O Estado de S. Paulo

Apertando os botões certos

- ZEINA LATIF E-MAIL: ZEINA.LATIF@TERRA.COM.BR ZEINA LATIF ESCREVE ÀS QUINTAS-FEIRAS ECONOMISTA-CHEFE DA XP INVESTIMEN­TOS

Os últimos 15 anos foram de retrocesso no setor elétrico, com investimen­tos questionáv­eis e regulação equivocada. O governo Dilma agravou o quadro de forma surpreende­nte. Não faltaram alertas dos especialis­tas. Faltou diálogo e sobrou incompetên­cia.

Segundo a gestora 3G Radar, a Eletrobrás custou R$ 228 bilhões à União nos últimos 15 anos. O cálculo embute o valor destruído e os prejuízos acumulados pelas distribuid­oras, e exclui dívidas adicionais assumidas (a dívida bruta saltou R$ 18 bilhões desde 2012). As perdas decorrem de mau gerenciame­nto e ine- ficiências, como a participaç­ão em projetos por imposição governamen­tal – Belo Monte, Jirau, Santo Antônio e Angra 3. A infame MP 579 de 2012 de Dilma cobrou preço alto ao obrigar a empresa a renovar as concessões de um terço de seu parque gerador em troca de uma receita subestimad­a.

Ainda que o cálculo possa estar superestim­ado, impression­a a ordem de grandeza. Para se ter uma ideia, o valor de mercado da Eletrobrás está em menos de R$ 30 bilhões (exclui dívidas).

A MP 579 foi um desastre para o setor. Ao reduzir de forma artificial as tarifas de energia elétrica (em 20%), gerou enormes perdas para as empre- sas, inibiu investimen­tos e produziu um desequilíb­rio entre oferta e demanda de energia. Deu no que deu: o “tarifaço” de 2015 e a maior vulnerabil­idade do País a crises hídricas.

Estima-se que a MP 579 e a decisão por não fazer o racionamen­to em 2014, apesar do baixo regime de chuvas, deixou um passivo financeiro de R$ 100 -150 bilhões e uma avalanche de processos na Justiça. Há também o passivo físico, que é o baixo nível dos reservatór­ios das hidrelétri­cas, agravado pelo acionament­o atrasado das termoelétr­icas, que visava a evitar o aumento de tarifas.

O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, iniciou a arrumação. A qualidade técnica da equipe resulta em diagnóstic­os cuidadosos e prioridade­s corretas. A habilidade política e a liderança do ministro têm permitido negociar as soluções.

O foco é eliminar distorções do sistema, resgatar eficiência e o realismo ta- rifário, para atrair o investimen­to privado e permitir eficiente alocação de recursos. Para isso, conduz ajuste nos leilões de transmissã­o de energia, enquanto propõe mudanças no marco legal do setor elétrico, com maior acesso ao mercado livre de energia, privatizaç­ão de usinas hidrelétri­cas deficitári­as (que funcionam sob o regime de cotas, com preços baixos) e ajustes na formação de preços, elemento essencial para a volta de investimen­tos. Ocorrem avanços regulatóri­os importante­s também em mineração e óleo e gás.

Aqui um elemento crucial: o diálogo com as partes envolvidas.

Na Eletrobrás houve completa reorientaç­ão na gestão, com busca de eficiência, ajuste financeiro da empresa e governança. A venda de ativos foi iniciada (privatizaç­ão da Celg), enquanto se discute a desestatiz­ação da empresa, como instrument­o de capitaliza­ção e gestão.

Os resultados começam a aparecer aos poucos, com o sucesso nos leilões de transmissã­o, a volta dos investimen­tos e do interesse do setor privado pelo segmento.

Parte-se de um setor deficitári­o, com elevada imprevisib­ilidade, dependente de recursos subsidiado­s e que repassa suas ineficiênc­ias aos consumidor­es, e caminha-se para um modelo mais eficiente e previsível, como se observa no mundo.

Mas é preciso correr, a começar pela urgência de avançar nas medidas propostas, que dependem de aprovação do Congresso. A combinação de reservatór­ios baixos e atividade econômica em recuperaçã­o exige respostas rápidas.

É necessário avançar na agenda de redução de riscos e custos do setor e de adaptação a novas tecnologia­s, de forma a ampliar o mercado e reduzir o custo da energia.

O impacto dessas reformas nos investimen­tos poderá ser expressivo, dentro e fora do setor, pela sua importânci­a no sistema produtivo.

Quem diria, o ministro político que não era do ramo está consertand­o os estragos feitos pela “gerentona” que se dizia especialis­ta no setor.

Na Eletrobrás houve completa reorientaç­ão na gestão, com busca de eficiência

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