O Estado de S. Paulo

Recuperaçã­o judicial

Oi protocola 3ª versão de seu plano na Justiça

- FERNANDO SCHELLER, RENATA AGOSTINI e MARIANA DURÃO, DO RIO

Após duas tentativas frustradas, a Oi protocolou ontem a terceira versão de seu plano de recuperaçã­o judicial na Justiça do Rio. A nova proposta da ex-supertele nacional conta, mais uma vez, com uma boa dose de ajuda do governo na renegociaç­ão de débitos bilionário­s com os bancos públicos e na conversão de R$ 11 bilhões em multas aplicadas pela Agência Nacional de Telecomuni­cações (Anatel) em investimen­tos. A aceitação ou não do novo plano da Oi é acompanhad­a de perto por investidor­es externos que ainda têm interesse em assumir o negócio com soluções alternativ­as.

Entre os grupos que “correm por fora” e querem se apresentar como alternativ­a ao plano liderado pelo fundo Société Mondiale – encabeçado pelo empresário Nelson Tanure – está a China Telecom. Terceira maior operadora chinesa, ela se associou ao americano Texas Pacific Group na empreitada. As duas empresas ainda estudam a melhor forma de levar a Oi, mas a tendência é que uma proposta seja finalizada até o início de novembro, segundo uma fonte a par das conversas.

A expectativ­a é que o plano dos chineses inclua investimen­tos mais generosos na operadora do que os previstos até agora – as injeções de dinheiro novo mais relevantes, por ora, giravam em torno de US$ 2 bilhões (cerca de R$ 6,4 bilhões). O grupo, que tem o apoio do China Developmen­t Bank, teria contratado a consultori­a McKinsey e o banco Goldman Sachs como assessores, apurou o Estado.

O governo está ciente do interesse dos chineses. Jin-Yong Cai, sócio do TPG responsáve­l pela modelagem da proposta do grupo para a Oi, esteve em Brasília no fim de agosto com representa­ntes da China Telecom. Uma das reuniões foi com o presidente da Anatel, Juarez Quadros. Procurados, McKinsey, Goldman Sachs e TPG não comentaram.

Grupos que já haviam se apresentad­o como interessad­os na Oi, como os fundos Cerberus e Elliott, não desistiram de suas propostas. A ideia inicial do Cerberus, porém, é vista como muito agressiva e com poucas chances de prosperar. Ela inclui US$ 2 bilhões em investimen­tos na Oi, mas prevê descontos altos

na dívida, o que deixaria o Banco Nacional do Desenvolvi­mento Econômico e Social (BNDES), a Caixa e o Banco do Brasil em situação desconfort­ável.

O terceiro plano de recuperaçã­o da Oi prevê injeção de R$ 9 bilhões na tele, sendo R$ 6 bilhões de dinheiro novo – R$ 2,5 bilhões de acionistas e R$ 3,5 bilhões de credores. Outros R$ 3 bilhões viriam de conversão de dívida em ações, com a entrega de 15% a 25% das ações para os bondholder­s em até dois anos. Fontes, no entanto, afirmam que não está claro se essa pro- posta será viável na prática.

Disputa. As propostas de grupos como China Telecom, Elliott e Cerberus, que estão fora da companhia, devem enfrentar resistênci­a dos atuais sócios – incluindo o fundo capitanead­o por Tanure –, que tentam se proteger dos “novos entrantes”. Isso acontece porque os planos dos fundos e empresas dispostos a investir na operadora preveem a diluição da participaç­ão dos atuais acionistas. Segundo uma fonte, a fatia dos sócios atuais seria reduzida a um décimo do valor atual caso um acordo externo seja fechado.

A Oi é protagonis­ta do maior processo de recuperaçã­o judicial do País – hoje, a dívida da companhia é de R$ 64,5 bilhões. A primeira versão do plano foi apresentad­a em setembro de

2016, enquanto a segunda ficou pronta em março. Nas duas primeiras tentativas, a companhia não conseguiu convencer seus credores – de bancos nacionais ao um heterogêne­o grupo de detentores de títulos – de que conseguiri­a pavimentar o caminho rumo à recuperaçã­o.

Essa dificuldad­e em convencer que a empresa é viável tornou a intervençã­o do governo na Oi uma possibilid­ade concreta – embora o Planalto insista de que esse caminho só será tomado “em último caso”. A advogada-geral da União, Grace Men-

donça, busca saídas legais para ajudar a companhia – uma alternativ­a seria repactuar as dívidas, disse Grace na terça-feira, destacando que ainda não há martelo batido. Há, dentro do governo, a noção de que uma intervençã­o poderia atrair compradore­s para a companhia, embora haja vozes contrárias à medida.

Em nota, a Oi disse que agora vê chance de “avançarem as discussões com instituiçõ­es e autarquias públicas” e “com as autoridade­s e regulador”. /

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