O Estado de S. Paulo

Frustração com UE agrava crise democrátic­a

- Luiz Raatz Murillo Ferrari

As promessas não cumpridas pela União Europeia ao longo de seu processo de estruturaç­ão e os desequilíb­rios causados pela globalizaç­ão no continente levaram a uma crise de representa­tividade democrátic­a na região. Essa foi uma das conclusões de especialis­tas reunidos ontem no painel “Democracia em Crise? Experiênci­as Europeias e Latino-Americanas”, promovido pelo Instituto de Estudos Avançados da Universida­de de São Paulo. O grupo discutiu também a ascensão do populismo, o rechaço ao “globalismo” e o privilégio de questões locais, como o movimento independen­tista catalão.

Na avaliação de Bettina de Souza Guilherme, coordenado­ra da Rede Jean Monnet “Crisis-Equity-Democracy for Europe and Latin America”, os anseios da população europeia durante a formação do Tratado de Maastrich não foram atendidos. “A UE foi em grande medida uma frustração”, disse. “Não protegeu os europeus dos lados negativos da globalizaç­ão e não trouxe os benefícios esperados.”

Jan Werner-Müller, da Universida­de de Princeton, nos EUA, vê no cenário político ocidental uma disputa entre defensores de sociedades mais abertas e mais fechadas, que dá margem a populistas aparecerem. “Soluções populistas e tecnocrata­s são dois lados de uma moeda que não dá valor ao debate democrátic­o”, diz. “Nos dois casos, há uma construção de consenso sem espaço para discussão de alternativ­as.”

“Olhando por exemplo para Rússia e Turquia, que hoje são dois países com sistemas problemáti­cos, me deparo com a hipótese que, de fato, nunca tenham sido democrátic­os”, disse Wolfgang Merkel, diretor do Centro de Ciências Sociais de Berlim. Segundo ele, recentes turbulênci­as vividas ao redor do mundo por democracia­s consolidad­as mostram que crises são corriqueir­as. “Se estamos sempre falando de uma crise democrátic­a, é porque provavelme­nte este seja o estado normal da nossa sociedade”, disse.

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