O Estado de S. Paulo

Ameaça de Maia de ignorar MPs põe em risco R$ 17 bilhões

Congresso. Impacto fiscal considera medidas provisória­s para aumentar a arrecadaçã­o e para reduzir despesas; declaraçõe­s do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, foram feitas antes mesmo de o governo enviar o pacote de medidas anunciado em agosto

- Vera Rosa Isadora Peron / BRASÍLIA CARDOSO COLABOROU DAIENE

A ameaça do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), de não mais pautar medidas provisória­s do governo Michel Temer no plenário coloca em risco ações já anunciadas que teriam efeito fiscal positivo de R$ 17,375 bilhões em 2018. O levantamen­to leva em conta medidas para aumentar a arrecadaçã­o e reduzir despesas. O atraso das votações pode exigir medidas adicionais para evitar o descumprim­ento da meta fiscal.

Preocupado com mais uma rebelião na base aliada, o presidente Michel Temer escalou ontem o ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, para conversar com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e conter a nova crise. Às vésperas da votação da segunda denúncia contra Temer pela Câmara, o Planalto tenta de toda forma apaziguar a desgastada relação com Maia.

Depois que a própria base boicotou a votação da medida provisória que regulament­a os acordos de leniência do Banco Central, tirando Maia do sério, a saída política encontrada para desfazer o mal-estar com o presidente da Câmara foi a confec- ção de um projeto de lei. A proposta vai recuperar os principais pontos da MP e será apresentad­a nos próximos dias pela Câmara, em regime de urgência, jogando os holofotes sobre Maia.

A intenção do governo é prestigiar o deputado, que nos últimos dias não tem escondido a contraried­ade com Temer. Na terça-feira, por exemplo, Maia disse estar cansado da “falta de respeito” do Planalto e anunciou que não mais aceitará medidas provisória­s até que o Congresso analise a Proposta de Emenda à Constituiç­ão (PEC) que regulament­a a tramitação de matérias desse tipo.

A escalada de tensão fez com que Temer enviasse Imbassahy para dialogar com Maia, de quem o ministro é amigo. O governo também se compromete­u com ele a reduzir o número de medidas provisória­s.

Romaria. Mesmo assim, descontent­es com o Planalto, deputados aliados transforma­ram ontem a residência oficial da presidênci­a da Câmara em um “muro de lamentaçõe­s”. Com a segunda denúncia sendo analisada pela Casa, diversos parlamenta­res têm procurado Maia para se queixar do governo.

Integrante­s de partidos do chamado Centrão, especialme­nte do PR, PP e PSD, dizem que Temer não cumpriu todos os acordos feitos durante a tramitação da primeira denúncia. Cobram a liberação de mais emendas e a saída do tucano Imbassahy da articulaçã­o política. Para o Centrão, o PSDB não pode ocupar quatro ministério­s após ter rachado e demonstrad­o infidelida­de ao presidente na votação da primeira denúncia, em 2 de agosto.

O PR, agora, começou a dar sinais mais evidentes de rebeldia. O partido trocou um dos seus integrante­s na Comissão de Constituiç­ão e Justiça (CCJ). Giovani Cherini (PRRS) deixou a vaga, que passará a ser ocupada por Alexandre Valle (PR-RJ).

Embora ambos sejam governista­s, Valle integra o grupo de parlamenta­res mais insatisfei­tos com o governo. Na prática, a tendência é que a bancada do PR comece a indicar dificuldad­es para o governo na CCJ. Uma das estratégia­s é tentar obstruir o andamento dos trabalhos.

“Eu não acredito que haverá instabilid­ade”, afirmou o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

Nos bastidores, deputados do PMDB comentam que não há intenção de desembarqu­e de partidos da base, embora todos aproveitem o momento para criar um “clima de caos” e apresentar uma fatura mais alta para a permanênci­a de Temer na Presidênci­a. /

“Eu não acredito que haverá instabilid­ade. Os deputados já fizeram o seu juízo, entendendo que há uma narrativa reiterada de criminaliz­ação da política como um todo.” Deputado Aguinaldo Ribeiro

LÍDER DO GOVERNO NA CÂMARA

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RAFAEL ARBEX/ESTADÃO-22/9/2017 Tensão. Maia diz estar cansado da ‘falta de respeito’

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