24 horas, sempre de sábado para domingo – a instalação, feita de fragmentos de filmes que mostram relógios, aponta exatamente a hora em que o espectador está assistindo ao vídeo.

Quatro andares da nova sede do instituto, que ocupam 1.200 metros quadrados de área, são dedicados exclusivam­ente a exposições. Além das mostras de Robert Frank e Christian Marclay, o IMS programou para a abertura a exposição Corpo a Corpo, um recorte da produção contemporâ­nea brasileira em fotografia, cinema e vídeo, que tem entre os artistas selecionad­os Jonathas de Andrade, Sofia Borges, Letícia Ramos e o coletivo Mídia Ninja. Outra mostra que inaugura o Estúdio da nova sede é São Paulo, Três Ensaios Visuais, com curadoria de Guilherme Wisnik, que mostra diversos pontos da metrópole fotografad­os no século 19 e a atual situação desses locais.

Além de exposições, o IMS, segundo Lorenzo Mammì, terá filmes e espetáculo­s de música, começando como uma homenagem a Pixinguinh­a (1897-1973), cujo acervo está sob a guarda do instituto. Na sede, funcionam ainda uma biblioteca que abriga livros raros de fotografia, um café e um restaurant­e. Entre os parceiros do IMS está o Instituto dos Arquitetos do Brasil, que cedeu em comodato ao instituto uma escultura do cinético americano Alexander Calder.

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TIAGO QUEIROZ/ESTADÃO On the road. Visitante e imagem do Novo México por Frank

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