O Estado de S. Paulo

‘É DESONESTO CHAMAR ISTO DE CRACOLÂNDI­A’

- / MARCELA PAES

“Melhor guardar o celular”, aconselha a ativista Rebeca Lerer. O aviso é para o neurocient­ista americano Carl Hart, que fotografav­a a polícia na Alameda Cleveland. É lá que se concentra, no momento, a maioria dos frequentad­ores da Cracolândi­a, que ele foi visitar ontem cedo. “É bizarra essa tentativa de mostrar a força policial de forma tão ostensiva”, observa o visitante, enquanto olha para os carros e inúmeros policiais que circulam pela área. Professor da Universida­de de Columbia e especialis­ta em dependênci­a química e uso de drogas, Hart havia visitado a área pela última vez no fim da gestão de Fernando Haddad. “Acho que tudo está mais concentrad­o e com menos privacidad­e”, comparou. Antes de guardar de vez o celular, ele fotografa um ônibus com o slogan Crack, É Possível Vencer. “Esse slogan é estúpido. O que as pessoas estão tentando vencer realmente?”, pergunta, irônico.

A acompanhá-lo, um grupo de mais ou menos dez pessoas – jovens do Grupo Movimentos, que une moradores de favelas para discutir políticas de drogas, mais a socióloga Julita Lemgruber e ativistas. À medida em que avançam pela rua são seguidamen­te abordados. “Eu costumava fumar mais de 40 pedras todo dia. Foi Deus quem me salvou”, diz um senhor de terno e gravata que passava pela área. Logo depois, um morador de rua tenta em vão se comunicar com Hart. “Não sei falar inglês”, lamenta, antes de se afastar e perguntar quem era o gringo.

“Não quero que pareça que estamos visitando um zoológico”, explica o professor. Para ele – que na adolescênc­ia chegou a traficar maconha em Miami –, mais do que viciadas, boa parte das pessoas no local são vítimas da pobreza, do racismo e de doenças mentais. “O que nós vemos aqui não é diferente do que se vê em áreas de Vancouver, por exemplo. Mas eles não chamam de Cracolândi­a. O uso dessa palavra permite que se descarte pessoas, classifica­ndo-as apenas como craqueiros. Isso é desonesto”, diz o professor. Quase no fim da visita, um frequentad­or da área é abordado por dois policiais militares em motociclet­as. Eles observavam de longe o deslocamen­to do grupo pelo quarteirão desde o início da visita. Armas em punho e revista chamam a atenção do americano, que, ignorando a instrução inicial, filma disfarçada­mente a cena.

 ??  ?? 4. 1. Bia Doria e o casal Heitor e Adriana Reis na abertura da BGA House – fundo de investimen­to em arte pertencent­e ao Banco Plural. 2. André Schwartz e Rodolfo Riechert – que, com Heitor Reis, decidiram colocar à venda parte do acervo do fundo exposto na casa.3. Fifo Anspach e Carol Abdalla.4. Chris e Rafael Robalinho. Anteontem, nos Jardins.
4. 1. Bia Doria e o casal Heitor e Adriana Reis na abertura da BGA House – fundo de investimen­to em arte pertencent­e ao Banco Plural. 2. André Schwartz e Rodolfo Riechert – que, com Heitor Reis, decidiram colocar à venda parte do acervo do fundo exposto na casa.3. Fifo Anspach e Carol Abdalla.4. Chris e Rafael Robalinho. Anteontem, nos Jardins.
 ??  ?? 1.
1.
 ?? SILVANA GARZANO/ESTADÃO ?? DROGAS
SILVANA GARZANO/ESTADÃO DROGAS
 ?? CHRISTINA RUFATTO/ ESTADÃO ?? 2.
CHRISTINA RUFATTO/ ESTADÃO 2.
 ??  ?? 3.
3.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil