Nuzman pede afastamento do COB e confederações pregam melhor gestão
Em carta feita na prisão, dirigente pede licença da presidência. Para evitar falta de repasses com escândalo, entidades agora querem repensar modelo
O que poderia ser um enorme legado esportivo no Brasil, trampolim para novos tempos, sobretudo depois da primeira Olimpíada na América do Sul, tornou-se um duro golpe no esporte olímpico. Uma paulada. Dirigentes presos – ontem, Carlos Arthur Nuzman pediu afastamento da presidência do COB por meio de uma carta – , fuga de patrocinadores e futuro incerto tiraram o brilho de uma competição marcada por alegria e bons resultados no Rio.
O momento serve para repensar as relações entre os poderes estabelecidos no esporte e tornar a gestão olímpica do País mais forte. Se antes dirigentes e atletas evitavam atritos por temer a perda de recursos importantes, ficando em silêncio em momentos turbulentos, agora começam timidamente a questionar e dar ideias para melhorar o esporte como um todo.
“Eu vejo essas coisas de maneira positiva. O erro se transforma em aprendizado. Estou confiante de que todo movimento e situação vão servir para esclarecer a responsabilidade de cada um e fazer melhor. Isso tudo faz parte do legado”, diz Marco Aurélio de Sá Ribeiro, presidente da Confederação Brasileira de Vela (CBVela).
Ele lembra que a entidade que comanda soube aproveitar o legado do Rio. A sede da CBVela foi construída com recursos da iniciativa privada e existe até eleições diretas agora. “Temos transparência. A partir do momento que uma entidade está dentro de uma estrutura de boa gestão, isso se transforma. Essa situação vai obrigar todo mundo a ter padrão de governança.”
Se em um primeiro momento os cartolas esportivos evitaram falar sobre a prisão de Nuzman, depois dos esclarecimentos os presidentes de confederações decidiram colocar seus pontos de vista sem medo. E, para além do aspecto político, o que impera é o lado financeiro, de muita dificuldade após os Jogos.
“A posição da CBAt não muda em relação à situação do COB, até porque não temos elementos jurídicos sólidos para comentar. A CBAt preocupa-se com o atletismo e com a situação esportiva do País, corte de verbas, tudo o que pode dificultar o desenvolvimento da modalidade até Tóquio”, diz José Antonio Martins Fernandes, presidente da Confederação Brasileira de Atletismo.
Francisco Ferraz, presidente da Confederação Brasileira de Badminton, foi um dos poucos a se manifestarem no dia da prisão temporária de Nuzman. “Para a gente não faz muita diferença no aspecto financeiro, pois nossos recursos já são bem re- duzidos. Não temos nenhum tipo de recurso privado. Somos prejudicados com a arrecadação baixa das loterias”, diz, lembrando que a entidade receberá neste ano quase R$ 2,3 milhões de repasses da Lei Agnelo Piva. “Esse valor ainda é parcelado.”
Apoio. A situação turbulenta no esporte olímpico pode afugentar patrocinadores, mas duas grandes marcas ouvidas pelo Estado, que têm histórico de investimento nas modalidades dos Jogos, garantiram que não vão mudar seus rumos. “A Coca-Cola Brasil mantém sua crença na importância do esporte para o desenvolvimento de uma sociedade plural, que zela pela inclusão social e pelo bemestar das pessoas”, disse a empresa em nota.
“A Nissan acredita no esporte como forma de transformação social e, por isso, apoia atletas com seu ‘Time Nissan 2.0’.
A empresa pretende manter seu planejamento inalterado nessa área”, informou a montadora, que patrocina 11 atletas de nove modalidades esportivas.
No lado de quem compete, a crise no movimento olímpico não pode afetar ainda mais as modalidades que já convivem com dificuldades. Para Hugo Hoyama, que representou o Brasil em seis edições dos Jogos Olímpicos, entre 1992 e 2012, a expectativa era outra após a competição no Rio.
“Na Olimpíada, por exemplo, tivemos bons resultados, a questão do público foi excelente. Mas infelizmente não ficou aquele legado que todos desejavam, de estrutura e verbas para cada confederação. E agora vem isso. Espero que depois de tudo isso acabar a gente possa ter ajuda”, argumenta.