Trump deve exigir mais condições do Irã em pacto
Meio termo. Presidente americano prometeu romper acordo assim que assumisse poder, mas tende a adotar posição intermediária segundo o ‘Washington Post’, recusando-se a certificar que Teerã segue os compromissos e deixando uma definição com o Congresso
O presidente Donald Trump deve anunciar hoje que não certificará o cumprimento pelo Irã das obrigações previstas no pacto sobre o seu programa nuclear. A medida não retira os Estados Unidos do acordo. A definição fica para o Congresso, que terá 60 dias para decidir se restabelece sanções levantadas depois da conclusão das negociações, em 2015. Embora viesse prometendo, desde a campanha presidencial, romper o pacto nuclear, Trump tende agora a fazer demandas adicionais ao Irã.
O presidente Donald Trump deve declarar hoje que não certificará o cumprimento pelo Irã das obrigações previstas no acordo sobre o seu programa nuclear. Embora o líder americano viesse prometendo romper esse pacto, o anúncio de Trump não retira os EUA do acordo, que fica em território incerto. O Congresso terá 60 dias para decidir se restabelece sanções levantadas depois da conclusão das negociações, em 2015.
O anúncio será feito pelo próprio Trump, em discurso no qual apresentará sua estratégia para tentar coibir uma série de atividades do Irã fora de seu programa nuclear. As medidas incluirão sanções contra a Guarda Revolucionária, acusada de apoiar atividades terroristas. “O comportamento imprudente do regime iraniano, e da Guarda Revolucionária em particular, representa uma das mais perigosas ameaças aos interesses dos EUA e à estabilidade regional”, disse a Casa Branca em nota sobre o assunto.
Trump afirma que o acordo nuclear com o Irã é o pior já aprovado pelos EUA. Durante a campanha, ele prometeu que iria revogá-lo assim que chegasse à Casa Branca. Em vez disso, o presidente optou por um caminho intermediário, pelo qual fará demandas adicionais ao Irã, segundo reportagem publicada na edição de ontem do Washington Post.
Os EUA também exigirão um regime de fiscalização mais agressivo das obrigações do Irã previstas no pacto nuclear, entre as quais a inspeção de instalações militares não visitadas até hoje por representantes da Agência Internacional de Energia Atômica. “Nós vamos negar ao regime iraniano todos os caminhos para uma arma nuclear”, ressaltou a Casa Branca.
As duas áreas de preocupação da administração são o desenvolvimento de mísseis balísticos pelo Irã e o fato de o pacto prever prazo de 10 a 15 anos para o fim das restrições às atividades nucleares do país. O governo Trump reconhece que a república islâmica cumpre as exigências técnicas do acordo, mas sustenta que sua atuação no Oriente Médio é desestabilizadora. Durante a Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), os europeus afirmaram que Teerã respeitou até agora suas obrigações e as preocupações dos EUA com o país deveriam ser tratadas fora do pacto nuclear.
A intenção do presidente de abandonar o acordo enfrentou resistência dos principais líderes militares do governo. Em depoimento ao Senado no dia 3, o secretário de Defesa, James Mattis, disse que o pacto aten- de aos interesses de segurança nacional dos Estados Unidos. Negociado com Irã, EUA, China, Rússia, Alemanha, França, Inglaterra e União Europeia, o acordo levanta sanções em troca do congelamento ou reversão de elementos-chave do programa nuclear iraniano.
O processo de certificação pelo presidente não faz parte do acordo internacional. Ele é uma exigência imposta pelo Congresso para supervisionar o cumprimento do pacto. Isso significa que a decisão de Trump não leva à saída dos EUA. Ainda assim, ela pode ter consequências para a credibilidade de Washington. “A retirada da certificação vai minar a integridade e a autoridade dos comprometimentos dos EUA ao redor do mundo”, escreveu Suzanne Maloney, vice-diretora do Centro de Políticas para o Oriente Médio do Brookings Institution. “Ela vai pairar de maneira particularmente acentuada sobre os esforços diplomáticos em torno da Coreia do Norte.”
Philip Gordon, do Council on Foreign Relations, disse que o acordo está funcionando para o que se propõe fazer, que é limitar o programa nuclear do Irã. Em sua opinião, não há nenhuma chance de que a república islâmica concorde em renegociar seus termos. “Há chance de zero de sucesso. Todos os nossos parceiros acreditam que o acordo está funcionando”, afirmou em conferência telefônica sobre o anúncio de hoje.
Crítico do acordo, o especialista em Oriente Médio do Council on Foreign Relations Ray Takeyh disse que há o risco de Trump fazer uma retirada da certificação “Seinfeld”, na qual nada acontece depois da decisão do presidente. Nenhum republicano votou a favor do acordo em 2015, mas alguns deles costumam se alinhar com as posições dos militares americanos, especialmente no Senado, onde o partido tem maioria de apenas dois votos.