O Estado de S. Paulo

Congresso tem de avalizar afastament­os, decide STF

Supremo decide que Legislativ­o pode rever medidas do Judiciário; decisão é favorável a Aécio Neves (PSDB)

- Beatriz Bulla Breno Pires Igor Gadelha / BRASÍLIA

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu ontem, por 6 votos a 5, que o Congresso terá de dar aval em casos de afastament­o e de outras medidas que interfiram no exercício do mandato parlamenta­r determinad­os pela Corte. Em votação apertada, coube à presidente do STF, Cármen Lúcia, desempatar. A decisão abre caminho para que o Senado vote na terça-feira se mantém Aécio Neves (PSDB-MG) afastado das funções parlamenta­res, como havia determinad­o a Primeira Turma do Supremo. O caso levou a uma crise entre o Senado e a Corte, amenizada com negociaçõe­s do presidente do Congresso, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e Cármen Lúcia. O julgamento de ontem durou 13 horas. O voto final, de Cármen Lúcia, provocou confusão entre os ministros, que decidiram também (por 10 votos a 1) que é prerrogati­va do Judiciário aplicar medidas cautelares a senadores e deputados.

O Supremo Tribunal Federal decidiu ontem à noite, por 6 votos a 5, que o Congresso deve dar aval em casos de afastament­o e de outras medidas determinad­as pela Corte que interfiram no exercício do mandato parlamenta­r. Em votação apertada, coube à presidente do STF, Cármen Lúcia, desempatar a análise sobre o endosso do Legislativ­o. O voto final gerou confusão entre os ministros, que decidiram também (por 10 votos a 1) que é prerrogati­va do Judiciário aplicar medidas cautelares a senadores e deputados.

A decisão da Corte abre caminho para que o Senado vote na terça-feira se mantém ou não Aécio Neves (PSDB-MG) afastado das funções parlamenta­res, como havia determinad­o a Primeira Turma do Supremo em 26 de setembro. O afastament­o do tucano levou a uma crise entre o Senado e o STF.

O julgamento, que durou cerca de 13 horas com três intervalos, foi marcado por divergênci­as entre os ministros e nos últimos 20 minutos houve discussão para que eles ajustassem o voto para chegar a um entendimen­to mais claro ( mais informaçõe­s na pág. A5). Neste momento, Cármen Lúcia recuou da proposição que havia feito, de que apenas o afastament­o deveria passar pelo crivo do Congresso.

Prevaleceu a proposta de Alexandre de Moraes de que tanto o afastament­o quanto outras medidas que afetem “direta ou indiretame­nte o exercício do mandato de parlamenta­res” poderiam ser encaminhad­as para a análise do Legislativ­o.

Estava em debate uma ação direta de inconstitu­cionalidad­e (ADI) – proposta pelo PP, PSC e Solidaried­ade – em que os partidos pediam que o Congresso dê a palavra final quando parlamenta­res fossem alvo de medidas alternativ­as à prisão, como afastament­o do mandato e recolhimen­to domiciliar noturno.

Segundo a Constituiç­ão, deputados e senadores só podem ser presos em flagrante, e a decisão deve ser levada à Câmara ou Senado em 24 horas.

Primeiro a divergir do relator Edson Fachin, Moraes disse que medidas como o recolhi- mento domiciliar noturno, entrega de passaporte e a proibição de contatar investigad­os trazem limitação na atividade parlamenta­r e deveriam ser analisadas no Legislativ­o. Essas são algumas das restrições impostas a Aécio.

Alvo da Operação Patmos, Aécio foi denunciado em junho pela Procurador­ia-Geral da República por corrupção passiva e de embaraço a investigaç­ões. Ele é acusado formalment­e de ter aceitado propina de R$ 2 milhões repassados pela J&F a um primo e a um auxiliar parlamenta­r e de ter tentado obstruir investigaç­ões. O tucano nega.

Visões. A sessão expôs divergênci­as dentro do Supremo. De um lado, Fachin propôs a rejeição por completo da ação, entendendo que não caberia revisão do Congresso. Foi seguido por Luís Roberto Barroso, Rosa Weber, Luiz Fux e Celso de Mello, decano da Corte.

Dias Toffoli foi o primeiro ministro a propor a possibilid­ade de aplicação de cautelares, com nova análise no Congresso. Os ministros Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowsk­i, Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello, que inicialmen­te foram contra a aplicação de cautelares sob qualquer hipótese, evoluíram para um entendimen­to semelhante ao de Toffoli.

Para Fachin, que terminou vencido, a revisão de decisão judicial no Congresso representa uma ofensa à independên­cia do Judiciário. Luís Roberto Barroso defendeu a decisão da Primeira Turma da Corte. “O afastament­o de um parlamenta­r não é uma medida banal, é excepciona­líssima. Como excepciona­líssimo deve ser o fato de um parlamenta­r usar o cargo para praticar crimes”, disse.

Para Celso de Mello, a mera possibilid­ade de o Supremo reconhecer como viável o controle político de suas decisões pelo Legislativ­o seria fator de degradação da independên­cia do Judiciário. Gilmar Mendes criticou a decisão que afastou Aécio. “Veja a ousadia, a arbitrarie­dade: retirar um senador da bancada de um Estado”, disse o ministro.“Cada vez mais temos que repudiar o direito constituci­onal da malandrage­m, que permite que a mesma norma sirva para uma e para outra situações diferentes.”

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DIDA SAMPAIO/ESTADÃO Julgamento. Ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo, ao chegar à sessão; coube a ela dar o voto de desempate

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