Recuperação judicial
Oi protocola 3ª versão de seu plano na Justiça
Após duas tentativas frustradas, a Oi protocolou ontem a terceira versão de seu plano de recuperação judicial na Justiça do Rio. A nova proposta da ex-supertele nacional conta, mais uma vez, com uma boa dose de ajuda do governo na renegociação de débitos bilionários com os bancos públicos e na conversão de R$ 11 bilhões em multas aplicadas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) em investimentos. A aceitação ou não do novo plano da Oi é acompanhada de perto por investidores externos que ainda têm interesse em assumir o negócio com soluções alternativas.
Entre os grupos que “correm por fora” e querem se apresentar como alternativa ao plano liderado pelo fundo Société Mondiale – encabeçado pelo empresário Nelson Tanure – está a China Telecom. Terceira maior operadora chinesa, ela se associou ao americano Texas Pacific Group na empreitada. As duas empresas ainda estudam a melhor forma de levar a Oi, mas a tendência é que uma proposta seja finalizada até o início de novembro, segundo uma fonte a par das conversas.
A expectativa é que o plano dos chineses inclua investimentos mais generosos na operadora do que os previstos até agora – as injeções de dinheiro novo mais relevantes, por ora, giravam em torno de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 6,4 bilhões). O grupo, que tem o apoio do China Development Bank, teria contratado a consultoria McKinsey e o banco Goldman Sachs como assessores, apurou o Estado.
O governo está ciente do interesse dos chineses. Jin-Yong Cai, sócio do TPG responsável pela modelagem da proposta do grupo para a Oi, esteve em Brasília no fim de agosto com representantes da China Telecom. Uma das reuniões foi com o presidente da Anatel, Juarez Quadros. Procurados, McKinsey, Goldman Sachs e TPG não comentaram.
Grupos que já haviam se apresentado como interessados na Oi, como os fundos Cerberus e Elliott, não desistiram de suas propostas. A ideia inicial do Cerberus, porém, é vista como muito agressiva e com poucas chances de prosperar. Ela inclui US$ 2 bilhões em investimentos na Oi, mas prevê descontos altos
na dívida, o que deixaria o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), a Caixa e o Banco do Brasil em situação desconfortável.
O terceiro plano de recuperação da Oi prevê injeção de R$ 9 bilhões na tele, sendo R$ 6 bilhões de dinheiro novo – R$ 2,5 bilhões de acionistas e R$ 3,5 bilhões de credores. Outros R$ 3 bilhões viriam de conversão de dívida em ações, com a entrega de 15% a 25% das ações para os bondholders em até dois anos. Fontes, no entanto, afirmam que não está claro se essa pro- posta será viável na prática.
Disputa. As propostas de grupos como China Telecom, Elliott e Cerberus, que estão fora da companhia, devem enfrentar resistência dos atuais sócios – incluindo o fundo capitaneado por Tanure –, que tentam se proteger dos “novos entrantes”. Isso acontece porque os planos dos fundos e empresas dispostos a investir na operadora preveem a diluição da participação dos atuais acionistas. Segundo uma fonte, a fatia dos sócios atuais seria reduzida a um décimo do valor atual caso um acordo externo seja fechado.
A Oi é protagonista do maior processo de recuperação judicial do País – hoje, a dívida da companhia é de R$ 64,5 bilhões. A primeira versão do plano foi apresentada em setembro de
2016, enquanto a segunda ficou pronta em março. Nas duas primeiras tentativas, a companhia não conseguiu convencer seus credores – de bancos nacionais ao um heterogêneo grupo de detentores de títulos – de que conseguiria pavimentar o caminho rumo à recuperação.
Essa dificuldade em convencer que a empresa é viável tornou a intervenção do governo na Oi uma possibilidade concreta – embora o Planalto insista de que esse caminho só será tomado “em último caso”. A advogada-geral da União, Grace Men-
donça, busca saídas legais para ajudar a companhia – uma alternativa seria repactuar as dívidas, disse Grace na terça-feira, destacando que ainda não há martelo batido. Há, dentro do governo, a noção de que uma intervenção poderia atrair compradores para a companhia, embora haja vozes contrárias à medida.
Em nota, a Oi disse que agora vê chance de “avançarem as discussões com instituições e autarquias públicas” e “com as autoridades e regulador”. /