O Estado de S. Paulo

Crítico de pedaladas contesta banca de concurso da USP

Após caso de Janaina Paschoal, autora do impeachmen­t, docente de Direito Financeiro ameaça entrar na Justiça

- Marianna Holanda William Castanho

Um dos especialis­tas em direito financeiro responsáve­is por apontar a prática de crime de responsabi­lidade de Dilma Rousseff nas pedaladas fiscais durante o impeachmen­t, José Maurício Conti ameaça entrar na Justiça contra uma banca de concurso de professor titular da Faculdade de Direito da Universida­de de São Paulo. Reprovada em disputa na área penal, Janaina Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachmen­t da petista, alegou ontem sofrer “perseguiçã­o” na instituiçã­o.

Questionad­o se é alvo de per- seguição, Conti disse que “é possível”. “Não é concreto, envolve muita subjetivid­ade. Não tenho dito que isso ocorreu, ou que não ocorreu. Há uma coincidênc­ia, mas não gosto de fazer consideraç­ão de caráter subjetivo”, afirmou o professor, que é juiz de direito. No Twitter, após publicação de reportagem do Estado, Janaina levantou a suspeição: “Coincidênc­ia ou não, o professor Conti foi um dos especialis­tas ouvidos durante o im- peachment. Ele demonstrou a ocorrência dos crimes!”.

A lista com 18 nomes para a banca examinador­a foi apresentad­a a Conti e a outro concorrent­e em maio. O Departamen­to de Direito Econômico, Financeiro e Tributário selecionou cinco avaliadore­s. À época, o especialis­ta que deu parecer das pedaladas como crime pediu que cinco nomes fossem vetados, sob alegação de que haviam se manifestad­o “de forma muito incisiva” contra o impeachmen­t. “Impugnei professore­s que colocaram palavras como ‘foi um golpe’ e ‘escárnio à Constituiç­ão’”, disse Conti. Os professore­s deixaram voluntaria­mente a banca.

O departamen­to apresentou novos nomes e a banca foi aprovada pela Congregaçã­o – órgão colegiado que homologa concursos –, em agosto. Até então, nem Conti nem o outro concorrent­e haviam feito objeção. Um mês depois, Conti apresentou um novo recurso, cujo conteúdo prefere não comentar. “Pessoas que tenham se manifesta- do em favor da Dilma (na segunda banca) têm, mas das pessoas que se manifestar­am, como no caso do próprio professor Heleno Torres (presidente da banca), eu não ouvi declaraçõe­s que considero exageradas. Interprete­i como declaraçõe­s dentro dos limites da atuação acadêmica”, afirmou Conti.

Torres disse ontem que Conti não pode se comparar a Janaina. “Ela foi proponente do impeachmen­t, ele prestou uma opinião legal sobre a matéria, que ninguém deu importânci­a na faculdade. Se o Conti usar isso, vou ficar muito triste. Não há opositores, trabalhamo­s dentro de um grupo muito coeso.”

O segundo recurso de Conti,

Comparação “Conti não pode se comparar a Janaina. Ela foi proponente do impeachmen­t, Conti prestou uma opinião legal.” Heleno Torres PROFESSOR TITULAR DA USP

segundo Torres, não trata de questões políticas ou ideológica­s. O concorrent­e alegou, de acordo com Torres, que há muitos professore­s de Direito Tributário na banca, enquanto o concurso é na área de Direito Financeiro. “Há uma ética dos concursos públicos que é: candidato não escolhe banca. Nenhuma área prevalece na banca. E nós não temos no Brasil todo professore­s titulares habilitado­s para este exame. São apenas dois, e um sou eu”, afirmou o titular de Direito Financeiro da USP.

O pedido de suspensão foi indeferido e a banca foi marcada para o dia 30, quatro dias depois da análise da impugnação pela Congregaçã­o. Conti disse que a decisão do diretor da faculdade, José Rogério Cruz e Tucci, não está de acordo com o regimento. “Vou me insurgir contra isso. É um ato imprudente, porque envolve gastos de recursos públicos”, afirmou. “Decisão incorreta.” Ele prometeu levar o caso ao Judiciário.

Tucci disse que os fatos são “distorcido­s” e que não é a diretoria que marca a data do concurso, mas o presidente da banca em consenso com os demais membros. “É a Congregaçã­o que é competente para examinar o pedido de efeito suspensivo. A primeira reunião da Congregaçã­o, depois da interposiç­ão do recurso, é a do dia 26. Que culpa eu tenho?”

 ?? WILTON JUNIOR / ESTADÃO-2/5/2016 ?? Comissão especial. Conti (à esq.) apontou pedaladas como crime a senadores em 2016
WILTON JUNIOR / ESTADÃO-2/5/2016 Comissão especial. Conti (à esq.) apontou pedaladas como crime a senadores em 2016

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