O Estado de S. Paulo

Serviço de ônibus piora na capital

Transporte. Das 32 empresas que operam no sistema, apenas seis foram avaliadas com desempenho bom, segundo índice da própria SPTrans; valor repassado pela Prefeitura às viações até setembro é 18% mais alto do que no mesmo período de 2016

- Bruno Ribeiro /COLABOROU PRISCILA MENGUE

O serviço de ônibus de São Paulo piorou, diz pesquisa da SPTrans. O número de empresas avaliadas com “bom” caiu de 20, em janeiro, para seis em agosto.

A qualidade da operação dos ônibus na cidade de São Paulo teve queda em avaliação feita pela São Paulo Transporte (SPTrans), órgão da Prefeitura que administra o sistema. A piora ocorre no ano em que a idade média da frota atingiu o patamar mais alto desde 2006, com coletivos com mais de 10 anos operando o serviço, além de redução do total de viagens. O custo do sistema, porém, está mais elevado neste ano.

A avaliação mensal da operação dos coletivos é feita pelo Índice de Qualidade do Transporte (IQT), nota que a SPTrans) dá às empresas, consideran­do o número de falhas, cumpriment­o de partidas programada­s, limpeza e conservaçã­o de veículos, entre outros itens. As notas são usadas no cálculo da remuneraçã­o das empresas.

Entre as 32 empresas que operam no sistema, só seis foram avaliadas com desempenho bom em agosto, dado mais recente. Em janeiro, 20 tinham essa nota. O total de empresas com serviço considerad­o regular subiu de 11 para 23 no período. Três tiveram nota ruim em agosto – era uma em janeiro.

A tradução desses números, segundo passageiro­s, está no maior tempo de viagem e nos atrasos. “O problema maior é a demora”, afirma a estudante Emily Santos, de 18 anos, usuária de linha que sai de Pirituba e vai até perto do Parque do Jaraguá, na zona norte. Segundo as planilhas da SPTrans, deveriam ser seis partidas por hora - uma cada dez minutos. Emily afirma já ter esperado 20 minutos por um coletivo.

Entre janeiro e agosto, dado mais recente, houve 1,909 bilhão de viagens pelos ônibus da cidade – cada viagem significa uma vez que a catraca é girada. Ante o mesmo período do ano passado, houve queda de 22 milhões de viagens. Já o total de ônibus em circulação caiu de 14,7 mil veículos em janeiro para 14,4 mil em setembro.

A quantidade de linhas canceladas cresceu. No primeiro semestre, foram 33 linhas canceladas e 13 abertas. No mesmo período do ano passado, foram 13 cancelada se 13 novas. No total, acidade tem 1.342 linhas.

“Antes, eu tomava só um ônibus para ir para o centro. Agora, tenho de tomar um ônibus, descer no Terminal Piri tuba, esperar por mais um ônibus e aí seguir viagem ”, reclama adona de casa Vera Gomes, de 61 anos, moradora do Jardim Líbano, também na zona norte, que usa o ônibus três vezes por semana para fazer um curso no centro.

A frota de ônibus comuns também está mais velha, com idade média de seis anos – o que vem aumentando desde 2014. Pelos contratos originais da SPTrans comas empresas, acidade não poderia ter veículos com mais de 10 anos em operação. Mas basta ficar nos pontos e terminais para ver coletivos fabricados em 2006. Todos os veículos têm o ano de fabricação e o mês de entrada em operação escrito abaixo da janela do motorista. Ônibus mais antigos podem resultar em mais defeitos e, por isso, atrasos. A SPTrans diz que veículos novos foram postos em operação (veja mais nesta página).

Apesar da queda de viagens e de veículos, o sistema está mais caro. O gasto da gestão João Do ria (PSDB) com subsídios às empresas de ônibus entre janeiro e setembro foi 18% maior (R$ 337 milhões, em valores reais) do que no mesmo período de 2016. Esse montante pago pela Prefeitura, que já passa de R$ 2,2 bilhões, complement­a a receita obtida com a venda de passagens. A tarifa unitária congelada a R$ 3,80, promessa de campanha de Doria, também contribui para o aumento do subsídio.

A SPTrans espera reduzir esse gasto com o combate a fraudes no bilhete único e mudanças em gratuidade­s, como o passe estudantil. Contrato. A piora na avaliação ocorre em meio a atrasos da Prefeitura em lançar nova licitação para o serviço, que havia sido prometida para agosto. Os contratos vigentes são aditivos a acordos assinados em 2003, que se transforma­ram em contratos emergencia­is assinados para não interrompe­r a operação. A Prefeitura afirma esperar definição da Câmara Municipal para publicar os novos editais.

Porta-voz do setor e presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiro­s de São Paulo (S- PUrbanuss), Francisco Christovam relaciona o envelhecim­ento da frota à demora para realizar a nova licitação. “Tive hoje ( ontem) reunião com o BNDES ( o Banco Nacional de Desenvolvi­mento Econômico e Social) para tratar disso. O problema é que não temos contrato vigente, os nossos terminam no fim do ano. Assim, não temos garantias para oferecer aos bancos quando buscamos financiame­nto para a compra de veículos novos”, diz. “Empresário não gosta de ônibus velho. Dá mais manutenção, aumenta os custos.”

Para ele, “os dados mostram a consequênc­ia e não a causa” dos problemas. Christovam cita buracos no asfalto e semáforos quebrados como fatores que contribuem para atrasos. Além disso, pondera que a redução de coletivos em circulação não significa necessaria­mente prejuízo ao passageiro, uma vez que os ônibus comuns podem ter dado lugar aos veículos articulado­s, de maior porte.

Professor do da Escola Politécnic­a da Universida­de de São Paulo (USP), Cláudio Barbieri destaca problemas da substituiç­ão do ônibus comum para o articulado. “Os articulado­s não são feitos para todas as vias. Tem lugares que, para fazer a curva, eles têm de bloquear até três faixas”, afirma. Ele também diz ser possível que buracos e semáforos quebrados prejudique­m. “A questão é descobrir o quanto atrapalham.”

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FONTE: SÃO PAULO TRANSPORTE (SPTRANS) INFOGRÁFIC­O/ESTADÃO
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FELIPE RAU/ESTADÃO Queda. Houve redução de 22 milhões no nº de viagens
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‘O problema maior é a demora’, afirma a estudante Emily Santos
GABRIELA BILO / ESTADAO-9/10/2017 Dificuldad­e. ‘O problema maior é a demora’, afirma a estudante Emily Santos

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