O Estado de S. Paulo

‘Eu ainda tenho medo de sair na rua’

- Adolescent­e, de 16 anos, uma das vítimas de estupro

“Hoje revi toda a cena. Imaginei que isso só tivesse acontecido comigo. É uma coisa que me machuca muito. Como uma pessoa pode fazer isso? E ele me contou que era pai de família! Como uma pessoa que tem uma mulher dentro de casa e uma filha faz isso com uma menina? Isso é um absurdo. Na hora, eu tive muito medo – principalm­ente quando ele falava que ia me matar. Depois, quando passou, agradeci por estar viva, mas sentia muita raiva de mim. Olhava para o meu corpo e via ele encostando em mim, e isso me deu uma raiva muito grande – um nojo, sabe? Agora não sinto tanto, mas, nas últimas semanas, eu sentia muito. Teve uma hora que ele engatilhou a arma, apontou para a minha cabeça e falou: ‘Nossa, quase disparou’. E ria. Foi aí que vi era de verdade. Sei que a culpa não é minha e ele é um porco. Contando o que aconteceu – porque isso acontece todos os dias,com outras mulheres e algumas não têm coragem de contar, – eu posso ajudar. Para prevenir com outras, achei melhor fazer boletim de ocorrência, contar e vir reconhecer. E espero que não aconteça mais. Porque não tem só ele, sei disso. Eu ainda tenho medo de sair na rua, fazer as minhas coisas, mas com o tempo estou voltando. Estou começando a fazer coisas que fazia antes, mas ainda sinto medo. Com ele preso, me sinto mais tranquila. Um pouco mais segura de saber que eu vou sair na rua e não vou mais vê-lo. Mas com medo de que tenham outros na rua. Não consigo chegar perto de homens. Não sei se é coisa da minha cabeça, mas vejo o rosto dele nas pessoas. Tem pessoas que chegam perto de mim e acho que vão me pegar.”

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